A FAO, Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, abriu hoje, 3, em Roma, sua Conferência de alta segurança para discutir a questão alimentar no mundo. O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, é um dos participantes. Durante seu discurso, Lula defendeu o etanol brasileiro.
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Na abertura do encontro, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, lembrou que 850 milhões de pessoas passam fome. Segundo ele, por causa da crise mundial de alimentos, esse número pode aumentar em 300 milhões. "A produção alimentar tem de aumentar em 50% até 2030 para dar conta de uma demanda crescente", disse.
Ban Ki-Moon lembrou a importância dos programas de assistência alimentar, mas disse que políticas puramente assistenciais não vão resolver o problema da fome no mundo. "Políticas puramente assistenciais não podem funcionar. Devemos eliminar mecanismos que provoquem a distorção da oferta de alimentos no mercado". Ele invocou os países a agirem rápido.
O diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, lamentou que a crise alimentar fosse uma "catástrofe anunciada". "Os recursos para financiar a produção agrícola diminuíram enquanto a população mundial aumentou. Os motivos já estão suficientemente explicados. O que é importante hoje é que é hora de agir. O mundo está numa situação perigosa".
O presidente Lula, rebatendo críticas que afirmam que plantações de de cana-de-açúcar para produção de etanol estariam invadindo a Amazônia, afirmou: "99,7% da cana está a pelo menos 2 mil quilômetros da Floresta Amazônica". Além disso, assinalou: "A produção brasileira de etanol à base de cana-de-açúcar ocupa uma parte muito pequena de terras agricultáveis e não reduz a área de produção de alimentos".
Lula fez um apelo pelo fim da fome e criticou duramente os países que atribuem ao Brasil e às plantações de etanol e biocombustíveis a responsabilidade pela crise nos alimentos no mundo: "Vejo com desolação que muitos dos que responsabilizam o etanol – inclusive o etanol da cana-de-açúcar – pelo alto preço dos alimentos são os mesmos que há décadas mantêm políticas protecionistas, em prejuízo dos agricultores dos países mais pobres e dos consumidores de todo o mundo".
O presidente defendeu o etanol brasileiro, feito da cana-de-açúcar, comparado ao etanol americano, feito de milho. Segundo ele, o etanol da cana gera 8,3 vezes mais energia renovável do que a energia fóssil empregada na sua produção. Ele anunciou para as Nações Unidas que em novembro fará, em São Paulo, a Conferência Internacional de Biocombustíveis, quando serão chamados especialistas e cientistas para um debate técnico sobre o assunto.
Sobre o aquecimento global, outra das questões em discussão no congresso, Lula afirmou: "É lamentável. Não podemos ser irresponsáveis com o futuro dos nossos filhos e netos, com o futuro do planeta. O mundo não pode continuar queimando combustíveis fósseis ao ritmo atual"