Autoridades italianas manifestam apoio ao Papa

O Papa Bento XVI cancelou ontem, 15, a visita programada à mais prestigiosa universidade romana, a La Sapienza, depois de protestos de alunos e professores. É a primeira vez em seu pontificado que ele se vê forçado a cancelar um evento devido a manifestações negativas. Bento XVI havia sido convidado pelo reitor da universidade à inauguração do ano acadêmico, dedicado ao compromisso de abolir a pena de morte no mundo’.

"A Santa Sé considerou oportuno anular a visita do Papa à universidade La Sapienza devido aos conhecidos acontecimentos registrados nos últimos dias", anunciou um comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé.

O protesto teve início com um abaixo-assinado de 67 professores que alegavam que o papa não seria bem-vindo por ser um teólogo que coloca a religião acima da ciência.

O grupo citou um discurso, proferido há quase duas décadas na Universidade pelo então cardeal Joseph Ratzinger, em que ele aparentava justificar o julgamento de Galileu, ocorrido no século XVII. Ele foi considerado herege por defender que a Terra gira em torno do Sol. Seguidores do papa disseram que ele estava apenas citando a opinião de um teólogo austríaco, mas sem concordar com o julgamento de Galileu.

Os estudantes do ateneu ocuparam a reitoria e lançaram uma semana anticlerical, com a projeção de um filme sobre Galileu e um almoço social com vinho e carne de porco’ para protestar contra a visita papal.

Com o crescente clima de tensão gerado pelos protestos, Bento XVI decidiu não participar do ato, organizado na ocasião da inauguração do ano acadêmico, e vai se limitar a enviar o texto do discurso que havia programado pronunciar numa das universidades mais antigas do velho continente, precisou a nota da Santa Sé.

A La Sapienza foi fundada há 705 anos pelo papa Bonifácio VIII, e o reitor que convidou Bento XVI disse que o incidente serve para levar católicos e ateus a refletir.

Em 2006, o papa já havia atraído protestos por causa de uma citação em um discurso. Na ocasião, falando na universidade alemã de Regensburgo, ele citou um imperador bizantino do século XIV, segundo o qual, o Islã é uma religião que se baseia na violência. O discurso provocou violentos protestos no mundo islâmico, e o papa posteriormente explicou o que disse ser um mal-entendido. O anuncio do cancelamento da visita do papa à Universidade romana gerou algumas manifestações de apoio ao pontífice por parte não só de setores da Igreja, bem como da política e da sociedade civil.

A presidência da Conferência Episcopal Italiana divulgou uma nota de solidariedade a Bento XVI, na qual afirma que o episódio foi "uma grave rejeição que manifesta intolerância antidemocrática e fechamento cultural". "Desejamos que através da recuperação da identidade cultural e da função educativa da Universidade, a vida do ateneu possa retomar a forma ordenada que permite o aprendizado e o confronto cultural, a serviço da pessoa e da sociedade", conclui a nota. A Ação Católica Italiana também emitiu uma nota sobre o caso, afirmando que o mundo católico não deve ceder, nesta queda de braço. O texto questiona ainda se a universidade não deveria ser local do saber livre e ilimitado.

O primeiro-ministro da Itália, Romano Prodi, afirmou que "nenhuma voz se deve calar" na Itália "e muito menos a do papa". Prodi disse que condena os gestos, as declarações e as atitudes que, segundo ele, provocaram uma tensão inaceitável e um clima que não faz honra as outras tradições de civilização e de tolerância da Itália.

O Presidente da República italiana, Giorgio Napolitano, enviou uma carta especial ao Papa, que ainda não foi divulgada. O ex primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, aproveitou a oportunidade para acusar o Estado, que segundo ele, "não se demonstra capaz de garantir a liberdade de expressão à máxima autoridade religiosa".

O Nobel de Literatura, Dario Fo, crítico contumaz da Igreja, também defendeu o direito do Papa à expressão. Dario Fo afirma que é "contra qualquer forma de censura, porque o direito de expressão é sagrado".

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