Dom Raymundo Damasceno,
na abertura do I Congresso Internacional em Defesa da Vida
Com a 'Quarta-feira de Cinzas' inicia-se o tempo da Quaresma, que se prolonga até a tarde da Quinta-Feira Santa, com a Missa vespertina da Ceia do Senhor.
A Quaresma é tempo de conversão, de mudança de vida para que possamos chegar à Páscoa renovados espiritualmente. O rito da bênção e imposição das cinzas recorda-nos a nossa condição de criaturas mortais e de pecadores e a necessidade de mudança espiritual. A cinza, na tradição judaica, significa luto, dor, penitência. E no século IX, quando já não se usou mais a prática da penitência pública, a Igreja introduziu o rito da bênção e a imposição das cinzas no início da Quaresma.
A cinza é um sacramental, um sinal sagrado que expressa efeitos, de natureza espiritual, que provêm da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, obtidos por intercessão da Santa Igreja. Para receber esses efeitos espirituais é necessário que as pessoas estejam dispostas à conversão e a assumir os compromissos batismais, para celebrarem transformadas, ressuscitadas, a Páscoa de Cristo e a nossa Páscoa.
O texto do Evangelho de São Mateus [Mateus 6,1-6.16-18], que escutamos, apresenta-nos três práticas de piedade – próprias da tradição do povo de Israel, as quais são confirmadas por Jesus, mas que devem ser cumpridas com sinceridade e sem hipocrisia: a esmola, a oração e o jejum.
Jesus convida-nos, nesta Quaresma, a levarmos uma vida mais sóbria, a praticar a esmola, que se traduz na prática da caridade e da justiça para com os mais pobres, como sinal de que não somos escravos do dinheiro. Convida-nos também a rezar e a buscar, a exemplo de Jesus, em nossa vida alguns momentos de recolhimento, de encontro pessoal, filial, com Deus Pai. A Bíblia, Palavra de Deus, mestra da oração, deve ser a fonte principal da nossa oração neste tempo quaresmal. Finalmente, Jesus recomenda o jejum. Ele mesmo jejuou quarenta dias antes de iniciar a sua vida pública. O jejum bíblico é um ato essencialmente religioso, deve ser expressão de conversão interior, de volta para Deus, de participação na Paixão de Cristo, de autodomínio e de solidariedade para com os mais pobres.
Hoje também, queridos irmãos e irmãs, no início da Quaresma, a Igreja no Brasil lança a 45ª Campanha da Fraternidade, cujo tema é 'Fraternidade e defesa da vida' e o lema, 'Escolhe, pois, a vida'.
Somos convidados, portanto, a refletir nesta Quaresma sobre o tema da vida. A rejeitar tudo o que atenta contra esse bem primeiro, fundamento de todos os demais direitos da pessoa humana, e a reafirmar nossa opção em favor desse valor sagrado e inviolável desde a concepção até o seu fim natural.
A convivência humana e a própria comunidade política – afirma o Documento final de Aparecida – se fundamenta no reconhecimento desse direito. 'Deus não só nos deu a vida, mas também os meios necessários para garantir a nossa existência terrena. A terra com tudo o que ela contém: plantas, animais, água, ar, é nosso meio ambiente. E é graças a ele que podemos respirar, nos movimentar, alimentar, enfim, viver. O ambiente é nossa casa comum'. Como nos lembrava o Papa Bento XVI, em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, no dia 1º de janeiro deste ano, é esta casa comum que Deus nos deu para usar para o nosso bem-estar, com liberdade e responsabilidade, tendo como critério o bem de todos.
Com o lançamento da Campanha da Fraternidade, deste ano, inicia-se também, em Aparecida (SP), o I Congresso Internacional que tem como lema 'A defesa da vida'.
Devido a um compromisso inadiável, assumido no ano passado na condição de Presidente do CELAM, não poderei participar deste congresso, como seria meu desejo. Como presidente de honra, dou minhas cordiais 'boas-vindas' a todos os participantes deste evento. A Arquidiocese de Aparecida sente-se feliz e agraciada por sediar esse I Congresso Internacional em Defesa da Vida.
Que Nossa Senhora Aparecida acompanhe a todos com a sua materna proteção. E que este congresso possa comprometer a cada um ainda mais na defesa da vida, valor sagrado, bem primeiro que Deus nos deu, valor inviolável desde a concepção até o seu fim natural.
'A vida é vida', dizia Madre Teresa de Calcutá. Defendemo-la com toda coragem, com todo o vigor.
Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo.