Análise

Crise de refugiados: especialistas comentam possíveis soluções

Crise de refugiados já levou mais de 700 mil pessoas para a Europa só pelo Mar Mediterrâneo; especialistas acreditam que solução está nos países de origem

Jéssica Marçal
Da Redação

Voluntários trabalham na recepção aos refugiados prestando os primeiros atendimentos necessários / Foto: Danusa Rego - CN Roma

Voluntários trabalham na recepção aos refugiados prestando os primeiros atendimentos necessários / Foto: Danusa Rego – CN Roma

O fluxo migratório gerado pela recente crise de refugiados, ainda em curso, levantou várias questões para debate, como qual é a solução para a crise e o que fazer com o elevado número de pessoas deslocadas. Especialistas apontam que o trabalho deve começar pelos países de origem desses refugiados, a fim de sanar a raiz do que causa a imigração.

Segundo dados do Acnur, a agência da ONU para os refugiados, em 2014, os conflitos e as perseguições obrigaram uma média diária de 42.500 mil pessoas a abandonar suas casas e buscar proteção em outro lugar, dentro de seus países ou fora deles. Aproximadamente 13,9 milhões de indivíduos tornaram-se novos deslocados em 2014. Em outubro passado, o órgão informou que, só pelo Mar Mediterrâneo, chegaram à Europa mais de 700 mil pessoas.

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“Tem que ser colocado em questão o que acontece nas regiões em que esses refugiados estão, porque se não você só vai ‘enxugar gelo’ e não vai resolver o cerne do problema”, afirma o geógrafo Henrique Alckmin, professor universitário.

O continente europeu tem sido o maior destino dos refugiados porque lá é o refúgio mais próximo. O percurso da Síria até a Grécia, por exemplo, é fácil pelo mar, se a embarcação for boa e respeitar o número adequado de passageiros. O problema nos países europeus tem sido o acolhimento.

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Apesar de muito ser falado sobre esse aspecto, Henrique acredita que a solução para a crise está em resolver os problemas nos países de origem, para evitar que a população saia de lá. Ele considera que é difícil para um país não só controlar o fluxo de pessoas que chegam e atendê-las do ponto de vista humano, mas também pensar o que fazer com elas depois. “Onde que elas vão atuar, morar, trabalhar? De que forma vão poder sobreviver? Então é uma situação que tem que ser resolvida no país de origem dos refugiados”, reforça Alckmin.

Oriente Médio: quem dará a solução?

No caso do Oriente Médio, principal região que exporta refugiados, o professor universitário Mohamed Habib explica que as soluções são desenhadas pelos países centrais mais fortes e por suas organizações. No caso da Síria, como ela tem o apoio dos russos, quem vai desenhar o que vai acontecer lá é o processo de negociação entre a Rússia e os Estados Unidos, o que já está em curso.

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“A minha opinião é a seguinte: vai ser uma negociação relativamente rápida para uma questão muito complexa, vai ser superficial, para dar uma impressão para o mundo de que a guerra na Síria está acabada, mas vai resultar numa situação tão dramática quanto a dos iraquianos e dos líbios”.

O agravante dos grupos extremistas

Ao pensar soluções para os conflitos políticos no Oriente Médio, não há como ignorar também a ação de grupos extremistas, que muitas vezes levantam a bandeira religiosa para massacrar populações. Um exemplo claro no caso da Síria é o Estado Islâmico, que persegue cristãos e outras minorias étnico-religiosas.

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Para Mohamed, por trás desses grupos extremistas está a questão política. Ele explica que é preciso estudar caso a caso para entender o porquê de tantos grupos radicais islâmicos no mundo árabe nos dias de hoje. O islamismo, afirma o professor, vive há 1400 anos em harmonia com as comunidades cristãs, judias, e justamente nos últimos anos, no quadro de cenário político, surge esse movimento.

“Por que agora? Os caras ficaram malucos de repente? Não. Tem motivos políticos por trás de tudo isso. Seja para o surgimento de grupos dessa natureza, seja por tentar pintar o quadro de uma guerra religiosa e de uma guerra santa e não de uma guerra geopolítica de interesse do ocidente dominante de um lado e do campo socialista representado por Rússia e a China de outro lado”.

Perspectivas de futuro para quem quer ir para a Europa

A incerteza marca a vida dos refugiados desde que eles saem de suas terras: não sabem se vão ser acolhidos nos países de destino e nem sequer se vão chegar. Quando chegam, não sabem se vão poder permanecer e nem por quanto tempo. O que acontecerá, então, com o fluxo migratório de agora em diante?

No caso da Síria, Mohamed acredita que uma aparente tranquilidade no país levará ao retorno de uma parte dos refugiados. Outra parte será absorvida pelos países para onde eles foram. “Não há um endereço permanente desses refugiados de hoje. Alguns vão voltar para suas terras, para a Síria. Outros podem até ficar nos países onde eles estão hoje na Europa, mas a maior parte vai entrar nesse movimento dinâmico de deslocamento”.

Muitos dos imigrantes sírios que chegaram à Europa possuem nível superior, ou seja, são pessoas capacitadas e que podem contribuir com a economia dos países que os acolheram. Mas num primeiro momento, terão que passar pela fase inicial de todo imigrante: alimentação, abrigo e cuidados médicos. “Se eles conseguem atravessar essa fase das demandas vitais e dominar parcialmente a língua do novo local, eles serão bem valiosos para os países aonde eles estiverem”, opina Mohamed.

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