Recolhimento e oração

Homilia do cardeal Giovanni Battista Re: 2º dia da V Conferência

Junto com o Santo Padre e guiados por ele, iniciamos ontem a nossa Conferencia Geral e queremos que a primeira parte deste dia seja dedicado a oração e ao recolhimento. Como responsáveis da guia pastoral das dioceses deste continente, com plena consciência de ser sucessores dos Apóstolos, desejamos antes de tudo, nos fazermos discípulos de Cristo. Desejamos nos deixar iluminar por sua luz, desejamos seguir a Ele que é a “luz das nações”, o caminho, a verdade e a vida. Pedimos na oração que seja sua Palavra que guie nossas reflexões e nossos passos.

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A Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus de Deus, luz da luz, da mesma sustância do Pai, oferecemos nossa adoração.

A Cristo, Redentor do homem, "centro do cosmo e da história", se dirija nosso pensamento hoje e todos os dias de nossa Conferência Geral neste Santuário Mariano.

A Cristo, mestre de ontem, de hoje e de sempre, confirmamos nossa firme intenção de seus discípulos fiéis, missionários de sua doutrina imutável e portadores de seu amor, de tal maneira que nossos povos, "Nele tenham vida".

A Cristo, Bom Pastor, pastor dos pastores, que conhece os segredos do coração, que nos chama por nosso nome e que nos ama com um amor infinito, expressamos do fundo do nosso coração todo o amor de que somos capazes.

A Cristo, que fundou a Igreja para continuar nos séculos sua obra, nossos agradecimentos pela fortuna e o gozo de ser seus discípulos e apóstolos em sua Igreja.

A Cristo, crucificado, morto e ressuscitado por nós, a profissão de nossa fé, de nossa esperança e de nosso amor.

Santo Ambrósio afirma: Ömnia nobis Christus”. Cristo é tudo para nós! “Se você quer curar suas feridas,Ele é o médico; se está ardendo de febre, Ele é a fonte refrescante, se está oprimido pela iniqüidade, Ele é a justiça; se precisa de ajuda, Ele é o vigor; se você teme a morte, ele é a vida; se deseja o céu, Ele é o caminho; se foges das trevas, ele é a luz; se buscas comida, Ele é o alimento” (Santo Ambrósio, De virginitate, 16,99).

Cristo nos é necessário porque – como escreveu o papa Paulo VI quando era arcebispo de Milão – “Cristo é indispensável para nossa relação com Deus. E porque da nossa relação com Deus depende nossa salvação eterna, depende nosso juízo sobre a dignidade, sobre o destino da vida e sobre a fraternidade do mundo, então Cristo é a chave de todo o sistema de pensamento e de vida que nele se inspira” (Carta Pastoral para a Quaresma de 1995).

Cristo é o centro do plano divino de nossa salvação. Nós desejamos colocá-lo no centro da nossa Conferência para ser em verdade seus discípulos e para levá-Lo depois ao coração dos povos latino-americanos.

Nestes dias, trabalharemos juntos com olhar em Cristo, desejosos de fazer o que Ele nos indicar.

Esta Conferência Geral deseja servir aos homens e às mulheres que peregrinam na América Latina, sustentando cada pessoa em seu caminho terreno e indicando ao mesmo tempo a meta eterna, pois só nela se pode encontrar a plenitude do significado e do valor dos esforços e as tribulações de nossa vida cotidiana.

Desejamos trabalhar por uma revitalização religiosa da América latina, convencidos de que ela favorecerá a renovação, também em outros campos. De fato, quanto mais vive o cristão a própria fé, tanto mais estará em grau de cooperar com os outros homens de boa vontade na promoção de um mundo mais justo e humano.

A chave para enfrentar com êxito os desafios de hoje na América Latina está em partir do coração do cristianismo, é dizer a partir Cristo, rosto humano de Deus e rosto divino do homem. Desejamos, pela mesma razão, orientar o caminho de nossa vida seguindo aquela estrela polar que se chama Jesus Cristo, Filho de Deus e redentor nosso, buscando sempre ser fiéis discípulos e suas testemunhas. Desejamos atuar em plena comunhão com o Vigário de Cristo e sucessor de Pedro.

A Liturgia dessa Missa faz memória ao apóstolo São Matias.

Como sabemos, Matias é o único dos doze apóstolos que não foi escolhido diretamente por Jesus, mas pela primitiva comunidade cristã para tomar o lugar do Apóstolo que havia traído o Senhor.

A primeira leitura nos descreve como as coisas aconteceram. Estamos imediatamente depois da ascensão do Senhor ao céu, e antes de Pentecostes. O procedimento foi simples e sob alguns aspectos, fascinante.

O apostolo Pedro fixa os critérios: é necessário – disse Pedro – escolher a um que tenha estado conosco todo o tempo da vida pública de Jesus, de tal maneira que possa ser testemunha da ressurreição de Cristo (Hch 1,21-22).

No grupo dos discípulos, dois entravam nos critérios indicados por Pedro. Oraram ao Senhor que conhece os segredos dos corações, depois jogaram a sorte e foi escolhido Matias, que foi agregado aos onze e se converteu no duodécimo Apóstolo. Ele também deu testemunho do Senhor até derramar seu sangue por Ele.

No trecho do Evangelho que foi proclamado recebemos de Cristo um duplo convite que não pode nos deixar indiferente. O primeiro convite é forte e incisivo na sua formulação. “Manete in delectione mea”, permanecei no meu amor.

É o convite feito por Cristo a seus apóstolos no cenáculo, naquela atmosfera carregada de emotividade dos sentimentos da ultima ceia.

Convite de Cristo a permanecer no seu amor, expressa o cume das aspirações do Divino Mestre. Em relação com seus apóstolos e com os quais continuaria sua obra através dos séculos.

Cultivar uma profunda intimidade com Cristo através de uma autentica relação de amizade com ele, alimentada por um verdadeiro espírito de oração e de escuta da sua palavra. Esta é para todos nós a condição indispensável para sermos realmente seus discípulos.

O tempo que dedicamos a deus na oração é o tempo melhor investido.

A oração é a fonte da fecundidade das nossas iniciativas pastorais e de nossa entrega aos outros.

Blaise Pascal se perguntava: “por que Deus tem instituído a oração?” e respondia: “Para permitir a suas criaturas a possibilidade de cooperar com suas obras”( Pensamentos, 513).

Deus não quer agir nas almas e no mundo sem nossa cooperação: ele deseja conosco e através da nossa oração realizar aquilo que vai além das nossas forcas, da nossa capacidade e da nossa previsão humana.

O segundo convite que o Evangelho contém e que ouvimos é do amor recíproco. É um convite expressado com palavras solenes: Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei”( Jo 15,12). É um mandamento exigente, mas é um amor inspirado e sustentado pelo amor a Deus.

São palavras que nos levam ao próprio coração do cristianismo.

O amor é a forca capaz de mudar o mundo. O amor é a energia construtora de um mundo melhor. Amor grande aos nossos sacerdotes como aquele de cristo pelos apóstolos. Amor a todos. Que nossos corações nesses dias estejam abertos a todos os homens e a todas as mulheres, irmãs e irmãos nossos, em particular aos mais pobres e aflitos, aos que mais sofrem. Assim, o discípulo de cristo se torna construtor da “civilização do amor”, inspirada na mensagem do Evangelho e fundamentada na justiça, a verdade, a liberdade e a paz.

Que Nossa Senhora nos guie neste empenho para que a forças da fé e do amor se realizem efetivamente na sociedade latino-americana.

Queridos irmãos do Episcopado, queridos irmãos e irmãs, realizamos nossa V Conferência Geral neste Santuário Mariano do Brasil. Nesses dias desejamos também nós, como os apóstolos, nos colocarmos atentamente em disposição de escuta da Santíssima Virgem para aprendermos dela a ser discípulos e missionários de Cristo.

A Virgem Maria, que no início da Igreja, estava com os apóstolos em oração no cenáculo, nos acompanhe também a nós nesses benditos dias da nossa Conferência.

Que Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, seja também a Padroeira do trabalho de nossa Conferência que colocamos embaixo de sua especial proteção.

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