Os acontecimentos dos últimos dias revelam o lado crítico da habitação no Brasil. Milhões de brasileiros moram em áreas de risco e não encontram alternativas para conviver em harmonia com a natureza.
Como é enfrentar uma situação de extremo risco? Ao 66 anos, Agenir passa o dia vigiando o rio. Em menos de uma semana, a água subiu cinco metros e ameaça entrar na casa, construida em uma das margens.
Milhares de brasileiros ocupam áreas impróprias do Rio Paraíba do Sul, que corta três estados brasileiros: São Paulo, Minas e Rio de Janeiro
O sociólogo Alacir Arruda criou uma ONG de assistência a famílias que moram em áreas de risco. Ele nos acompanhou em uma visita a uma dessas comunidades. O local é de difícil acesso e, apesar de ficar a poucos quilômetros do centro da cidade, o cenário é de abandono.
Em Aparecida, no interior de São Paulo, os problemas são os mesmos. Milhares de pessoas ocupam hoje as margens do rio.
Os rios têm mais de um caminho. Um para o período normal e outro para correr durante as grandes chuvas quando eles precisam de muito espaço. Por isso. construir às margens é proibido por serem áreas que alagam fácil.
Outro problema: as construções nas encostas. A retirada da vegetação enfraquece o solo e, quando vem a chuva, ele desliza em forma de avalanche carregando o que encontra pelo caminho. Nas imagens é possível ver como a urbanização avança para as áreas de montanhas.
Uma creche do governo do Estado está sendo construída em baixo de uma barranco instável. Até agora nenhuma barreira foi feita para conter um possível deslizamento.
A estimativa é que no Brasil cerca de sete milhões de pessoas vivam de forma irregular e esse número pode crescer cada vez mais. O crescimento urbano acelerado empurra a população carente para áreas sem nenhuma infraestrutura para oferece segurança e conforto para os moradores.
Aqui a força da natureza foi fatal. Cinco mortos, três de uma mesma família. Ao todo 130 casas foram interditadas. Uma delas é a de seu Geraldo. Ele era vizinho das pessoas que morreram e por pouco não teve sua casa arrastada pela lama.
Onde viver se torna arriscado. Sobreviver pode ser aprendizado. As mortes no Rio de Janeiro revelaram um realidade cruel: todos os anos pessoas pagam, com a vida, a falta de investimento e a omissão. A natureza vai continuar querendo seu espaço de volta. E até quando cenas como essas serão reproduzidas?
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