Entrevista

Pais devem incentivar as vocações, diz D. Orlando

O presidente da Comissão Episcopal pastoral para a Vida e a Familia da CNBB e Arcebispo de Londrina (PR), Dom Orlando Brandes, falou em entrevista ao noticias.cancaonova.com sobre a vocação específica da família e as vocações que surgem no âmbito familiar.

Segundo ele, os pais devem incentivar as vocações, sem impor, mas dar apoio. "A vocação sempre é um chamado e uma resposta pessoal, mas cabe aos pais motivar, se alegrar e, vamos dizer, ajudar o desenvolvimento de uma vocação ou, eles mesmos, serem inspiração desta vocação".

Leia a íntegra

noticias.cancaonova.com: Qual a vocação específica da familia?

Dom Orlando: A família tem a vocação específica de ser comunidade de vida e de amor, assim como é a Santíssima Trindade. A família serve de exemplo, de modelo de comunidade para a Igreja, sendo assim, nós teremos "Igreja família", paróquia com espírito de família e, a própria sociedade, a comunidade internacional é convidada a ser uma grande família. Então, essa é a sua missão e uma comunidade é feita de comunicação, de diálogo, de relacionamento, portanto, de reciprocidade. O grande serviço, a grande vocação e especificidade da família é ser uma comunidade que transmite a vida, que educa para a vida e uma comunidade que, também, ensine as virtudes sociais. A família é um grande bem para a sociedade.

noticias.cancaonova.com: A família deve incentivar as vocações sacerdotais e religiosas?

Dom Orlando: Veja que bonito: "a família, berço das vocações", este até foi o lema do nosso Congresso Nacional da Família no Rio de Janeiro e, depois também, se falou no México sobre isso. A família é o berço, os pais incentivam, não impõe, mas por outro lado, os pais nao devem tirar a vocação de seus filhos, isso é uma coisa muito importante. Segundo, é preciso incentivar essas vocações quando elas existem e, em terceiro lugar, é claro, os pais serem, como que, origem da vocação, isso acontece quando eles vivem engajados na Igreja, quando a família tem espiritualidade, quando eles, em casa, falam bem dos sacerdotes, então, há muitas maneiras dos pais serem motivadores. Claro, a vocação sempre é um chamado e uma resposta pessoal, mas cabe aos pais motivar, se alegrar e, vamos dizer, ajudar o desenvolvimento de uma vocação ou, eles mesmos, serem inspiração desta vocação.

noticias.cancaonova.com: O despertar de novas vocações tem relação direta com a formação religiosa nas famílias?

Dom Orlando: Tem muito porque as crianças aprendem imitando, então, quando a família é engajada e na comunidade tem espiritualidade, aí já está feita uma ponte para a realidade vocacional. Uma família onde não se reza, onde se fala mal da Igreja, onde o Domingo é desrespeitado, onde se vai mais ao shopping do que à Igreja, onde não há nenhum envolvimento com Deus, com a Igreja e, vamos dizer, até pessoalmente, uma questão de fé, pode até surgir vocações sim, mas é bem mais raro, por outro lado, as vocações proliferam onde existe a religião, daí a importancia dos pais transmitirem a religião aos seus filhos.

Uma das grandes defasagens do mundo atual é isso, não se transmite mais, ou com aquela mesma intensidade e com aquele mesmo testemunho, a religião, a fé e os mandamentos de Deus em casa, então a criança vai crescendo consumista, logo aos 12 anos já tem todas as experiências da vida e aí a vocação se torna muito dificil de se originar na família.

Por outro lado, a grande crise hoje é que até a própria vida não está sendo transmitida na família, por isso, a família precisa ser aberta a transmissão da vida e ser fiel à transmissão da religião. "Eu e minha familia serviremos ao Senhor", diz Josué (cf Js 24,15) e a nossa família servirá ao Senhor. A família verdadeira, a primeira Igreja doméstica, os pais, os primeiros sacerdotes, os primeiros catequistas, temos aí muita facilidade para termos mais vocações.

noticias.cancaonova.com: As familias que tem filhos com vocações específicas – como padres e freiras – são privilegiadas?

Dom Orlando: São privilegiadas no sentido de que Deus as abençoou porque elas foram fiéis à vontade Dele, por outro lado, essas famílias não são melhores do que as outras, mas elas são uma motivação para as outras. Assim como Deus escolheu o povo de Israel para ser o sinal do amor de Deus para outros povos, uma família que tem filhos vocacionados não se coloca numa posição de superioridade, mas ela é um sinal, uma motivação, para que outras famílias possam dizer "nós também podemos ter um filho sacerdote, uma filha religiosa". Então essas famílias que recebem essa graça especial, essa generosidade, esse Dom de Deus é para serem sinais, instrumentos, para outras famílias também se alegrarem de ter um filho ou uma filha religiosa.

A graça de Deus é assim, não significa um amor particular por aquela família, mas a graça dada aquela família é em vista de outras famílias, para que as outras também tenham filhos e filhas seguindo a consagracão religiosa, portanto, consagrando a vida à Deus e aos irmãos.

noticias.cancaonova.com: O que as famílias podem fazer para dar mais vocações a Igreja?

Dom Orlando: As famílias para terem filhos vocacionados, isso já começa 20 anos antes dos filhos nascerem, no namoro. Quando um namoro é cristão, os namorados já se abrem para uma possibilidade vocacional. Depois, uma mãe quando está gestando um filho, os salmos dizem que Deus já ajuda uma vocação desde o útero materno, até antes. O útero é um lugar especial, portanto, a gravidez é um momento especial, de inspiração vocacional, quantos vocacionados dizem, "minha mãe, desde pequeno, desde quando estava grávida de mim, me consagrou a Deus". Isso tem força, não de imposição, mas tem força, tem valor.

Depois na infância, uma criança nasce religiosa, ela se encanta com a Eucaristia, se encanta com as histórias bíblicas, com a oração, com a pregação, então é um momento especial de transmissão, de estímulo vocacional, exatamente na infância. Por isso, Infância Missionária, coroinhas, Pastoral da Criança, todas estas pastorais, deveriam e devem ser motivadoras de vocações, junto com a família. Depois vem a Catequese. É claro que os catequistas devem motivar vocações, e os sacerdotes fazer visitas à catequese, porque este é um momento especial de motivar as vocações em nossos filhos e filhas, enquanto ainda estão conosco na Igreja. Depois as visitas às escolas, então, os pais participando também da vida na escola, é claro que a escola tendo os jovens, também pode ser um grande útero, onde nós vamos tendo vocações, inclusive hoje, as universidades.

A oração, a espiritualidade dos pais em casa, os pais que falam bem dos sacerdotes, que participam de grupos de reflexão, de algum movimento. Esses pais já estão sendo pontes, sinalização para que a família seja uma motivadora, incentivadora de vocações, e também os padres visitando as casas, as famílias, isso faz muito bem, a diocese, até mesmo ter um trabalho de animação vocacional, onde as próprias famílias vão sendo visitadas, e muitas iniciativas bonitas surgem, quando também a família é ajudada pela própria pastoral vocacional da diocese e da paróquia.

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