Palavra do Papa

Discurso de Bento XVI ao novo Embaixador do Congo

Senhor Embaixador,

tenho o prazer de receber-vos por ocasião da apresentação das Cartas que vos acreditais na qualidade de Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Democrática do Congo ante a Santa Sé. Obrigado por vossas amáveis palavras, através das quais me transmitiu a respeitosa homenagem do presidente da República, Sua Excelência Senhor Joseph Kabila Kabange, e do povo congolês. Tive o prazer de conhecer vosso presidente em junho de 2008. Peço-vos que gentilmente transmitais a ele os bons votos que desejo para ele próprio e para o desempenho de suas funções no serviço à Nação. Que Deus possa guiar seus esforços para chegar à paz, garantia de uma existência digna e de um desenvolvimento integral. Saúdo também com cordialidade os diferentes responsáveis e todos os habitantes de vosso país.

Vossa presença, Senhor Embaixador, à frente de vossa embaixada, após longos anos de vacância, manifesta o desejo do Chefe de Estado e de Governo de reforçar as relações com a Santa Sé, e eu agradeço-vos. Destaco também que essa decisão situa-se no 50º aniversário da independência de vossa pátria. Possa esse Jubileu permitir à nação empreender um novo começo.

Vosso país tem experimentado ao longo destes anos momentos particularmente difíceis e trágicos. A violência abateu-se, cega e sem piedade, sobre um grande segmento da população, fazendo-se multiplicar sob o seu jugo brutal e insuportável sementes de ruína e morte. Eu penso particularmente nas mulheres, jovens e crianças cuja dignidade foi pisoteada pela violação de seus direitos. Gostaria de vos expressar minha solicitude e assegurar-vos as minhas orações. A Igreja Católica, por sua vez, foi ferida em muitos dos seus membros e suas estruturas. Ela deseja promover a cura interior e a fraternidade. A Conferência Episcopal falou largamente sobre isso em sua mensagem de junho passado. Por conseguinte, deve-se agora empregar todos os meios políticos e humanos para acabar com o sofrimento. Deve-se também fazer reparação e render justiça, como as palavras justiça e paz inscritas na divisa nacional convidam. O compromisso de Goma, em 2008, e a implementação de acordos internacionais, nomeadamente o Pacto sobre Segurança, Estabilidade e Desenvolvimento da Região dos Grandes Lagos, são certamente necessários, mas o mais urgente é trabalhar nas condições de sua aplicabilidade. Eles não poderão se realizar antes de uma reconstituição gradual do tecido social tão gravemente ferido, incentivando a primeira sociedade natural que é a família, e o fortalecimento das relações interpessoais entre os congoleses fundadas sobre educação integral, fonte de paz e justiça. A Igreja Católica, Senhor Embaixador, deseja continuar a oferecer sua contribuição a essa nobre tarefa através de todas as estruturas das quais dispõe, graçãs à sua tradição espiritual, educativa e sanitária.

Convido os Poderes públicos a fazer o possível para colocar fim à situação de guerra que, infelizmente, ainda existe em certas províncias do país, e a se dedicar à reconstrução humana e social da nação, no respeito dos direitos humanos fundamentais. A paz não é meramente a ausência de conflitos, ela também é um dom e uma missão que exige dos cidadãos e do Estado. A Igreja está convita de que a paz não pode ser alcançada sem o "respeito pela 'gramática' escrita no coração do homem pelo divino Criador", ou seja, através de uma resposta humana em harmonia com o plano de Deus. "A “gramática” transcendente, ou seja, o conjunto de regras da ação individual e do recíproco relacionamento entre as pessoas de acordo com a justiça e a solidariedade, está inscrita nas consciências, nas quais se reflete o sábio projeto de Deus" (cf . Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 2007, 3). Apelo à Comunidade Internacional, envolvida em diversos níveis nos sucessivos conflitos que o país conheceu, a se mobilizar para contribuir eficazmente a levar a República Democrática do Congo à paz e à legalidade.

Após tantos anos de sofrimento, Excelência, vosso país precisa embarcar decididamente no caminho da reconciliação nacional. Vossos bispos declararam este ano de aniversário para a nação, um ano de graça, alegria e renovação, um ano de reconciliação para construir um Congo solidário, próspero e unido. Uma das melhores maneiras de fazer isso é promover a educação das jovens gerações. O espírito de reconciliação e de paz, nascido na família, é afirmado e ampliado na escola e na universidade. Os congoleses desejam uma boa educação para seus filhos, mas a carga de seu financiamento direto pelas famílias é pesado e insuportável para muitos. Estou certo de que uma solução justa pode ser encontrada. Ao ajudar economicamente os pais e através do financiamento regular dos educadores, o Estado fará um investimento que beneficia a todos. É essencial que as crianças e os jovens sejam educados com paciência e tenacidade, especialmente aqueles que foram privados de instrução e treinados para matar. Deve-se não apenas ensinar-lhes conhecimentos que os ajudarão em sua futura vida adulta e profissional, mas oferecer-lhes sólidos fundamentos morais e espirituais que lhes ajudem a rejeitar a tentação da violência e do ressentimento para escolher o que é certo e verdadeiro. Através de suas estruturas educacionais e de acordo com suas possibilidades, a Igreja pode ajudar e complementar as do Estado.

Os importantes recursos naturais com que Deus dotou a vossa terra e que se tornaram, lamentavelmente, uma fonte de ganância e de lucros desproporcionados para muitos, dentro e fora do vosso país, permitem amplamente, graças a uma distribuição justa dos ganhos, ajudar as pessoas a saírem da pobreza e garantir a sua segurança alimentar e sanitária. As famílias congolesas e a educação dos jovens serão as principais beneficiárias. O dever de justiça promovido pelo Estado consolidará a reconciliação e a paz nacional, e permitirá que a população desfrute de uma vida serena, base necessária para a prosperidade.

Através de vós, também gostaria de enviar saudações aos membros da comunidade católica de vosso país, especialmente aos bispos, exortando-os a serem testemunhas generosas do amor de Deus e a contribuir para a construção de uma nação unida e fraterna, onde todos sintam-se amados e respeitados plenamente.

No momento em que começa a vossa missão, ofereço-vos, Senhor Embaixador, os meus melhores votos pela nobre tarefa que tendes pela frente, assegurando-vos sempre que encontrareis um serviço atento e uma comprensão cordial junto de meus colaboradores.

Sobre Vossa Excelência, vossa família, sobre todo o povo congolês e seus Dirigentes, invoco de coração grande abundância das Bênçãos divinas.

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