Santa Missa

"Não deixe-se aprisionar pelos escombros da vida", diz Papa

O Papa Francisco celebrou a Santa Missa em Carpi, localidade atingida por um terremoto em 2012 provocando 28 mortes

Da redação, com Rádio Vaticano

Papa Francisco em Carpi / Fonte: Reprodução CTV

Neste domingo, 2, o Papa Francisco presidiu a Santa Missa na localidade de Carpi, atingida por um terremoto em 2012 e que provocou 28 mortes e grandes danos materiais. Cerca de 70 mil fiéis participaram da celebração.

Em sua homilia, o Pontífice afirma que o Evangelho fala sobre o Deus da vida, que venceu a morte. “Concentremo-nos, em particular, no último dos sinais milagrosos que Jesus realiza antes de sua Páscoa, no sepulcro de seu amigo Lázaro. Ali parece que tudo acabou: o túmulo está fechado por uma grande pedra, ao redor, somente choro e desolação. Também Jesus está abalado pelo mistério dramático da perda de uma pessoa querida”, disse.

Francisco acrescentou ainda afirmando que Jesus comoveu-se profundamente, ficou muito perturbado e depois chorou, dirigindo-se ao sepulcro. “Mais uma vez profundamente comovido. É este o coração de Deus: afastado do mal mas próximo de quem sofre; não faz desaparecer o mal magicamente, mas compartilha o sofrimento, o assume e o transforma habitando-o”, observa.

Nota-se porém que, em meio à desolação geral pela morte de Lázaro, Jesus não se deixa tomar pelo desconforto. Mesmo sofrendo Ele mesmo pede que se creia firmemente, não se fecha no choro, mas comovido, coloca-se a caminho em direção ao sepulcro.

“Não se deixa dominar pelo ambiente emotivo resignado que o circunda, mas reza com confiança e diz: Pai, eu te dou graças. Assim, no mistério do sofrimento, diante do qual o pensamento e o progresso se quebram como moscas no vidro, Jesus nos dá o exemplo de como nos comportar, não foge do sofrimento, que pertence a esta vida, mas não se deixa aprisionar pelo pessimismo.”

Em volta daquele sepulcro, acontece assim um grande ‘encontro choque’. De um lado, existe a grande desilusão, a precariedade da vida mortal que, atravessada pela angústia pela morte, experimenta frequentemente a derrota, uma obscuridade interior que parece intransponível.

“A nossa alma, criada para a vida, sofre sentindo que a sua sede de eterno bem é oprimida por um mal antigo e obscuro. Por um lado existe esta derrota do sepulcro, mas por outro lado há a esperança que vence a morte e o mal que tem um nome: a esperança se chama Jesus. Ele não traz um pouco de bem-estar ou algum remédio para prolongar a vida, mas proclama: ‘Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá’”. Por isto decididamente diz ‘tirai a pedra!’ e a Lázaro grita em alta voz: ‘Vem para fora!’.

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Queridos irmãos e irmãs, também nós somos convidados a decidir de que parte estar, se pode estar do lado do sepulcro ou do lado de Jesus, disse ainda.

“Há também quem se deixe fechar na tristeza e quem se abre à esperança. Há quem permanece preso nos escombros da vida e que, como vocês, com a ajuda de Deus, levanta os escombros e reconstrói com paciente esperança.”

Diante dos grandes porquês da vida, o Pontífice indica dois caminhos: ficar a olhar melancolicamente os sepulcros de ontem e de hoje ou aproximar Jesus de nossos sepulcros. Sim, porque cada um já tem um pequeno sepulcro, alguma zona um pouco morta dentro do coração, uma ferida, uma injustiça sofrida ou cometida, um rancor que não dá trégua, um remorso que vai e volta, um pecado que não se consegue superar.

“Identifiquemos hoje estes nossos pequenos sepulcros que temos dentro e convidemos Jesus para ir lá. É estranho, mas seguidamente preferimos estar sozinhos nas grutas obscuras que temos dentro, antes que convidar Jesus para estar lá; somos tentados em buscar sempre nós mesmos, remoendo e nos afundando na angústia, lambendo as chagas, antes que ir até Ele, que diz: ‘Vinde a mim, todos vós que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei’”.

Não deixemo-nos aprisionar pelas tentações de permanecer sozinhos e desconfiados, chorando por aquilo que nos acontece, não cedamos à lógica inútil e inconclusiva do medo, do repetir resignado de que vai tudo mal e nada é mais como antes.

“Esta é a atmosfera do sepulcro; o Senhor deseja ao invés disto, abrir o caminho da vida, o do encontro com Ele, da confiança nele, da ressurreição do coração, o caminho do ‘Levanta-te! Levanta-te, saia!’. É isto que nos pede o Senhor, e Ele está ao lado de nós para fazer isto.”

Ouçamos então como dirigidas a cada um de nós as palavras de Jesus a Lázaro: ‘Vem para fora’. Vem para fora do emaranhado da tristeza sem esperança, desata as vendas do medo que criam obstáculo no caminho, os laços das fraquezas e das inquietações que te bloqueiam, repete que Deus desata os nós.

“Seguindo Jesus aprendemos a não amarrar a nossa vida nos problemas que se apresentam, sempre existirão problemas, sempre, e quando resolvemos um, pontualmente chega outro. Podemos porém encontrar uma nova estabilidade, e esta estabilidade é precisamente Jesus, esta estabilidade se chama Jesus, que é a ressurreição e a vida: com ele a alegria habita o coração, a esperança renasce, a dor se transforma em paz, o temor em confiança, a prova em oferta de amor. E mesmo que não faltem os pesos, haverá a sempre a sua mão que nos levanta novamente, a sua Palavra que nos encoraja e diz a todos nós, a cada um de nós: ‘Venha para fora! Venha para mim’. Diz a todos nós: ‘Não tenham medo!’”.

Também a nós hoje, como então, Jesus diz: ‘Tirai a pedra!’. Por mais pesado que seja o passado, grande o pecado, forte a vergonha, não barremos a entrada do Senhor.

“Tiremos diante d’Ele a pedra que lhe impede de entrar: é este o tempo favorável para remover o nosso pecado, o nosso apego às vaidades mundanas, o orgulho que nos bloqueia a alma, tantas inimizades entre nós, nas famílias, este é o momento favorável para remover todas estas coisas.”

Visitados e libertados por Jesus, peçamos a graça de ser testemunhas de vida neste mundo que tem sede dele, testemunhas que suscitam e ressuscitam a esperança de deus nos corações cansados e pesados pela tristeza. O nosso anúncio é a alegria do Senhor vivo, que ainda hoje diz, como a Ezequiel: “Eis que eu abrirei os vossos sepulcros, e vos farei subir das vossas sepulturas, ó povo meu”.

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