No artigo de hoje, padre recorda o empenho pelo reconhecimento da dignidade da mulher e de seu papel na sociedade
Padre Antônio Aparecido Alves*
A presença social da mulher
Comemoramos hoje o “Dia Internacional da Mulher”, lembrando as operárias mártires carbonizadas dentro da fábrica em 1857, em Nova York, quando reivindicavam seus direitos. Desde então vem o empenho pelo reconhecimento da dignidade da mulher e de seu papel na sociedade. Indicativo disto foram as Cúpulas Mundiais que a Organização das Nações Unidas (ONU) promoveu sobre o tema “Mulher”: Cidade do México em 1975, Copenhagen, no ano de 1980; Nairobi, em 1985, e em Pequim, no ano de 1995. Junte-se a estes eventos mundiais aqueles que aconteceram em nível de instituições, grupos e comunidades, como a Campanha da Fraternidade no Brasil, em 1990, com o tema “Mulher e homem, imagem de Deus”.
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Conferência da ONU em Pequim: empowerment e mainstreaming
A IV Conferência da ONU sobre o papel social da mulher, em Pequim (1995), apresentou dois conceitos para designar a presença da mulher na sociedade. O primeiro deles é empowerment, que significa “atribuir poder” (e responsabilidade) às mulheres. Esse conceito, primeiro, reconhece a diferença entre homem e mulher, saindo da ideia igualitarista pregada pelo feminismo e evoluindo para o conceito de “paridade”. Em segundo lugar, indica que, sem a plena e ativa participação das mulheres nos processos de decisão, não é possível um desenvolvimento social e ecologicamente sustentável. Desta Conferência veio a mensagem sobre o novo protagonismo feminino, que comporta a vontade de estar, não contra o homem, mas ao seu lado na gestão e na responsabilidade de tudo o que implica a vida humana. O outro conceito, chamado de mainstreaming, significa que o ponto de vista das mulheres deve ser respeitado nas decisões políticas, econômicas, sociais e ambientais, como se fosse um eixo integrador transversal a perpassar todas essas realidades.
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A Doutrina Social da Igreja: o gênio feminino
Na carta “A vós, mulheres” (1995), escrita por ocasião da Conferência de Pequim e como colaboração para ela, levada à essa Conferência por uma delegação de mulheres representando a Santa Sé, o então Papa João Paulo II fazia votos que se refletisse com particular atenção sobre “o gênio da mulher”, não somente para reconhecer seus traços, mas para dar-lhe mais espaço no conjunto da vida social e eclesial (n.10). Durante o primeiro semestre de 1995, em vista da conferência de Pequim, ele fez na Recitação do Ângelus uma série de catequeses sobre o papel da mulher e afirmou em uma delas que a sociedade é de alguma maneira “empobrecida” sem a presença da mulher e, assim, “a sociedade é menos viva, a cultura menos rica, a paz insegura” (23/07/1995).
Humanizar o mundo: o papel da mulher
Seja empowerment, mainstreaming ou gênio feminino, reconhece-se a importância do feminino para a vida da sociedade. Nosso mundo está organizado sobre a lógica masculina. Nossa história é contada a partir dos homens que a construíram. Quando existe uma mulher, ela está sempre “por trás” de um grande homem. A lógica que nos governa é a da força, do poder, da competitividade, da agressividade. Esta lógica já provou seu fracasso. É preciso humanizar esse mundo. Mas será isto possível dentro da racionalidade que governa a humanidade? Como afirma João Paulo II, “uma maior presença social da mulher se revelará preciosa, porque contribuirá para fazer explodir as contradições de uma sociedade organizada sobre puros critérios de eficiência e produtividade e obrigará a reformular os sistemas em vantagem dos processos de humanização que delineiam a civilização do amor” (Carta A vós mulheres, nº 4).
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*Padre Antonio Aparecido Alves é Mestre em Ciências Sociais com especialização em Doutrina Social da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Teologia pela PUC-Rio. Professor na Faculdade Católica de São José dos Campos e Pároco na Paróquia São Benedito do Alto da Ponte em São José dos Campos (SP). Para conhecer mais sobre Doutrina Social visite o Blog: www.caminhosevidas.com.br