Venezuela

Venezuela: solução está em uma mediação pacífica, diz especialista

Especialista em relações internacionais explica realidade venezuelana

Denise Claro
Da redação

A Venezuela vive atualmente uma situação crítica. O governo de Nicolás Maduro vem tendo dificuldades numa liderança política, agravada pela problemática econômica, com a queda do preço do petróleo.

Há três anos, uma crise humanitária foi instalada, pela falta de medicamentos, de alimentação, e pela própria violência, que acabaram por gerar uma onda migratória, em grande parte forçada, do povo venezuelano para países como a Colômbia e o Brasil.

O especialista em relações internacionais, Gilberto Rodrigues, explica que a migração do povo venezuelano tem um caráter misto. “Há refugiados, que por causa de uma perseguição pedem refúgio em outro país, e os migrantes forçados, que vão para o novo local pela crise, mas não necessariamente pedem refúgio, podem ter somente uma residência provisória”. 

O governo de Maduro, que já sofria pressão por parte da comunidade internacional devido às prisões arbitrárias e perseguições, se viu confrontado, na última semana, pela declaração de Juan Guaidó como presidente interino, com o objetivo de convocar novas eleições.

Rodrigues explica que o cenário internacional influenciou a situação atual da Venezuela. A mudança de governos que ocorreu em países da América do Sul fez com que Maduro perdesse apoios que ele tinha e ganhasse pressões contrárias ao seu governo. Ao mesmo tempo, com a chegada do governo Trump, os EUA também começam a pressionar mais o país.

“E aí surge uma liderança jovem estudantil, de 35 anos. A impressão que se tem é que Guaidó emergiu nessas últimas eleições da Assembleia, e de certa forma pegou o governo de surpresa, pois ele não estava na mira de Maduro. Um ator político importante, que já foi reconhecido pelos governos estrangeiros”, diz.

Logo que a declaração de Guaidó aconteceu, foi apoiada pelos EUA, seguida do Brasil e de outros países. Na opinião do especialista, as decisões dessas nações devem ser tomadas com cautela. Ele diz que diante de situações que ferem a democracia e violam os direitos humanos, deve haver uma luta pela justiça, mas que essa manifestação deve acontecer através das Organizações Multilaterais, como a ONU e a OEA.

“O Brasil é um país muito grande na América Latina, então é como um animal que quando se move, causa um desconforto nos outros que são menores. O Brasil precisa se mover com muita cautela. Movidas muito rápidas, muito drásticas, podem gerar problemas com outros países, inclusive no futuro”, diz Rodrigues.

Futuro

“O fato dos EUA estarem jogando todas as fichas pra derrubar o Maduro, não significa que ele vá cair, não é um fato consumado, pois a Venezuela tem outros apoios também, como a China, a Rússia e a Turquia. E apoiam por quê? Porque têm interesses econômicos na Venezuela. A China tem um grande investimento em infraestrutura no país, a Rússia vende armas para a Venezuela, além dos investimentos na PDVSA [petrolífera]”, salienta Rodrigues.

Do ponto de vista do direito, Maduro ainda é o chefe de Estado de Governo da Venezuela. Há um impasse: de um lado Maduro e os países que o apóiam; de outro, Guaidó e os que se posicionaram a seu favor. Há o risco de uma guerra civil, pelo fato de haver muitos grupos de civis armados e paramilitares. O povo está saturado. A solução, para o especialista, está em uma mediação pacífica:

“O que está em cima da mesa hoje? O México e o Uruguai propuseram uma mediação. Em relações internacionais, em teoria de conflitos, quando nós temos duas partes em conflito que não conversam entre si é necessário sempre ter uma mediação. E nesse caso do Maduro com o Guaidó é preciso ter mediação, porque os dois não vão se encontrar, por razões diversas. O Maduro aceitou [a mediação], mas Guaidó não. Eu creio que haja uma solução diplomática com mediação: poderiam estar de um lado os dois países que já propuseram ajuda, e de outro, países próximos a Guaidó. Faria-se um grupo de mediadores misto, plural, se fazendo várias tentativas de uma transição política pacífica no país”. 

 

 

 

 

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