Palavra do Papa

Discurso de Bento XVI à Pontifícia Academia Eclesiástica

Venerados Irmãos no Episcopado,
Queridos Sacerdotes,

vos acolho sempre com alegria pelo nosso tradicional encontro, que me oferece a ocasião de saudar-vos e encorajar-vos e de propor-vos algumas reflexões sobre o sentido do trabalho nas Representações Pontifícias. Saúdo o presidente, Dom Beniamino Stella, que com dedicação e senso eclesial acompanha a vossa formação e o agradeço pelas palavras que me dirigiu em nome de todos vós. Um grato pensamento a seus Colaboradores e às Irmãs Franciscanas Missionárias do Menino Jesus.

Desejo deter-me brevemente sobre o conceito de representação. Não raramente esse é considerado de modo parcial na compreensão contemporânea: tende-se, de fato, a associá-lo a qualquer coisa meramente exterior, formal, pouco pessoal.

O serviço de representação ao qual vós vos estais preparando é, ao contrário, algo de muito mais profundo porque é participação na solicitude omnium ecclesiarum, que caracteriza o Ministério do Romano Pontífice. É, por isso, realidade eminentemente pessoal, destinada a incidir profundamente naquele que é chamado a desenvolver tal missão particular. Exatamente nessa perspectiva eclesial, o exercício da representação implica a exigência de acolher e alimentar, com especial atenção na própria vida sacerdotal, algumas dimensões, que desejo indicar, embora sumariamente, a fim de que sejam motivo de reflexão no vosso caminho formativo.

Antes de tudo, cultivar uma plena adesão interior à pessoa do Papa, ao seu Magistério e ao Ministério universal; adesão plena, isto é, a quem recebeu a missão de confirmar os irmãos na fé (cf. Lc 22, 32) e "é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade, seja dos Bispos, seja do conjunto dos fiéis" (Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Lumen Gentium, 23). Em segundo lugar, assumir, como estilo de vida e como prioridade quotidiana, um atento cuidado – uma verdadeira "paixão" – pela comunhão eclesial. Ainda, representar o Romano Pontífice significa ter a capacidade de ser uma sólida "ponte", um seguro canal de comunicação entre as Igrejas particulares e a Sé Apostólica: de um lado, colocando à disposição do Papa e de seus colaboradores uma visão objetiva, correta e aprofundada da realidade eclesial e social em que se vive; de outro, comprometendo-se a transmitir as normas, as indicações, as orientações que emanam da Santa Sé, não de maneira burocrática, mas com profundo amor à Igreja e com a ajuda da confiança pessoal pacientemente construída, respeitando e valorizando, ao mesmo tempo, os esforços dos Bispos e o caminho das Igrejas particulares para as quais foi enviado.

Como pode-se intuir, o serviço que vos preparais a desenvolver exige uma dedicação plena e uma disponibilidade generosa a sacrificar, se necessário, intuições pessoais, projetos particulares e outras possibilidades de exercício do ministério sacerdotal. A partir de uma ótica de fé e de resposta concreta ao chamado de Deus – a se nutrir sempre em um intenso relacionamento com o Senhor – isso não degrada a originalidade de cada um, mas, ao contrário, torna-se extremamente gratificante: o esforço de colocar-se em sintonia com a perspectiva universal e com o serviço à unidade da grei de Deus, peculiar do Ministério petrino, é, de fato, capaz de valorizar, de maneira singular, dons e talentos de cada um, segundo aquela lógica que São Paulo bem expressou aos cristãos de Corinto (cf. 1Cor 12, 1-31). Desse modo, o Representante Pontifício – em união aos que com ele colaboram – torna-se verdadeiramente sinal da presença e do amor do Papa. E se isso é um benefício para a vida de todas as Igrejas particulares, o é especialmente naquelas situações particularmente delicadas ou difíceis em que, por diversas razões, a comunidade cristã encontra-se a viver. Trata-se, a bem ver, de um autêntico serviço sacerdotal, caracterizado por uma analogia não remota com a representação de Cristo, típica do sacerdote que, como tal, tem uma intrínseca dimensão sacrifical.

Exatamente daqui deriva o estilo peculiar também do serviço de representação que sois chamados a exercitar diante das Autoridades estatais ou Organizações internacionais. Também nesses âmbitos, de fato, a figura e o modo de presença do Núncio, do Delegado Apostólico, do Observador Permanente, é determinada não somente pelo ambiente em que se trabalha, mas, primeiro e principalmente, por aquele a que se é chamado a representar. Isso coloca o Representante Pontifício em uma posição particular frente aos outros Embaixadores ou Enviados. Ele, de fato, será sempre profundamente identificado, em um sentido sobrenatural, com aquele que representa. O fazer-se porta-voz do Vigário de Cristo poderá ser desafiador, outras vezes extremamente exigente, mas nunca será humilhante ou impessoal.  Torna-se, pelo contrário, uma forma original de realizar a própria vocação sacerdotal.

Queridos Alunos, desejando-vos que a vossa Casa possa ser, como amava dizer o meu predecessor Paulo VI, uma "superior escola de caridade", vos acompanhe a minha oração, enquanto vos confio à intercessão da Beata Virgem Maria, Mater Ecclesiae, e de Santo Antônio Abade, Patrono da Academia. A todos vós e aos vossos queridos, de bom grado concedo a minha Bênção.



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