Compaixão

O amor nasce na simplicidade e concretiza-se em diferentes faces, como no desejo de seis médicos voluntários que se utilizaram de uma garagem para ajudar os mais necessitados. O que era um local simples, passou a ser a habitação da compaixão e solidariedade.

Esses necessitados a serem alcançados eram crianças e adolescentes com uma doença que, muitas vezes, nem é pronunciada por muitos devido ao temor, pois, para eles, ser diagnosticado com câncer faz com que uma sentença seja assinada.

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O desejo sincero do bem comum contagiou mais pessoas, fazendo com que da garagem os médicos fossem para uma sala alugada, permitindo a criação de um consultório oncológico que visasse um espaço adequado para o tratamento da doença.

No início, os poucos pacientes ficavam internados em diferentes hospitais e recebiam o auxílio dos voluntários.

O que podia ser um sonho audacioso – a criação de um hospital oncológico infantil –, para os seis médicos era apenas a concretização do amor ao próximo.

Os primeiros passos para a realização desse sonho contou com a ajuda da Prefeitura da cidade de São José de Campos, interior de São Paulo, que doou um terreno para a construção do prédio. Os investimentos iniciais provinham de empresários e da comunidade local, que auxiliavam no trabalho de captação de recursos. No ano de 2007, foi construído o Grupo de Assistência a Criança com Câncer (GACC). A partir de então, centenas de crianças e adolescentes vêm sendo atendidos em um tratamento que dura anos.

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Nos 365 dias de cada ano, muitas manhãs e tardes comumente gastas por crianças com brincadeiras nas ruas, acompanhadas dos vizinhos, dão lugar às horas enfrentadas nas cadeiras ou leitos do hospital pelos pacientes que esperam a chegada dos enfermeiros.

Mais do que minutos roubados, sorrisos são levados dessas crianças ao se depararem com as agulhas das seringas. Os lábios pressionados um contra o outro são uma maneira de reprimir a dor da picada, que acaba se tornando leve diante da incerteza de um futuro próximo.

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O líquido contido nos tubos carrega mais que glóbulos vermelhos, brancos ou plasma sanguíneo; ele representa a aproximação da cura.

As crianças não carregam no corpo somente as marcas deixadas pelas agulhas. Os olhos, como janelas da alma, deixam transparecer as marcas gravadas em si.

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O colorido das paredes, dos bancos, assentos e poltronas ameniza e permite que o tom acinzentado trazido pelo diagnóstico vá sendo substituído pela esperança de um futuro longo e cheio de vida. Em uma sala, as brincadeiras de criança, as fantasias e imaginações são despertadas.

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No hospital, os pacientes recebem auxílio nas disciplinas escolares com as quais possuem dificuldades. A história não é apenas completada simbolicamente com o lápis e uma folha de papel, mas é traçada dia a dia, sessão a sessão.

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O sentimento de compaixão experienciado inicialmente pelos seis voluntários ultrapassou as fronteiras geográficas e contagiou também muitas pessoas, como a coordenadora pedagógica e lúdica Ivone Barreto Rodrigues Fernandes, que trabalha há 16 anos na instituição.

Ivone compõe a equipe de profissionais do hospital que, além de cuidar dos pacientes, dedicam-se também à família dos assistidos. Para ela, “a família precisa de alguém que acredite, junto com ela, que o paciente precisa viver”.

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Esse cuidado acontece, porque todos os funcionários são instruídos a refletir e colocar-se no lugar dos familiares.

“Nós temos um cuidado com a família, porque nos colocamos no lugar dela, e isso é importante. Você pode até perder o filho, mas pensar que o perdeu, porque estava no corredor de um hospital, isso é muito ruim. O pai não se perdoa”, frisa a coordenadora.

As transformações não ocorrem apenas nos pacientes, mas também na equipe de funcionários.

“Você percebe que deveria ter vergonha de reclamar da vida. Todos têm problemas familiares, mas nem desses você deve reclamar. Aprendemos muito isso, como é importante a vida, e passamos a perceber que o importante é uma ajudar o outro a viver”, ressalta Ivone.

Diante de muitas histórias de dificuldades, Ivone revela que Deus é seu refúgio, é n’Ele que busca forças para continuar seu trabalho.

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Aposentada há seis anos, a coordenadora conta que não consegue parar de trabalhar, de doar-se, receber e multiplicar amor.

“Não consigo parar. Você sempre acha que pode fazer mais um pouquinho. Há muitos casos de sucesso. Todos tiveram sua importância”, diz.

Normalmente o tratamento dura, em média, de um a dois anos. Depois de realizadas as sessões de quimioterapia, quando necessárias, o paciente ainda é acompanhado periodicamente durante cinco anos.

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Após o término do ciclo de sessões de quimioterapia, cada paciente ganha uma festa como sinal de vida nova, de um futuro longo que está pela frente. Com isso, as lágrimas e os olhares cabisbaixos são deixados para trás, dando lugar para a esperança de dias melhores.

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