Depressão Infantil

A escola pode ser uma razão para criar angústias às crianças, mas também o meio caminho para a sua resolução. Isto porque ao professor cabe estar vigilante, nomeadamente a sinais que, porventura, indiquem que as crianças com quem trabalha possam estar deprimidas. É que as crianças também passam por este estágio de depressão.

A patologia depressiva infantil está, aliás, a crescer. Mas será fácil “ler” o sofrimento de uma criança que assim pode estar até antes mesmo de saber falar? A resposta está nos sinais. Antes de tudo, uma criança triste não está necessariamente deprimida, mas antes reagindo a um episódio que lhe causou tristeza.

Pelo contrário, uma criança deprimida apresenta este estado em determinada gravidade e, além disso, a demasiado tempo. Quando existe uma interação mãe/bebê – o mais importante laço para o bebê, acionado ainda antes do nascimento – inadequada ou insuficiente, o caminho para as reações depressivas fica aberto.

Mais grave é a situação, e as consequências; quanto menor for a idade da criança, assim como o reflexo nos comportamentos orgânicos. Ou seja: a criança pode deixar de dormir ou dormir mal, de fazer uma alimentação regular e apresentar mesmo sinais físicos, como dificuldades respiratórias e alergias.

Um universo amedrontado

Com menos horas dormidas, a criança fica mais irritada, chora com maior frequência e durante mais tempo e, sem comer, perde peso. Pode igualmente não controlar a urina. Em idade escolar, a crise pode agravar-se. A criança sente-se incapaz de realizar as tarefas e o fracasso escolar pode ser o resultado mais provável.

Com o aumento dos divórcios nas sociedades ocidentais, este passou a ser visto na ótica dos menores e, de fato, o sofrimento desta separação, bem como dos tempos infelizes que a ela conduziram, não se limita a um pai e uma mãe, mas também aos seus filhos.

A separação dos pais pode ser uma das muitas razões que conduz a uma depressão na criança. Mas não necessariamente quando pai e mãe deixam de partilhar o mesmo teto. Atentas às discussões dos pais, as crianças captam a insegurança do momento, a qual agrava a sua própria insegurança.

Sem entenderem as razões dos gritos nem os fundamentos das discussões, as crianças limitam-se a construir um universo amedrontado e, inexoravelmente, começam a apresentar sinais de uma depressão que pode conduzir a uma patologia grave. Não raras as vezes – embora menos do que as desejáveis – são os professores a lerem estes sinais.

A tristeza prolonga-se para além do tempo considerado “normal” para uma criança que está agora a viver uma nova etapa, sem o pai e a mãe juntos, e esta não consegue reagir. O rendimento escolar altera-se, para pior.

A desatenção intensifica-se e, por vezes, dá lugar à abstenção. Faltar às aulas para não ver nada nem ninguém. Se a criança se emancipou a nível alimentar, é provável que uma dieta equilibrada possa dar lugar a alimentos sem riqueza ou chegue mesmo a saltar em algumas das refeições.

Com o alerta dado por elementos exteriores ao lar – sejam professores ou amigos – o encarregado de educação deve atuar como se fossem os seus olhos a mudar na alteração do filho. Uma consulta a um médico, que pode iniciar-se através do médico de família, que tem o histórico clínico (e não só) da criança e dos seus ascendentes, é o primeiro e mais certeiro dos passos.

Sandra Moutinho

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo