Audiência à 19ª Assembleia Geral da Caritas Internationalis
Sala Clementina
27 de maio de 2011
Senhores Cardeais,
Venerados irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Queridos irmãos e irmãs.
Alegra-me ter esta oportunidade de encontrar-me convosco por ocasião de vossa Assembleia Geral. Agradeço ao Cardeal Óscar Rodríguez Maradiaga, Presidente da Caritas Internationalis, pelas amáveis palavras que me dirigiu, também em vosso nome, e dirijo uma cordial saudação a todos os vossos e a toda a família da Caritas. Além disso, asseguro-vos minha gratidão e formulo meus melhores votos na oração pelas obras de caridade cristã que levais a cabo em países de todo o mundo.
O primeiro motivo de nosso encontro de hoje é o de agradecer a Deus pelas numerosas graças que concedeu à Igreja nos sessenta anos transcorridos desde a fundação da Caritas Internationalis. Após os horrores e devastações da Segunda Guerra Mundial, o Venerável Pio XII quis mostrar a solidariedade e a preocupação de toda a Igreja diante de tantas situações de conflito e emergência no mundo. E o fez dando vida a um organismo que promovesse no âmbito da Igreja universal uma maior comunicação, coordenação e colaboração entre as numerosas organizações caritativas da Igreja nos diversos continentes (cf. Quirógrafo Durante l’Ultima Cena, 16 de setembro de 2004, 1). Mais tarde, o Beato João Paulo II fortaleceu ulteriormente os vínculos existentes entre as diferentes agências nacionais da Caritas, e entre essas e a Santa Sé, outorgando à Caritas Internationalis a personalidade jurídica canônica pública (ibid., 3). Como consequência disso, Caritas Internationalis adquiriu um papel particular no coração da comunidade eclesial, e foi chamada a compartilhar, em colaboração com a hierarquia eclesiástica, da missão da Igreja de manifestar, através da caridade vivida, esse amor que é Deus mesmo. Desse modo, Caritas Internationalis, dentro da finalidade própria que tem assinalada, executa em nome da Igreja uma tarefa específica em favor do bem comum (cf. C.I.C., can. 116, § 1).
Estar no coração da Igreja; ser capaz, de certo modo, de falar e atuar em seu nome, em favor do bem comum, traz consigo particulares responsabilidades dentro da vida cristã, tanto pessoal quanto comunitária. Somente sobre as bases de um compromisso cotidiano de acolher e viver plenamente o amor de Deus pode-se promover a dignidade de cada ser humano. Em minha primeira encíclica, Deus caritas est, quis reafirmar a centralidade do testemunho da caridade para a Igreja de nosso tempo. Através de tal testemunho, tornado visível na vida cotidiana de seus membros, a Igreja chega a milhões de homens e mulheres, fazendo possível que reconheçam e percebam o amor de Deus, que é sempre próximo a toda a pessoa necessitada. Para nós, os cristãos, Deus mesmo é a fonte da caridade, e a caridade deve-se entender não somente como uma filantropia genérica, mas como dom de si, inclusive até o sacrifício da própria vida em favor dos demais, imitando o exemplo de Cristo. A Igreja prolonga no tempo e no espaço a missão salvadora de Cristo: quer chegar a todo ser humano, movida pelo desejo de que cada pessoa chegue a conhecer que nada pode separá-la do amor de Cristo (cf. Rm 8,35).
Caritas Internationalis é distinta de outras agências sociais porque é um organismo eclesial, que compartilha a missão da Igreja. Isso é o que os Pontífices quiseram sempre e isso é o que a vossa Assembleia Geral deve afirmar com força. Nesse sentido, deve-se observar que Caritas Internationalis está constituída fundamentalmente por várias Caritas nacionais. Diferentemente de tantas instituições e associações eclesiais dedicadas à caridade, as Caritas possuem uma característica distintiva: apesar da variedade de formas canônicas assumidas pelas Caritas nacionais, todas são um auxílio privilegiado para os bispos em seu exercício da caridade. Isso comporta uma especial responsabilidade eclesial: a de deixar-se guiar pelos Pastores da Igreja. A partir do momento em que Caritas Internationalis tem um perfil universal e está dotada de personalidade jurídica canônica pública, a Santa Sé tem o dever de acompanhar sua atividade e de vigiar para que, tanto sua ação humana e de caridade quanto o conteúdo dos documentos que difunde, estejam em plena sintonia com a Sé Apostólica e com o Magistério da Igreja, e para que se administre com competência e de modo transparente. Essa identidade distintiva é a força da Caritas Internationalis, e é o que faz a sua atividade particularmente eficaz.
Além disso, gostaria de sublinhar que vossa missão leva a desenvolver um importante papel no plano internacional. A experiência que tendes adquirido nestes anos ensinou a tornar-vos porta-vozes diante da comunidade internacional de uma sadia visão antropológica, alimentada pela doutrina católica e comprometida na defesa da dignidade de cada vida humana. Sem um fundamento transcendente, sem una referência a Deus criador, sem a consideração de nosso destino terreno, corremos o risco de cair nas mãos de ideologias daninhas. Tudo o que digais e façais, o testemunho de vossa vida e de vossas atividades, são importantes e contribuem para promover o bem integral da pessoa humana. Caritas Internationalis é uma organização que tem o papel de favorecer a comunhão entre a Igreja universal e as Igrejas particulares, bem como a comunhão entre todos os fiéis no exercício da caridade. Ao mesmo tempo, está chamada a oferecer sua própria contribuição para levar a mensagem da Igreja à vida política e social no plano internacional. Na esfera política – e em todas aquelas áreas que se referem diretamente à vida dos pobres – os fiéis, especialmente os leigos, gozam de una ampla liberdade de ação. Ninguém pode, em matérias abertas à discussão livre, pretender falar "oficialmente" em nome de todos os leigos ou de todos os católicos (cf. Con. Ecum. Vat. II, Gaudium et Spes, 43; 88). Por outro lado, cada católico, na verdade cada homem, está chamado a atuar com consciência purificada e com coração generoso para promover de maneira decidida aqueles valores definidos continuamente como "não negociáveis".
Caritas Internationalis está chamada, portanto, a trabalhar para converter os corações a uma maior abertura aos demais, para que cada um, em pleno respeito de sua própria liberdade e no pleno assumir das próprias responsabilidades pessoais, possa agir sempre e em todas as partes em favor do bem comum, oferecendo generosamente o melhor de si mesmo ao serviço dos irmãos e irmãs, em particular os mais necessitados. Por conseguinte, nesta ampla perspectiva, e em estreita colaboração com os Pastores da Igreja, responsáveis últimos de dar testemunho da caridade (cf. Deus caritas est, 32), as Caritas nacionais estão chamadas a continuar seu fundamental testemunho do mistério do amor vivificante e transformador de Deus manifestado em Jesus Cristo. Igualmente pode-se dizer também da Caritas Internationalis, que com vistas a executar a própria missão, pode contar com a assistência e o apoio da Santa Sé, particularmente através do Dicastério competente, o Pontifício Conselho Cor Unum.
Queridos amigos, confiando essas preocupações à vossa reflexão, agradeço-vos novamente pelo vosso compromisso generoso a serviço de nossos irmãos necessitados. A vós, a vossos colaboradores e a todos aqueles que estão comprometidos no amplo mundo das obras de caridade católica, concedo de coração minha Bênção Apostólica, penhor de força e de paz no Senhor.