Palavra do Papa

Discurso de Bento XVI à Penitenciária Apostólica - 11/03/2010

Queridos amigos,

tenho o prazer de encontrar-vos e dirigir a cada um de vós as minhas boas-vindas, por ocasião do Curso anual sobre o Foro Interno, organizado pela Penitenciaria Apostólica. Saúdo cordialmente o Arcebispo Fortunato Baldelli, que, pela primeira vez, como Penitenciário Maior, guiou as vossas sessões de estudo e agradeço-lhe pelas palavras que me dirigiu. Com ele, saúdo o Bispo Gianfranco Girotti, Regente, o pessoal da Penitenciária e a todos vós que, pela participação nesta iniciativa, expressam a forte necessidade de aprofundar um tema essencial para o ministério e a vida dos presbíteros.

O vosso curso se coloca, providencialmente, no Ano Sacerdotal, que proclamei devido ao 150º aniversário do nascimento para o Céu de São João Maria Vianney, que exerceu, de modo heroico e fecundo, o ministério da Reconciliação. Como afirmei na Carta de proclamação: "Todos nós, sacerdotes, deveríamos sentir que nos tocam pessoalmente estas palavras que ele colocava na boca de Cristo: 'Encarregarei os meus ministros de anunciar aos pecadores que estou sempre pronto a recebê-los, que a minha misericórdia é infinita'. Do Santo Cura d’Ars, nós, sacerdotes, podemos aprender não só uma inexaurível confiança no sacramento da Penitência que nos instigue a colocá-lo no centro das nossas preocupações pastorais, mas também o método do 'diálogo de salvação' que nele se deve realizar".

Onde estão fundadas as raízes da heroicidade e da fecundidade, com as quais São João Maria Vianney viveu o próprio ministério de confessor? Antes de tudo, em uma intensa dimensão penitencial pessoal. A consciência dos próprios limites e a necessidade de recorrer à Divina Misericórdia para pedir perdão, para converter o coração e para ser sustentado no caminho de santidade, são fundamentais na vida do sacerdote: somente quem primeiro experimentou a grandeza maior pode ser convicto anunciador e administrador da Misericórdia de Deus. Todo sacerdote torna-se ministro da Penitência pela configuração ontológica a Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, que reconcilia a humanidade com o Pai; todavia, a fidelidade no administrar o Sacramento da Reconciliação está confiada à responsabilidade do sacerdote.

Vivemos em um contexto cultural marcado por uma mentalidade hedonista e relativista, que procura eliminar Deus do horizonte da vida, não favorece a aquisição de um quadro claro de valores de referência e não ajuda a discernir o bem do mal e a desenvolver um justo senso de pecado. Essa situação torna mais urgente o serviço de administrador da Misericórdia Divina. Não devemos esquecer, de fato, que existe um tipo de círculo vicioso entre o ofuscamento da experiência de Deus e a perda do senso de pecado. No entanto, se olharmos para o contexto cultural em que viveu São João Maria Vianney, vemos que, em muitos aspectos, não era assim tão diferente do nosso. Mesmo no seu tempo, de fato, existia uma mentalidade hostil à fé, expressa por forças que cercavam e tentavam impedir o exercício do ministério. Em tais circunstâncias, o Santo Cura d'Ars fez "da igreja a sua casa", para conduzir os homens a Deus. Ele viveu com radicalidade o espírito de oração, a relação pessoal e íntima com Cristo, a celebração da Santa Missa, a Adoração eucarística e a pobreza apostólica, tornando-se, para seus contemporâneos, um sinal evidente da presença de Deus, conduzindo muitos penitentes para a escuta em seu confessionário. Nas condições de liberdade em que, hoje, podemos exercer o ministério sacerdotal, é necessário que os padres vivam de modo "muito mais intenso" a sua resposta à vocação, porque somente aqueles que se tornam no dia a dia presença viva e clara do Senhor podem suscitar nos fiéis um senso de pecado, dar coragem e fazer nascer o desejo do perdão de Deus.

Queridos irmãos, é necessário retornar para o confessionário, como lugar no qual celebrar o Sacramento da Reconciliação, mas também como lugar em que "habitar" com mais frequência, para que o fiel possa encontrar misericórdia, conselho e conforto, sentir-se amado e compreendido por Deus e experimentar a presença da Misericórdia Divina, ao lado da Presença real na Eucaristia. A "crise" do sacramento da Penitência, de que muitas vezes se fala, interpela, acima de tudo, ao padre e sua grande responsabilidade de educar o Povo de Deus às radicais exigências do Evangelho. Em particular, peço que vos dediqueis generosamente à escuta da confissão sacramental; que guiem com coragem o rebanho, para que ele mesmo não se conformem com este mundo (cf. Rm 12, 2), mas saiba fazer escolhas também contra a corrente, evitando a acomodação ou compromissos com ela. Para isso, é importante que o sacerdote tenha uma permanente tensão ascética, nutrida na comunhão com Deus, e se dedique a uma atualização constante no estudo da teologia e das ciências humanas.

São João Maria Vianney sabia estabelecer com os penitentes um verdadeiro e genuíno "diálogo de salvação", mostrando a beleza e a grandeza da bondade do Senhor e suscitando o desejo de Deus e do Céu, de que os santos são os primeiros portadores. Ele afirmava: "O Bom Deus sabe tudo. Mesmo antes de vos confessar, ele sabe que ainda há pecados e ainda assim te perdoa. Como é grande o Amor de nosso Deus, que vai tão longe a ponto de esquecer voluntariamente o futuro, justamente para nos perdoar" (Monnin A., Il Curato d’Ars. Vita di Gian-Battista-Maria Vianney, vol. I, Torino 1870, p. 130). É tarefa do sacerdote favorecer aquela experiência do "diálogo de salvação", que, nascendo da certeza de ser amado por Deus, ajuda o homem a reconhecer o próprio pecado e a introduzir-se, gradualmente, naquela estável dinâmica de conversão do coração, que leva à radical renúncia do mal e a uma vida de acordo com Deus (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1431).

Queridos sacerdotes, que extraordinário ministério o Senhor confiou a nós! Como na Celebração Eucarística Ele se coloca nas mãos do sacerdote, para continuar a estar presente em meio a seu Povo, analogamente, no Sacramento da Reconciliação, Ele se confia ao padre para que os homens façam a experiência do abraço com que o Pai recebe de volta o filho pródigo, devolvendo-lhe a dignidade filial e reconstituindo plenamente sua herança (cf. Lc 15, 11-32).

A Virgem Maria e o Santo Cura d'Ars nos ajudem a experimentar, em nossas vidas, a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do Amor de Deus (cf. Ef 3, 18-19), para sermos fiéis e generosos administradores. Agradeço a todos de coração e, de bom grado, vos concedo a minha Bênção.

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