Coluna

O tempo sagrado e a sua beleza

Na coluna deste mês, padre Anderson traz reflexões como a relação entre Novo e Antigo Testamento e o sentido do Ano Litúrgico

Confira o artigo:

O tempo sagrado e a sua belezaEm relação à visão do Antigo Testamento, no Novo Testamento, a história adquire um sentido novo. A relação entre Antigo e Novo Testamento não pode ser concebida como um relacionamento estreitamente temporal entre preparação e realização. Se se tomam em consideração, por exemplo, alguns hinos das cartas paulinas e deutero-paulinas, também as primeiras confissões cristãs de fé, vejamos que, nestes textos, Jesus vem proclamado centro e sentido único da história.

Outro passo altamente significativo é o prólogo do Evangelho de João, que afirma: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus e o Verbo era Deus. Ele era no princípio em Deus: tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito do que existe” (Jo 1, 1-3).

Trata-se da encarnação do Verbo que se inseriu, na história, como realização do tempo. Com a Encarnação, iniciou a manifestação pessoal de Deus no tempo: depois de ter habitado no ventre da Virgem, o Filho veio armar a sua tenda no meio dos homens, dando inicio à plenitude do tempo. Eis, portanto, que o tempo de Deus atinge o seu sentido pleno e salvífico com a vinda de Jesus de Nazaré: a sua presença na história resume passado e futuro e torna-se revelação do rosto misterioso de Deus .

O senhorio de Deus e, portanto, aquele de Cristo na história, vai em direção a um tempo final. Cristo domina e realiza a história, mas ao mesmo tempo, orienta-a em direção a um tempo definitivo. Trata-se do grande capítulo da escatologia bíblica. A série das libertações ou salvações parciais de qual as páginas do AT são plenas, progride em direção àquela que será a libertação resumida as precedentes. Assim, as formas temporais e limitadas do domínio e da realeza divina sobre os homens e sobre o cosmo tendem em direção à total presença divina na história e no cosmo, porque, como diz São Paulo em 1 Cor 15,28 “Deus seja tudo em todos”. A visão da história nos é apresentada como uma oikonomia, um progressivo realizar-se até a plenitude. Cristo Senhor do tempo é uma das categorias teológicas fundamentais que explica o único evento de salvação.

O ano litúrgico celebra o único evento da salvação em Cristo e os diversos momentos deste evento, do qual são protagonistas o Pai, o Filho e o Espírito. Não existe, portanto, sentido em estabelecer uma festa do Pai, do Filho ou do Espírito. Nós celebramos os eventos salvíficos nos quais são envolvidas as três pessoas da Santíssima Trindade. A liturgia é obra da Trindade.

A este ponto, são de grande interesse as diversas afirmações neotestamentarias indicadas com os termos pleroma e pleróo, ou seja, o substantivo plenitude e o verbo completar. Estes vocábulos exprimem o cumprimento e a plenitude a respeito de um tempo de espera, de promessa e de provisoriedade. O referimento a Cristo torna-se decisivo para compreender o novo equilíbrio da história e o deslocamento de acento da esperança cristã, a respeito da esperança messiânica do AT. O NT tem uma concepção requintadamente linear do tempo, com um presente, um passado e um futuro. Porém, como dissemos acima, a concepção linear da história era afirmada já da fé hebraica: já o AT distinguia o tempo presente daquele do futuro, enquanto a espera-esperança era orientada em direção àquela curva decisiva entre os dois tempos.

Agora Jesus move o equilíbrio da história: o kairós decisivo, ou seja, a intervenção pontual, definitiva e salvífica são já recebidas à sua presença com o anúncio do Reino de Deus na vida através principalmente da liturgia. Por isso, urge uma relação entre a liturgia e a vida concreta, para que a vida se torne no tempo cada vez mais belo na Beleza de Deus no tempo.

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