Entrevista

Projeto "Papa para a Ucrânia" já ajudou um milhão de pessoas

Em entrevista, Dom Eduard Kava comenta projeto “Papa para a Ucrânia”

Da redação, com Vatican News

Cidade de Lviv, na Ucrânia./ Foto: Pixabay

Oração e caridade: estes são os braços que o Papa estendeu desde o início de seu Pontificado ao querido povo ucraniano com especial atenção aos dolorosos acontecimentos de guerra que o afligem desde 2014. Francisco chamou a atenção do mundo para essa situação em várias ocasiões, públicas e privadas, como fez no final da oração do Angelus do domingo passado, saudando com esperança o cessar-fogo na área de fronteira com a região separatista de Donbass.

Lançado em 2016 com 15 milhões de euros investidos, o Projeto “Papa para a Ucrânia” está chegando ao fim, mas deixa um rastro luminoso de cooperação ecumênica e caridade que não para. Depois do apelo de Francisco a um cessar-fogo no Donbass, nós conversamos a propósito com dom Eduard Kava, bispo auxiliar de Lviv.

A luz do Papa sobre a nossa realidade

Falar de um conflito que não terminou, chamá-lo de “ferida” em que as crianças pagam o preço mais alto, e exortar a Comunidade internacional a alcançar soluções que tragam “frutos de paz na justiça, é importante para nós ucranianos”, disse ao Vatican News o bispo auxiliar de Lviv, dom Eduard Kava.

O seu testemunho nos ajuda a repercorrer a evolução do projeto humanitário “Papa para a Ucrânia”, desejado por Francisco como sinal concreto de afeto e solidariedade, sem distinção de religião, confissão ou etnia. À disposição meios de aquecimento, medicamentos, roupas e alimentos, produtos de higiene e apoio psicossocial. “Projetos”, explica dom Kava, “todos concluídos, agora falta o trabalho de fornecimento de máquinas para um hospital dedicado às crianças”.

Um sinal de ecumenismo

A ação, confiada à supervisão do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, foi realizada nesses anos no local, através da colaboração constante da Nunciatura Apostólica, da Comissão Técnica situada em Zhaporizhia, durante o primeiro ano, e pelo Secretariado Técnico com sede em Kiev, no ano seguinte. Ao seu lado, as organizações caritativas da Igreja, mas também outras denominações cristãs e organizações internacionais especificamente encarregadas.

“Um belo sinal de ecumenismo”, comenta dom Kava, que fala de um trabalho verdadeiramente realizado em conjunto, a serviço dos pobres, das crianças com dificuldades ligadas ao stress da guerra, das famílias numerosas, dos idosos que perderam tudo e que vivem com aposentadorias muito baixas. “Aquela emergência não existe mais, porém”, ressalta o prelado, “algumas necessidades permanecem e o trabalho da Igreja ainda é necessário”.

Dom Kava: A situação é muito grave porque todos estão cansados. Todos os dias, como na guerra, há mortos e ainda há muita gente no hospital por causa das consequências da guerra e especialmente as pessoas civis, não os militares, as pessoas que ficaram nessa área ocupada, perto da linha de guerra, elas estão muito cansadas. E também os jovens que vivem na fronteira e que não podem se mover porque não têm possibilidades. É por isso que a voz da Santa Sé e do Papa é muito útil para nós ucranianos, porque faz o mundo saber que o conflito aqui desde 2016 ainda não terminou.

Em que ponto está hoje o projeto iniciado em 2016 e intitulado “Papa para a Ucrânia” com todas as suas implicações no campo educacional, social e da saúde?

Dom Kava: Os projetos relacionados a ele estão quase todos terminados. Agora, o único que permanece está relacionado com a compra de equipamento médico para um hospital em construção. Nos últimos anos gastamos cerca de 15 milhões de euros provenientes da ajuda da Santa Sé e podemos dizer que ajudamos mais de 980 mil pessoas em vários campos. Hospitais, pessoas pobres, famílias numerosas, idosos que permaneceram sozinhos e sem nada, sem comida, sem roupa, sem aquecimento porque no nosso país normalmente faz muito frio no inverno. Agora, podemos dizer que nos encontramos na fase final do projeto do Papa.

A ideia desse projeto era certamente apoiar uma situação de emergência, mas também tentar iniciar uma reconstrução. Hoje, depois de tantos anos, podemos falar de reconstrução?

Dom Kava: Posso dizer que também fizemos muito na reconstrução de casas para dar novamente às pessoas uma aparência de normalidade. Hoje, podemos dizer que a situação não é tão trágica como 4-5 anos atrás, mas é evidente que, por exemplo, as famílias com muitas crianças e idosos que recebem pequenas aposentadorias ainda precisam da ajuda da Igreja.

Sobre as muitas pessoas que deixaram o país e se esperava que voltassem. O que pode nos dizer?

Dom Kava: Muitos dos que partiram regressaram às suas casas. Todos acreditavam que a guerra terminaria em poucos meses, em vez disso são seis anos e não há fim. É por isso que voltaram para suas casas, exceto aqueles que deixaram a área ocupada e não voltam por causa do perigo de vida.

Outro aspecto do projeto desejado pelo Papa foi a colaboração entre a Caritas e as Igrejas latina e greco-católica. Desse ponto de vista vocês conseguiram se unir?

Dom Kava: Neste projeto todos nós trabalhamos juntos, não só a Caritas latina e a Caritas greco-católica, colaboramos com os protestantes e com muitas organizações internacionais e isso foi um sinal de bom ecumenismo para nós e pode-se dizer que essa iniciativa da Santa Sé foi a única em que todos nós realmente trabalhamos juntos para ajudar a população.

Se acrescentasse algo ao apelo do Papa sobre as necessidades das pessoas hoje, o que diria?

Dom Kava: Neste momento as palavras e apelos do Papa, que impelem para o fim da guerra, me parecem de grande ajuda e, em todo caso, o processo de solidariedade iniciado servirá a todos. Mesmo que o projeto do Papa termine, a Igreja continuará dando sua ajuda e permanecendo perto das pessoas, seja com a Caritas, seja com as nossas paróquias ou com as nossas organizações de voluntariado. Não há muito dinheiro, mas estaremos presentes e próximos. Essa experiência nos serviu para aprender a colaborar juntos na ajuda às pessoas.

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