“Quem pensa resolver o problema de sua empresa demitindo as pessoas, não é um bom empresário: é um comerciante”, afirmou Francisco aos empresários
Da redação, com Rádio Vaticano
O Papa Francisco deixou o Vaticano, na manhã deste sábado, 27, e dirigiu-se ao aeroporto romano de Ciampino, de onde partiu para mais uma Visita Pastoral, desta vez, a Gênova, na região de Ligúria, na Itália.
Ao chegar ao aeroporto da cidade de Gênova, Francisco foi recebido por autoridades religiosas, entre as quais o Cardeal Angelo Bagnasco, arcebispo da cidade, e outros representantes políticos e civis de Gênova.
A primeira atividade do Santo Padre, foi o encontro com o mundo do trabalho na Siderúrgica Ilva, a segunda mais importante indústria da Itália, depois de Taranto, no sul do país.
No encontro com os trabalhadores, o Papa respondeu espontaneamente a algumas perguntas que lhe foram dirigidas por um operário, uma desempregada, um empresário e um representante sindical.
Inicialmente, o Santo Padre disse que o mundo do trabalho é uma prioridade humana. Portanto, é uma prioridade cristã, logo, também é uma prioridade do Papa, afirmou Francisco.
O Pontífice ressaltou que “sempre houve uma amizade entre a Igreja e o mundo do trabalho, começando por Jesus trabalhador. Onde há um trabalhador, ali há interesse e o olhar de amor do Senhor e da Igreja”, frisou.
Aos empresários
O Papa falou também sobre as virtudes do empresário: “A criatividade, o amor pela própria empresa, a paixão e o orgulho pela obra de suas mãos, de sua inteligência e a dos trabalhadores. O empresário é a peça fundamental de toda boa economia: não há boa economia sem um bom empresário, sem a sua capacidade de criar, criar trabalho e criar produtos.”
“O importante é reconhecer as virtudes dos trabalhadores e das trabalhadoras. Trabalhadores e trabalhadoras devem fazer bem o seu trabalho, porque o trabalho deve ser bem feito. Às vezes, se pensa que um trabalhador trabalha porque é bem pago: esta é uma grave falta de estima dos trabalhadores e do trabalho, pois nega a dignidade do trabalho que inicia com o trabalhar bem pela dignidade e pela honra”, disse.
Para o Papa, o verdadeiro empresário conhece os seus trabalhadores, porque trabalha junto deles. “Não nos esqueçamos de que o empresário deve ser primeiramente um trabalhador. Se ele não tem esta experiência da dignidade do trabalho, não será um bom empresário. Partilha as fadigas dos trabalhadores e partilha as alegrias do trabalho, de resolver juntos os problemas, de criar algo juntos. Nenhum bom empresário ama demitir a sua gente.”
“Quem pensa resolver o problema de sua empresa demitindo as pessoas, não é um bom empresário: é um comerciante. Hoje, vende a sua gente, amanhã, vende a sua dignidade”, enfatizou Francisco.
O papel empresário, segundo o Papa
Segundo o Papa, “uma doença da economia é a transformação progressiva dos empresários em especuladores”. “O empresário não deve absolutamente ser confundido com especulador: são dois tipos diferentes. O especulador é uma figura parecida com aquela que Jesus no Evangelho chama de ‘mercenário’, em oposição ao Bom Pastor. O especulador não ama a sua empresa, não ama os trabalhadores, mas vê a empresa e os trabalhadores como meios para obter lucro. Demitir, fechar, mudar a empresa não criam nenhum problema para ele, porque o especulador usa, instrumentaliza, se alimenta de pessoas e meios para alcançar seus objetivos de lucro”.
Quando a economia é habitada por bons empresários, considerou o Santo Padre, as empresas são amigas das pessoas e também dos pobres. Porém, quando passa para as mãos de “especuladores, tudo se arruína”. Segundo o Pontífice, com o especulador, a economia perde o “rosto e os rostos”. “É uma economia sem vulto. Uma economia abstrata. Por trás das decisões do especular não há pessoas”.
“Às vezes o sistema político parece incentivar quem especula sobre o trabalho e não quem investe e acredita no trabalho. Por que? Porque cria burocracia e controles, partindo da hipótese de que os atores da economia sejam especuladores, e assim quem não é fica em desvantagem e quem é consegue encontrar os meios para evitar os controles e alcançar os seus objetivos. Sabe-se que os regulamentos e as leis pensadas para os desonestos terminam por penalizar os honestos. Hoje, existem verdadeiros empresários, empresários honestos que amam os seus trabalhadores, que ama a empresa, que trabalha junto com eles para levar adiante a empresa. Esses são os mais prejudicados pelas políticas que favorecem os especuladores, mas os empresários honestos e virtuosos vão adiante, não obstante tudo.”
Democracia
O Papa citou uma frase de Luigi Einaudi, economista e presidente da República Italiana: “Milhares, milhões de indivíduos trabalham, produzem e economizam não obstante tudo o que nós podemos inventar para incomodá-los, fazê-los tropeçar e desencorajar. É a vocação natural que os impulsiona e não apenas a sede de lucro.”
Em seguida, afirmou que tirar o trabalho das pessoas ou explorar as pessoas no trabalho indigno e mal pago é inconstitucional. “Se a República Italiana não fosse fundada no trabalho não seria uma democracia”, afirmou.
Ainda citando a Constituição italiana, o Papa disse que “o trabalho é amigo do homem e o homem é amigo do trabalho e por isso não é fácil vê-lo como inimigo porque se apresenta como uma pessoa de família até mesmo quando nos fere. Homens e mulheres se nutrem com o trabalho e com o trabalho são ungidos de dignidade. Por esta razão, em torno do trabalho se edifica o pacto social porque quando não se trabalha ou se trabalha pouco, mal, ou muito, é a democracia que entra em crise.”
Dignidade
Respondendo à pergunta de uma desempregada, o Papa disse que “quem perde o trabalho e não consegue encontrar um outro bom, sente que perde a dignidade, como perde a dignidade quem é obrigado por necessidade a aceitar trabalhos ruins e errados. Para o Papa, nem todos os trabalhos são bons; “existem trabalhos ruins, como o tráfico de armas, a pornografia, o jogo de azar, mas também o trabalho de quem não respeita os direitos dos trabalhadores, a natureza ou quem não coloca limites aos horários”.
Depois, Francisco destacou a tristeza das famílias que têm pessoas desempregadas. Segundo ele, nestas casas, nunca é realmente domingo e as festas se tornam às vezes dias de tristeza porque falta o trabalho na segunda-feira. “Para celebrar a festa, é necessário celebrar o trabalho. Ao trabalhar, nos tornamos mais pessoa, a nossa humanidade floresce, os jovens se tornam adultos somente trabalhando”, defendeu.
“Um mundo que não conhece mais os valores e o valor do trabalho, não entende mais a Eucaristia, a oração verdadeira e humilde dos trabalhadores e trabalhadoras. Os campos, o mar e as fábricas sempre foram altares de onde se elevaram orações bonitas e puras, que Deus acolheu. Orações ditas por quem sabia e queria rezar, mas também orações feitas com as mãos, com o suor, com a fadiga do trabalho de quem não sabia rezar com a boca. Deus acolheu estas e continua acolhendo estas orações também hoje.”