Bento XVI comemora 60 anos de sua Ordenação Sacerdotal nesta quarta-feira, 29 de junho, Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo.
"Era um esplêndido dia de verão, que é inesquecível como o momento mais importante da minha vida", define o Papa em sua autobiografia "A Minha Vida", escrita quando ele ainda era Cardeal.
O diretor espiritual do Seminário Arquidiocesano São José, de Niterói (RJ), e presidente da Organização dos Seminários e Institutos do Brasil (Osib) para o Regional Leste 1 da CNBB, padre Demétrio Gomes, explica que, no dia da Ordenação, o sacerdote passa por uma mudança ontológica, isto é, a cerimônia não é apenas a coroação do tempo de estudos dos que se preparam para receber as ordens sagradas. Antes, é dom que Deus concede a quem Ele quer, e que não depende das aptidões e capacidades humanas:
"Isso significa que o sacerdócio não é apenas nova função, mas provoca uma mudança no próprio ser da pessoa. Os homens que recebem esse Sacramento passam a ser configurados a Cristo Cabeça, a re-presentar, tornar presente o próprio Cristo Senhor no meio dos homens".
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É nessa perspectiva que se insere a necessidade de as pessoas terem a consciência de que o padre, apesar de compartilhar as mesmas misérias e fragilidades com seus outros irmãos, carrega consigo um tesouro incomparável, que o transforma e provoca uma mudança radical no seu próprio ser.
O Papa, em visita à Alemanha em 2006, disse, na Catedral onde recebeu a Ordenação, que essa foi como "a iniciação na comunidade dos amigos de Jesus, aqueles que são chamados a estar com Ele e a anunciar a sua mensagem". Essa visão de amizade com o Senhor é imprescindível para que o padre possa viver a santidade própria de seu estado de vida.
"A amizade com Cristo gera a santidade do sacerdote. Se ele não for um homem profundamente enraizado na vida de intimidade com seu Senhor, não terá o que transmitir. Ninguém dá o que não tem. O sacerdote só tem algo a comunicar se antes fez a experiência de ser amigo de Cristo, se tem uma profunda vida de oração, vivência da Palavra de Deus. Aí surge o apostolado sacerdotal como transbordamento dessa vida interior", complementa.
Beleza e verdade
Há dois temas particularmente caros ao Pontificado de Bento XVI: beleza e verdade. E seu ensinamento tem ressoado tanto no interior da Igreja quanto no mundo.
"Certa vez, quando ainda era Cardeal Ratzinger, ele escreveu que uma das melhores maneiras de convencer o mundo acerca da autenticidade do Cristianismo, um dos maiores signos de credibilidade não seria tanto a argumentação racional, ainda que necessária, mas o testemunho da beleza e vida dos santos", conta padre Demétrio.
Para Bento XVI, a beleza é particularmente importante no que diz respeito ao culto da Igreja, algo infelizmente incompreendido, como se fosse mero esteticismo litúrgico, preocupação com o exterior, segundo o presidente da Osib – Regional Leste 1 da CNBB.
"Antes, se deseja que a beleza, que é reflexo da santidade, seja o grande testemunho da Igreja em meio aos homens. O testemunho da beleza converte, pois Deus é o belo dos belos. Essa beleza reflete-se também no interior da Igreja, na celebração da Liturgia, nas obras de arte que nascem no seio da Igreja. Infelizmente, vai se perdendo o apreço pelo belo, e vão-se deformando igrejas, cantos, liturgias, com o risco de que tudo isso não tansmita a Deus, que é o belo em pessoa", alerta.
O sacerdote também afirma que vivemos imersos em uma cultura que deseja fazer os homens acreditarem que não existem valores perenes; antes, tudo seria meramente fruto de consenso cultural. A esse fenômeno dá-se o nome de relativismo.
"Logo, tudo é permitido. O Papa tem lembrado vez por outra que existe a verdade, que a Verdade se fez homem e habitou em meio aos homens. E que o conhecimento dessa verdade nos libertará. É um tema recorrente. Tudo isso tem fundo metafísico bastante profundo, o verum e o belum. Tudo isso é reflexo de Deus, o próprio Deus, que é a verdade, que é a beleza", finaliza.