Bento XVI

Papa deixa mensagem de Natal aos membros da Cúria Romana

"Aprender novamente a capacidade de reconhecer a culpa e dar o primeiro passo em direção ao outro para construir a paz". Esses foram os votos do Papa Bento XVI no tradicional encontro de final de ano com a Cúria Romana para os cumprimentos de Natal esta manhã, 21, na Sala Clementina, no Vaticano.

Em seu discurso, o Santo Padre manifestou sua gratidão aos membros da Cúria Romana, do Governo e representantes  pontifícios pelo serviços generosos prestados à Igreja e destacou o amor de Deus manifestado no nascimento do Menino Jesus. "Aquele Menino que adoramos em Belém nos convida a sentir o imenso amor de Deus, aquele Deus que desceu do Céu e tornou-se perto de cada um de nós para nos tornar seus filhos, parte da sua própria família".

Bento XVI recordou alguns importantes eventos eclesiais do ano: as suas viagens à África, à Terra Santa e à República Tcheca; o Sínodo para a África e a convocação do Ano Sacerdotal.

África: Visita Pontifícia e Sínodo

O Papa recordou sua viagem à Camarões e Angola e o Sínodo para a África, onde se experimentou a eclesiologia do Concílio Vaticano II:

"Por ocasião da minha visita à África tornou-se evidente, em primeiro lugar, a força teológica e pastoral do Primado Pontifício como ponto de convergência para a unidade da Família de Deus. No Sínodo emergiu ainda mais fortemente a importância da colegialidade – da unidade dos bispos, que recebem o seu ministério justamente pelo fato que entram na comunidade dos Sucessores dos Apóstolos: cada um é bispo, Sucessor dos Apóstolos, somente enquanto partícipe da comunidade daqueles nos quais continua o Collegium Apostolorum na unidade com unidade com Pedro e com o seu Sucessor."

O Sínodo abordou o tema da reconciliação, da justiça e da paz, que "podia ser confundido como um tema político", disse o Papa:

"Mas nisso não se devia ceder à tentação de tomar pessoalmente em mão a política, e de pastores se transformar em guias políticos. Efetivamente, a questão muito concreta diante da qual os pastores se encontram continuamente é justamente essa: como podemos ser realistas e práticos sem atribuir-nos uma competência política que não nos cabe? Podemos também dizer: tratava-se do problema de uma laicidade positiva, praticada e interpretada de modo justo."

Em seguida, Bento XVI observou que os Padres sinodais conseguiram se manter numa dimensão pastoral reiterando, diante das tragédias do continente africano, que a paz pode realizar-se somente através de uma realidade pré-política que é a da reconciliação com Deus.

O Papa afirmou que sem a reconciliação com Deus o homem não se reconcilia nem com o próximo nem consigo mesmo. É necessário fazer como Cristo, que deu o primeiro passo:

"Primeiro ir ao encontro do outro, oferecer-lhe a reconciliação e assumir o sofrimento que comporta a renúncia ao próprio ter razão":

"Devemos hoje adquirir novamente a capacidade de reconhecer a culpa, devemos nos libertar da ilusão de que somos inocentes. Devemos adquirir a capacidade de fazer penitência, de deixar-nos transformar; de ir ao encontro do outro e de fazer-nos receber de Deus a coragem e a força para uma tal renovação. Neste nosso mundo de hoje devemos redescobrir o Sacramento da penitência e da reconciliação. O fato de eles terem em grande parte desaparecido dos hábitos existenciais dos cristãos é um sintoma de uma perda de veracidade em relação a nós mesmos e a Deus; uma perda que coloca em perigo a nossa humanidade e diminui a nossa capacidade de paz."

Jordânia e Terra Santa

Recordando a viagem à Jordânia e à Terra Santa, o Papa falou dos sofrimentos e das esperanças do povo palestino. Em seguida, recordou a visita ao Memorial do Holocausto:

"A visita ao Yad Vashem significou um encontro desconcertante com a crueldade da culpa humana, com o ódio de uma ideologia turvada que, sem nenhuma justificação, entregou milhões de pessoas humanas à morte e que com isso, em última análise, quis expulsar também Deus do mundo, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó e o Deus de Jesus Cristo. Assim, ele é em primeiro lugar um monumento comemorativo contra o ódio, uma veemente evocação à purificação e ao perdão, ao amor."

Depois recordou os seus encontros nos lugares onde Jesus viveu, morreu e ressuscitou. "Foi como um tocar a história de Deus conosco, afirmou o papa reiterando com veemência que "a fé não é um mito":

"É história real, cujos traços podemos tocar com as mãos. Esse realismo da fé nos faz particularmente bem nas dificuldades do presente. Deus mostrou-se verdadeiramente. Em Jesus Cristo Ele verdadeiramente se fez carne. Como Ressuscitado Ele permanece verdadeiro Homem, abre continuamente a nossa humanidade a Deus e é sempre a garantia do fato de que Deus é um Deus próximo. Sim, Deus vive e está em relação conosco. Em toda a sua grandeza é, todavia, o Deus próximo, o Deus conosco, que continuamente nos exorta: Deixem-se reconciliar comigo e entre vocês! Ele sempre dá em nossa vida pessoal e comunitária a tarefa da reconciliação."

Ano Sacerdotal

Por fim, o Santo Padre recordou o Ano Sacerdotal afirmando que os sacerdotes devem estar "a disposição de todos": para aqueles que conhecem Deus de perto e para aqueles para os quais Ele é o Desconhecido". Em seguida, dirigiu a todos os sacerdotes a seguinte felicitação para o Natal:

"Que nós nos tornemos sempre mais amigos de Cristo e, portanto, amigos de Deus e que deste modo possamos ser sal da terra e luz do mundo. Um santo Natal e um bom Ano Novo!"

Saudação ao Papa

Em seguida, o decano do Colégio dos Cardeais, Cardeal Angelo Sodano, dirigiu uma saudação ao Papa destacando a proximidade que une a todos no Natal. "O Natal é, para as nossas famílias cristãs, uma boa oportunidade para se unir e reforçar os seus laços de amor mútuo. Em tais circunstâncias, a Família Pontifícia quer se reunir em torno de você, Santo Padre, para renovar os sentimentos de profunda comunhão eclesial e para desejar um Feliz e Santo Natal".

Dom Angelo também expressou o desejo da Cúria Romana, em vivenciar com o Sucessor de Pedro, uma "Última Ceia de 'aprendizagem', dedicada ao avanço do Reino de Deus", expressão usada pelo Papa Paulo VI.
 
Assim, o cardeal reafirmou o compromisso dos membros do Colégio Cardinalício de "colaborar com Vossa Santidade, para a expansão do Reino de Deus no mundo de hoje".

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