Viagem ao Bahrein

Papa aos jovens: Não sejam turistas da vida, mas artistas das relações

 

Francisco encontrou-se com 800 jovens em sua Viagem Apostólica ao Bahrein e exortou-os para a importância das relações, do caminhar junto e afirmou: “A Igreja está convosco”

Da Redação com Vatican News

Encontro do Papa com os jovens no Reino do Bahrein / Foto:REUTERS/Yara Nardi

Na tarde deste sábado, 5, o Papa Francisco visitou a Escola do Sagrado Coração na cidade de Awali para um encontro com cerca de 800 jovens. No seu discurso, Francisco disse que estava contente por ter visto o Reino do Bahrein, como um país de encontro e diálogo entre diferentes culturas e credos”. 

Dirigindo-se aos jovens presentes disse que tendo-os diante dos olhos, observou que mesmo aqueles que não são da mesma religião, não possuem receio de estar juntos e que uma convivência das diferenças não seria possível sem eles. Até mesmo o futuro estaria ameaçado. Diante do que viu, acrescentou:

“Como se fôsseis inquietos viajantes abertos ao inédito, vós, jovens, não temeis confrontar-vos, dialogar, ‘fazer barulho’ e misturar-vos com os outros, tornando-vos a base duma sociedade amiga e solidária”

O Pontífice refletiu que é fundamental derrubar determinadas barreiras nos contextos plurais em que vivemos. Fazer isso com a finalidade de se inaugurar um mundo que seja mais à medida do homem, mais fraterno, ainda que isso signifique enfrentar numerosos desafios. 

A partir dos testemunhos dos jovens que ocorreram antes de seu discurso Francisco disse que faria três convites: “não tanto para vos ensinar, mas sobretudo para vos encorajar”.

A cultura do cuidado

O primeiro convite que o Papa fez aos jovens foi o de abraçar a cultura do cuidado. “Cuidar”, disse, “significa desenvolver uma atitude interior de empatia, um olhar atento que nos leva para fora de nós mesmos, uma presença gentil que vence a indiferença e nos impele a interessar-nos pelos outros”. 

“Este é o ponto de virada, o início da novidade, o antídoto contra um mundo fechado que, impregnado de individualismo, devora os seus filhos; contra um mundo enclausurado pela tristeza, que gera indiferença e solidão”

 Disse ainda que como cristão, pensa em Jesus e vê que a sua ação sempre esteve animada pelo cuidado. “Cuidou das relações com quantos encontrava nas casas, nas cidades e pelo caminho: fixou as pessoas nos olhos, prestou atenção aos seus pedidos de ajuda, aproximou-se e tocou com a mão as suas feridas”. 

Reiterando mais uma vez a todos, o Santo Padre afirmou, chamando os jovens de amigos, que é bom tornar-se cultores do cuidado, artistas das relações. Apesar de requerer um treino constante, pediu que não esquecessem de cuidar primeiramente de si mesmos. Aconselhou a olharem menos para o exterior e mais para o interior, aquela parte escondida e preciosa que é a alma e o coração. 

“ Tentai escutá-lo em silêncio, criar espaços para estar em contato com a vossa interioridade, para sentir o dom que sois, para acolher a vossa existência e não a deixar fugir de mão”

 Ponderando em seguida para que não se tornem turistas da vida o Papa aconselhou os presentes a falarem com Deus, a falarem de si mesmos e daqueles que encontrais diariamente, assim como aqueles que o Senhor dá como companheiros de viagem.  “Amigos, por favor, nunca vos esqueçais duma coisa: sois todos, sem exceção, um tesouro, um tesouro único e precioso. Por isso, não mantenhais a vida num cofre, pensando que é melhor poupar-se e que o momento de a gastar ainda não chegou! 

Semente da fraternidade

Francisco continuou suas palavras afirmando que se abraçarmos a cultura do cuidado contribuímos para fazer crescer a semente da fraternidade. E aqui está o segundo convite que dirigiu: semear fraternidade. “Sede campeões de fraternidade. Este é o desafio de hoje para vencer amanhã, o desafio das nossas sociedades cada vez mais globalizadas e multiculturais”

 O Pontífice advertiu  que quando não se trabalha com o coração, pode-se com isso ampliar as distâncias em relação aos outros, como também as diferenças étnicas, culturais e religiosas. Conscientizou que quando as diferenças se mostram mais fortes que a fraternidade que une, corre-se o risco do conflito. “A vós, jovens, que sois mais diretos e mais capazes de gerar contatos e amizades, superando os preconceitos e as barreiras ideológicas, quero dizer: sede semeadores de fraternidade e recolhereis futuro, porque o mundo só terá futuro na fraternidade! É um convite que encontro no coração da minha fé”.

Desafio de fazer opções na vida

Ao fazer o terceiro convite, relacionado com o desafio de fazer opções na vida, Francisco disse: “Como bem sabeis pela experiência de cada dia, não existe uma vida sem desafios a enfrentar. E perante um desafio, como numa encruzilhada, sempre é preciso escolher, entrar no jogo, arriscar e  decidir. Mas isto requer uma boa estratégia: não se pode improvisar, vivendo só por instinto ou circunscrito a cada instante!”. 

Sugeriu o caminho de crescimento na arte de orientação das escolhas, das justas decisões e direções. Ao concluir o ponto, disse “O meu conselho é este: avançar sem medo, e nunca sozinhos! Deus não vos deixa sozinhos, mas, para vos dar uma mão, espera que Lhe peçais. Acompanha-nos e guia-nos, não com prodígios e milagres, mas falando delicadamente através dos nossos pensamentos e sentimentos”

Para que isso aconteça, Francisco exortou os jovens da necessidade de aprender a distinguir a voz de Deus através da oração silenciosa, do diálogo íntimo com Ele, guardando no coração aquilo que nos faz bem e dá paz. 

Por fim o Papa concluiu seu encontro com os jovens afirmando: “Amigos, esta aventura das opções, não a devemos realizar sozinhos. Por isso deixai que vos diga uma última coisa: procurai sempre, antes das sugestões da Internet, bons conselheiros na vida, pessoas sábias e confiáveis que vos possam orientar, ajudar. Penso nos pais e professores, mas também nos idosos, nos avós e num bom acompanhante espiritual. Cada um de nós precisa de ser acompanhado no caminho da vida!”.

Finalizou alertando os jovens que o mundo precisa deles, da criatividade, dos sonhos, coragem, simpatia, sorrisos, da alegria contagiante e também daquele mínimo de turbulência que sabeis trazer a cada situação e que ajuda a sair do torpor de hábitos e esquemas repetitivos em que às vezes encaixilhamos a vida. “Como Papa, quero dizer-vos: a Igreja está convosco e tem tanta necessidade de vós, de cada um de vós, para rejuvenescer, explorar novas sendas, experimentar novas linguagens, tornar-se mais jubilosa e hospitaleira”.

 

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