MENSAGEM

Projeto "Trabalho para todos": uma grande operação de escuta e partilha

O anúncio feito pela irmã Alessandra Smerilli, durante a apresentação na Sala de Imprensa vaticana da Mensagem do Papa para o 55º Dia Mundial da Paz

Da redação, com Vatican News

Irmã Alessandra Smerilli, a nova subsecretária do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral / Foto: Reprodução Youtube

“Diálogo entre gerações, educação e trabalho: instrumentos para construir uma paz duradoura”, o tema do 55º Dia Mundial da Paz que se celebra no dia 1º de janeiro, orienta a reflexão dos peritos que, na Sala de Imprensa da Santa Sé, chamam a atenção para diferentes aspectos da Mensagem do Papa. Destacam o conceito de paz que engloba todos os outros, chamando em causa os sonhos dos idosos que os jovens são convocados a realizar.

Cardeal Peter Turkson, prefeito do Dicastério do Vaticano para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral / REUTERS – Stefano Rellandini

Trabalhar para uma cultura do encontro

No seu discurso em inglês, o cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, prefeito do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, relaciona os versículos bíblicos com a situação atual, e recorda a falta de “vontade política de se comprometer com medidas” necessárias para responder às “crises climáticas, pandemias e desigualdades econômicas que ameaçam a vida”. Sublinha que os lucros e os ganhos obscurecem a visão a longo prazo, e destaca as consequências como as crises migratórias e o trabalho. A perspectiva a abraçar é a de promover uma “cultura do encontro”, que “exige colocar no centro de toda a atividade política, social e econômica a pessoa humana, que goza da máxima dignidade, e o respeito pelo bem comum”.

Em resposta às perguntas dos jornalistas, o cardeal Turkson voltou a falar sobre a sua vida pessoal e sobre o seu mandato como chefe do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, que expira em 2021 e que ele colocou nas mãos do Papa. “Estou aqui há cinco anos”, explicou o cardeal, “se o Santo Padre decidir que devo continuar assim será, se ele decidir redesignar-me, assim será”. “Estamos aqui”, disse ele, “para apoiar o Santo Padre no seu ministério”.

A paz não esquece a dor dos “desfigurados

A guerra não é apenas a guerra travada com armas, mas a guerra “que os humanos travaram há muito tempo com a natureza, com a mãe terra, e com outras espécies vivas”. No seu discurso, a irmã Alessandra Smerilli, secretária ad interim do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, destacou a dor daqueles que sofrem por causa dos conflitos, “homens e mulheres ‘desfigurados’ na sua aparência e dignidade”. Os jovens, no centro da Mensagem do Papa, estão lutando para salvar o planeta “deste conflito absurdo que o nosso sistema econômico declarou ao ambiente natural”. E o Papa – disse a irmã Smerilli – está com eles”. Um exemplo disto é o grande trabalho dos jovens de Economia de Francisco que estão fazendo há dois anos, propondo soluções e alianças.

O trabalho não pode ser separado dos cuidados

O trabalho, marcado pela emergência pandêmica, “está cada vez mais no centro da questão social”. Nesta frente, o Dicastério, através da Comissão Covid-19 e em colaboração com outros Dicastérios, lançou um projeto intitulado “Trabalho para todos”: “será uma grande operação de escuta – disse a irmã Smerilli – de todos aqueles que em diferentes lugares procuram soluções criativas para os problemas do trabalho. Ouvir, discernir e partilhar, criando as condições – explicou – para que algo de novo aconteça”. O último aspecto abordado diz espeito aos cuidados, que não podem ser separados do trabalho. “O cuidado, a oferta e o pedido de cuidados, será o grande desafio da sustentabilidade humana e espiritual. Se deixarmos tudo ao mercado, os descartados aumentarão, e eles serão descartados dos rendimentos e cuidados”. Serve uma cura, concluiu, “que permaneça e se torne um dom e gratuidade, expressão do princípio da fraternidade”.

Para compreender o fenômeno migratório

O Padre Fabio Baggio, subsecretário da Secção de Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, deteve-se sobre as três áreas que compõem o tema da Mensagem do Papa, salientando, contudo, que “os governantes que pensam poder resolver problemas com conflitos armados pertencem ao passado e não ao futuro”. A paz deve ser construída seguindo “uma arquitetura adequada aos desafios contemporâneos, que garanta a sua amplitude e solidez”. Padre Baggio salientou a importância de “uma comunicação sincera, frutuosa e generativa entre as velhas e as novas gerações”, como demonstrado pela segunda e terceira gerações de migrantes “cuja capacidade de diálogo intercultural se torna a força motriz por detrás de processos de integração verdadeira e eficaz”. Depois a educação, “ensino que gera cultura e assegura liberdade e responsabilidade”, e finalmente o trabalho, cuja centralidade é fundamental para a compreensão do fenômeno migratório.

Artesãos de uma paz ancorada na justiça social

Aboubakar Soumahoro, presidente da Lega Braccianti e porta-voz de Invisíveis em Movimento, invocou uma “revolução espiritual” para reconstruir o sentido de pertença à comunidade humana. No seu discurso recordou que, segundo estimativas do Banco Mundial, há quase mais 100 milhões de pessoas que vivem num estado de empobrecimento devido à pandemia da Covid-19. Pessoas que são incapazes de “satisfazer as suas próprias necessidades vitais e as das suas famílias por causa das crescentes desigualdades materiais”. Aboubakar Soumahoro acrescentou que a crise climática está também ligada à ganância e à corrupção, razão pela qual é necessário enfrentar “a perplexidade espiritual”, que pode ser combatida pela escuta, pela generosidade e sobretudo pelos caminhos indicados pelo Papa: diálogo entre gerações, educação, trabalho. Só desta forma será possível “construir a arquitetura de uma paz ancorada na justiça social em harmonia com a natureza e dentro de uma perspectiva econômica ao serviço da pessoa”. Tudo isto”, disse, “requer a ideia de uma ação social e política que seja popular e não populista. Uma política capaz de dar novamente esperança e não de exasperar os sofrimentos”.

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