DEBATE

Seminário discute proteção de crianças e adolescentes dentro da Igreja

Segunda edição do Seminário Sanando as Próprias Feridas será realizada virtualmente e debaterá a proteção de menores contra abusos

Thiago Coutinho,
Da redação

De 8 a 10 de abril, Comissão Especial de Proteção da Criança e do Adolescente da CNBB, a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) e o Núcleo Lux Mundi realizam o II Seminário Sanando as Próprias Feridas. O evento, que será apresentado em caráter totalmente virtual, tem como objetivo discutir as principais ações e medidas da Igreja no que se refere à proteção dos menores.

À luz da carta do Papa Francisco, “Vos Estis Lux Mundi”, ou “Vós sois a luz do mundo”, em português, o Seminário será focado em três temas: escuta e cuidado das vítimas no seu aspecto pastoral, espiritual e psicológico, visando a cura das feridas e a reconciliação; enfrentamento de casos específicos de denúncias e seus aspectos jurídico e canônico; e orientação na elaboração de Diretrizes para a proteção da criança e do adolescente na igreja do Brasil.

“Estes temas, no primeiro dia, serão abordados pelo cardeal e presidente da Comissão Pontifícia de Proteção de Menores, cardeal Sean Patrick O’Malley, em relação ao documento escrito pelo Papa'”, explica Nelson Giovanelli, único membro brasileiro da Comissão para Proteção de Menores nomeado pelo Santo Padre e um dos responsáveis pela organização do seminário.

Aspectos jurídicos e canônicos

Um dos pontos apontados pelo Santo Padre é de que a Igreja enfrente os casos de denúncias sob os pontos de vista jurídico e canônico. De acordo com Giovanelli, o trabalho do serviço diocesano de proteção dos menores é quem dará um encaminhamento à vítima.

“Também é necessário um acompanhamento do suposto agressor, para que se verifique a verossimilhança da denúncia e a veracidade dos fatos. Quem colocará em prática isto, em primeiro lugar, será o serviço diocesano. Mas quem cuidará do caso de forma específica será o Tribunal Eclesiástico”, detalha.

Eliane De Carli, presidente do Núcleo Lux Mundi, estes cuidados têm como objetivo aplacar a dor dessas vítimas. “Portanto, nos casos de menores que foram vítimas de violência sexual no seio da Igreja, elas e a família terão um acompanhamento que ajude a minimizar as feridas que ficaram”, afirma.

Haverá um grupo se encarregará de capacitar essas pessoas (sacerdotes, religiosos, religiosas, catequistas etc.) para que possam desenvolver este trabalho de proteção. “É importante ressaltar que estas pessoas deverão estar bem formadas e preparadas para este serviço à Igreja. Muitas dioceses e congregações religiosas já possuem bem definidos quem são os integrantes destes serviços. Aqueles, porém, que necessitarem de nossa ajuda, poderão a qualquer tempo solicitá-la”, garante.

Inciativas no Brasil

Atualmente, segundo Eliane, o Núcleo Lux Mundi é responsável por aplicar essas medidas de proteção aos menores em solo brasileiro.

“A finalidade [do Núcleo] é a de coordenar e ajudar a facilitar a organização dos trabalhos de instalação das comissões diocesanas de proteção de crianças, adolescentes e pessoas vulneráveis nas estruturas pastorais da igreja católica do brasil, dioceses e congregações religiosas, de acordo com o pedido do Papa Francisco na sua Carta Apostólica”, detalha.

Um grupo de vítimas de abuso sexual foi formado para um projeto piloto como base para Conselho Consultivo de Vítimas. Essas pessoas passaram por experiências de abuso e se colocaram à disposição para relatar sua superação. 

“E foi assim que demos início para que a voz dessas pessoas fosse escutada por parte da Igreja. Este grupo se reuniu com a presidência da CNBB e começou a se trabalhar no sentido de se criar um escritório que fosse uma força-tarefa — e este escritório nasceu para ajudar as dioceses de todo o Brasil para que os serviços de proteção implantados, como pedido pelo Papa”, detalhou

Data limite

Desde o início de seu pontificado, o Papa tem sido muito sucinto no que se refere à proteção dos menores. A data estipulada pelo Santo Padre para que as igrejas estivessem preparadas para tratar estas denúncias era junho de 2020. Mas a pandemia mudou estes planos.

“É claro que isto não justifica não termos conseguido implantar. Estamos bastante atrasados, mas estamos criando esforços para que isto aconteça. Metade das dioceses do Brasil já tiveram os membros nomeados pelos seus bispos. É um caminho longo a ser feito, não só no Brasil, mas no mundo todo”, disse Giovanelli.

“É o que temos visto também em outras partes do mundo”, acrescenta Eliane. “Como disse recentemente Dom Walmor, ‘o Agir se inspira na palavra de ordem: tolerância zero em relação à violência’. Nesta perspectiva, em que pese nosso projeto prever em torno de quatro anos para ser totalmente implementado, trabalhamos para fazer avançar rapidamente a cultura da prevenção na igreja do Brasil”, finaliza.

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