Queridos irmãos e irmãs!
Hoje, desejo recordar convosco a Viagem Apostólica a Santiago de Compostela e Barcelona, que tive a alegria de fazer no sábado e domingo passados. Dirigi-me até lá para confirmar na fé os meus irmãos (cf. Lc 22,32); fi-lo como testemunha de Cristo Ressuscitado, como semeador da esperança que não defrauda e não engana, porque tem a sua origem no infinito amor de Deus por todos os homens.
A primeira etapa foi em Santiago. Desde a cerimônia de boas vindas, pude experimentar o afeto que o povo da Espanha nutre com relação ao Sucessor de Pedro. Fui acolhido verdadeiramente com grande entusiasmo e calor. Neste Ano Santo Compostelano, desejei fazer-me peregrino juntamente com quantos, numerosíssimos, dirigem-se àquele célebre Santuário. Pude visitar a "Casa do Apóstolo Tiago o Maior", o qual continua a repetir, a quem ali chega necessitado de graça, que, em Cristo, Deus veio ao mundo para reconciliá-lo consigo, não imputando aos homens as suas culpas.
Na imponente Catedral de Compostela, dando, com emoção, o tradicional abraço ao Santo, pensei em como este gesto de acolhida e amizade é também um modo de expressas a adesão à sua palavra e participação na sua missão. Um sinal forte da vontade de configurar-se à mensagem apostólica, a qual, de um lado, compromete-nos a sermos fiéis guardiões da Boa Nova que os Apóstolos transmitiram, sem ceder à tentação de alterá-la, diminuí-la ou desviá-la com outros interesses, e, por outro, transforma cada um de nós em anunciadores inestancáveis da fé em Cristo, com a palavra e o testemunho da vida em todos os campos da sociedade.
Vendo o número de peregrinos presentes na Santa Missa Solene que tive a grande alegria de presidir em Santiago, meditei sobre o que impele tanta gente a deixar as ocupações cotidianas e começar o caminho penitencial rumo a Compostela, um caminho diversas vezes longo e cansativo: é o desejo de chegar à luz de Cristo, que desejam no profundo do seu coração, também se frequentemente não o sabem expressar bem em palavras. Nos momentos de desorientação, de busca, de dificuldade, bem como na aspiração a reforçar a fé e a viver de modo mais coerente, os peregrinos em Compostela empreendem um profundo itinerário de conversão em Cristo, que assumiu em si a debilidade, o pecado da humanidade, as misérias do mundo, levando-o até onde o mal não tem mais poder, onde a luz do bem ilumina tudo. Trata-se de um povo de silenciosos caminhantes, provenientes de toda a parte do mundo, que descobrem a antiga tradição medieval e cristã da peregrinação, atravessando vilas e cidades permeadas de catolicismo.
Naquela solene Eucaristia, vivida por tantíssimos fiéis presentes com intensa participação e devoção, pedi com fervor que quantos se dirijam em peregrinação a Santiago possam receber o dom de tornarem-se verdadeiros testemunhas de Cristo, que redescobriram nas encruzilhadas das sugestivas estradas rumo a Compostela. Rezei também para que os peregrinos, seguindo os passos de numerosos Santos que, ao longo dos séculos, fizeram o "Caminho de Santiago", continuem a manter vivo o genuíno significado religioso, espiritual e penitencial, sem ceder à banalidade, à distração, às modas. Aquele caminho, entrelaçado por vias que atravessam vastas terras, formando uma rede através da península Ibérica e a Europa, foi e continua a ser lugar de encontro dos homens e mulheres das mais diversas proveniências, unidos pela busca da fé e da verdade sobre si mesmos, e suscita experiências profundas de partilha, fraternidade e solidariedade.
É exatamente a fé em Cristo que dá sentido a Compostela, um lugar espiritualmente extraordinário, que continua a ser ponto de referência para a Europa de hoje nas suas novas configurações e perspectivas. Conservar e reforçar a abertura ao transcendente, assim como um diálogo fecundo entre fé e razão, entre política e religião, entre economia e ética, permitirá construir uma Europa que, fiel às suas imprescindíveis raízes cristãs, possa responder plenamente à própria vocação e missão no mundo. Por isso, certo das imensas possibilidades do Continente europeu e confiante em um futuro de esperança, convidei a Europa a abrir-se sempre mais a Deus, favorecendo assim as perspectivas de um autêntico encontro, respeitoso e solidário, com as populações e as civilizações dos outros Continentes.
Domingo, então, tive a alegria verdadeiramente grande de presidir, em Barcelona, a Dedicação da Igreja da Sagrada Família, que declarei Basílica Menor. Ao contemplar a grandiosidade e a beleza daquele edifício, que convida a elevar o olhar e a alma para o Alto, para Deus, recordei as grandes construções religiosas, como as catedrais da idade média, que assinalaram profundamente a história e a fisionomia das principais Cidades da Europa. Aquela esplêndida obra – riquíssima de simbologia religiosa, preciosa no entrelaçamento das formas, fascinante no jogo das luzes e das cores -, quase uma imensa escultura em pedra, fruto da fé profunda, da sensibilidade espiritual e do talento artístico de Antonio Gaudí, refere ao verdadeiro santuário, o lugar do culto real, o Céu, onde Cristo entrou para se apresentar intercessor nosso ante a face de Deus (cf. Hb 9,24). O genial arquiteto, naquele magnífico tempo, soube representar admiravelmente o mistério da Igreja, à qual os fiéis são incorporados com o Batismo como pedras vivas para a construção de um edifício espiritual (cf. 1 Pe 2,5).
A Igreja da Sagrada Família foi concebida e projetada por Gaudí como uma grande catequese sobre Jesus Cristo, como um cântico de louvor ao Criador. Naquele edifício tão imponente, ele colocou a própria genialidade ao serviço do belo. De fato, a extraordinária capacidade expressiva e simbólica das formas e dos motivos artísticos, bem como as inovadoras técnicas arquitetônicas e de escultura, evocam a Fonte suprema de toda a beleza. O famoso arquiteto considerou esse trabalho como uma missão na qual foi envolvida toda a sua pessoa. Desde o momento em que aceitou o encargo da construção daquela igreja, a sua vida foi marcada por uma transformação profunda. Começou assim uma intensa prática de oração, jejum e pobreza, advertindo para a necessidade de preparar-se espiritualmente para expressar na realidade material o mistério insondável de Deus. Pode-se dizer que, enquanto Gaudí trabalhava na construção do templo, Deus construía nele o edifício espiritual (cf. Ef 2, 22), reforçando-o na fé e aproximando-o sempre mais à intimidade de Cristo. Inspirando-se continuamente na natureza, obra do Criador, e dedicando-se com paixão em conhecer a Sagrada Escritura e a liturgia, ele soube realizar no coração da cidade um edifício digno de Deus e, por isso mesmo, digno do homem.
Em Barcelona, visitei também a Obra do "Nen Déu", uma iniciativa ultracentenária, muito vinculada àquela Arquidiocese, onde são cuidados, com profissionalismo e amor, crianças e jovens deficientes. As suas vidas são preciosas aos olhos de Deus e nos convidam constantemente a sair do nosso egoísmo. Naquela casa, fui participante da alegria e da caridade profunda e incondicional das irmãs Franciscanas dos Sagrados Corações, do generoso trabalho de médicos, de educadores e de tantos outros profissionais e voluntários, que trabalham com louvável dedicação naquela Instituição. Também abençoei a primeira pedra de uma nova Residência que será parte desta Obra, onde tudo fala de caridade, de respeito da pessoa e da sua dignidade, de alegria profunda, porque o ser humano vale por aquilo que é, e não somente por aquilo que faz.
Enquanto estive em Barcelona, rezei intensamente pelas famílias, células vitais e esperança da sociedade e da igreja. Recordei também aqueles que sofrem, em particular nestes momentos de sérias dificuldades econômicas. Tive presente, ao mesmo tempo, os jovens – que me acompanharam em toda a visita a Santiago e Barcelona com o seu entusiasmo e a sua alegria -, para que descubram a beleza, o valor e o compromisso do matrimônio, no qual um homem e uma mulher formam uma família, que, com generosidade, acolhe a vida e a acompanha da sua concepção até o seu fim natural. Tudo aquilo que se faz para sustentar o matrimônio e a família, para ajudar as pessoas mais necessitadas, tudo isso que acresce a grandeza do homem e a sua inviolável dignidade, contribui para o aperfeiçoamento da sociedade. Nenhum esforço é vão nesse sentido.
Queridos amigos, dou graças a Deus pelos dias intensos que transcorri em Santiago de Compostela e Barcelona. Renovo o meu agradecimento ao Rei e à Rainha da Espanha, aos Príncipes das Astúrias e a todas as Autoridades. Destino ainda uma vez mais o meu pensamento de reconhecimento e afeto aos queridos irmãos Arcebispos daquelas duas Igrejas particulares a aos seus colaboradores, bem como a quantos generosamente se prodigalizaram para que a minha visita naquelas duas maravilhosas Cidades fosse frutuosa. Foram dias inesquecíveis, que permanecem impressos no meu coração! Em particular, as duas Celebrações eucarísticas, cuidadosamente preparadas e intensamente vividas por todos os fiéis, também através dos cantos, tirados tanto da grande tradição musical da Igreja quanto da genialidade de autores modernos, foram momentos de verdadeira alegria interior. Deus recompense a todos, como somente Ele sabe fazê-lo; a Santíssima Mãe de Deus e o Apóstolo São Tiago continuem a acompanhar com a sua proteção o seu caminho. O próximo ano, a Deus aprazendo, irei novamente à Espanha, a Madri, para a Jornada Mundial da Juventude. Confio desde agora à vossa oração essa próvida iniciativa, a fim de que seja ocasião de crescimento na fé para tantos jovens.
Ao final da Catequese, o Papa dirigiu aos peregrinos de língua portuguesa a seguinte saudação:
Queridos peregrinos de língua portuguesa,
particularmente os fiéis vindos do Rio de Janeiro: sede bem vindos! Que essa peregrinação a Roma vos ajude a crescer na esperança, que nasce do amor infinito de Deus pelos homens, e assim possais dar um eloquente testemunho cristão na sociedade. Ide em paz! Obrigado!
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