Luciana, 38, é casada, tem duas filhas, mas só agora começou a entender o verdadeiro significado de ser mãe.
Outrora, Luciana fora muito dedicada ao trabalho e procurava suprir com presentes a necessidade que suas filhas – Carol, 15; Laura, 4 – tinham da mãe. Trabalhando em tempo integral, ela podia dar presentes e fazer muitas outras coisas para as meninas, mas não lhes dava amor. O que realmente era essencial, ela deixou para um outro momento. Presa às obrigações do dia a dia, o cansaço e o estresse acumulado refletiam diretamente em sua família; sem paciência, as reclamações eram constantes, fossem do trabalho, do esposo ou dos afazeres da casa: “Aquilo foi me revoltando e fui ficando igual a uma criança rebelde. Aos poucos, eu estava abandonando tudo. Minha filha mais velha vinha falar comigo e eu só gritava. A Laura, a mais nova, sentia muito a minha falta, ela pedia minha atenção e eu achava que, naquele momento, não precisava dar essa atenção tão necessária. De repente, tudo mudou!”.
A pequena Laura, que até então tinha muita saúde, adoeceu. A febre repentina foi o início das preocupações de Luciana, mas também o começo de seu aprendizado na escola da vida. Aquela febre era indício de que havia algo errado. Inicialmente, a caçula foi diagnosticada com uma infecção de ouvido; depois, uma virose, pois as dores na barriga e a diarreia eram constantes. Aos poucos, os movimentos dela começaram a ficar comprometidos, suas pequenas pernas não respondiam aos estímulos, o que prejudicou um pouco seus movimentos. Depois de muitas idas e vindas ao médico, um hemograma constatou que Laura tinha leucemia.
O mundo idealizado por Luciana deixou de ser real. “Veio tudo de uma vez, foi como um soco no estômago”, conta a mãe. Aos poucos, ela começou a perceber o que estava acontecendo, o quanto estava distante de tudo, inclusive de sua família. A desunião veio como consequência de seus atos e, por pouco, não se tornou um caminho sem volta.
“Eu estava distante da minha família, distante Deus. Entender que ‘há males que vem pra bem’ é quase impossível quando se trada da filha da gente.” O sentimento de impotência e o desespero fizeram com que Luciana saísse sem rumo pelas ruas, à procura de ajuda ou de alguém para culpar. O medo de perder a filha fez a pobre mulher sair de si. Diante dessa situação, só lhe restava voltar a acreditar em Deus. O que inicialmente fora visto como castigo divino, passou a ser percebido como a única maneira que o Senhor encontrou para que ela não desistisse de tudo. “Apesar de ser muito triste toda essa situação, foi a forma mais linda que Deus usou para me tocar”.
O abismo que afastava Luciana de sua família foi preenchido pela união e reforçado pelo amor. Diante daquela situação, não havia por que ficar distante de tudo e de todos, aquele era o momento no qual uma simples mulher pôde mostrar seu verdadeiro valor como esposa e especialmente como mãe.
Seu coração gritava por ela, mas fora do peito! Sua filha necessitava da mãe naquele momento. Luciana revela que, no início, Laura levou na esportiva a queda dos seus cabelos e brincava com a situação. A mãe conta que a menina, ao puxar os cabelos, saia aquela pequena porção de fios em suas mãozinhas, e ela dizia que o importante era ainda ter cabelos em sua cabeça. Um dia, ao dar banho na filha, Luciana viu que os cabelos da menina saíram todos em suas mãos. Ao sair do banho, a pequena se olhou no espelho e o impacto foi tão grande, que ela começou a chorar quase que de imediato; depois, foi para seu quarto e não saiu mais de lá, não queria conversar, brincar nem assistir a desenhos.
Percebendo que tudo aquilo era uma reação da criança por se ver sem os cabelos, Luciana insistiu em consolar a filha:
– Filha, você está triste por causa dos seus cabelos?
– Mãe, as pessoas vão rir de mim!
– Não vão rir. Você quer que eu fique careca com você?
Segundo a mãe, Laura deu um pulo da cama e respondeu:
– Mãe, você fica careca comigo?
– Claro que eu fico, filha!
– Você vai cortar agora?
– Pode ser! Você quer cortar pra mim?
– Você vai deixar eu cortar?
– Vou sim, minha filha. Pode cortar.
Laura pegou a máquina de cortar cabelo e começou a passar na cabeça da mãe. Sem pensar duas vezes, a criança cortou todo o cabelo. “Ficou daquele jeito, né? Mas a Laura ficou muito mais confiante! Na mesma hora, ela voltou a sorrir. Eu disse a ela que enquanto os cabelos dela não crescessem, eu não deixaria o meu crescer também. Enquanto ela estivesse daquele jeito, eu também ficaria”. Com os cabelos raspados, o rosto um pouco abatido, os olhos cheios de lágrimas e o sofrimento de uma mãe que não sabe o que esperar do dia de amanhã, Luciana se esforça para não chorar ao falar de sua história e da filha.
Ao contar sobre o que mais espera, Luciana, mãe da Laura, não consegue segurar as lágrimas. “Eu quero que a Laura fique bem. Quero poder dar meu testemunho sobre a cura da minha filha, quero vê-la crescer e voltar para a escola, pois esse é o maior sonho dela. Ela fala sobre isso todos os dias. Eu desejo que ela fique boa. Eu só espero a cura”.
A pequena Laura está fazendo quimioterapia há quatro meses no Grupo de Assistência à Criança com Câncer (GACC). Ela foi diagnosticada com Leucemia Linfoide Aguda Tipo B. Estima-se que cinco anos de tratamento serão suficientes para por um fim nesta triste história. Tudo vai depender das respostas da criança ao tratamento.