Igreja no Brasil

Educação é ato de esperança no ser humano, afirma padre sobre CF 2022

Secretário executivo de Campanhas da CNBB comenta texto-base da Campanha da Fraternidade 2022, divulgado na última semana

Julia Beck
Da redação

Educação está no tema da CF 2022 / Foto: free stock photos from www.picjumbo.com por Pixabay

Com o tema “Fraternidade e Educação” e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou recentemente o texto-base da Campanha da Fraternidade (CF) 2022. Esta é a terceira vez que a Educação é assumida como tema da CF.

O secretário executivo de Campanhas da CNBB, padre Patriky Samuel Batista, comenta que em 2022 o grande objetivo é promover diálogos a partir da realidade educativa do Brasil, à luz da fé cristã, propondo caminhos em favor do humanismo integral e solidário.

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Segundo o sacerdote, a CNBB fala de uma educação integral que resgata os princípios da fé cristã: o papel e a tarefa educativa da família, a igreja e sua missão de educar na fé, analisar, refletir e discutir sobre a importância de meios que favoreçam o acesso de todos a uma educação de qualidade.

Além disso, o presbítero ressalta o compromisso com as instituições de ensino e com os educadores. “Devem colaborar com os pais em sua missão”, reforça.

Olhar a educação com fraternidade

O texto base chama a atenção para um olhar sobre a educação para além do ensino técnico científico.  “A educação é um ato de amor e esperança no ser humano. Ela favorece a vida e a dignidade humana”, comenta padre Patriky.

O secretário executivo de Campanhas da CNBB recorda o que escreveu o Papa Francisco em sua encíclica Fratelli Tutti:

“Quanto aos educadores e formadores que têm a difícil tarefa de educar as crianças e os jovens, na escola ou nos vários centros de agregação infantil e juvenil, devem estar cientes de que a sua responsabilidade envolve as dimensões moral, espiritual e social da pessoa.” A Igreja “tem um papel público que não se esgota nas suas atividades de assistência ou de educação”, mas busca a “promoção do homem e da fraternidade universal” (FT 114).

A CF 2022 e o método ver, julgar e agir

Um dos principais instrumentos para conhecer a proposta e o enfoque dado ao tema da Campanha da Fraternidade é o texto base, afirma padre Patriky.

O objetivo do texto base, de acordo com o sacerdote, é suscitar o debate e oferecer elementos para uma reflexão a partir do método ver, julgar e agir.

Esta metodologia também é utilizada na educação popular e assumida na caminhada da Igreja na América Latina. O presbítero frisa que este método tem colaborado para a vivência mais intensamente da vocação e missão da Igreja.

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As etapas do método estão apresentadas no texto base da CF 2022 a partir das pedagogias do Papa Francisco: escutar, discernir e agir:

Padre Patriky Samuel Batista/ Foto: CNBB

“O ato de escutar é fundamental. Escutar é mais que ouvir. Escutar está na linha da comunicação, ouvir na linha da informação. Escutar supõe proximidade, sem a qual não é possível um verdadeiro encontro. A escuta permite encontrar o gesto e a palavra oportuna que desinstala da sempre e mais tranquila condição de espectador”.

O exercício da escuta conduz à necessária tomada de posição da parte de quem escutou. Padre Patriky reforça que entre a escuta e a ação, urge a prática do discernimento. E ele deve ser realizado à luz dos critérios da fé e da tradição.

De acordo com o sacerdote, o discernimento se pratica com outra escuta, dessa vez, da Palavra de Deus. Este é um passo fundamental para julgar evangelicamente os desafios do tempo presente. Ele também serve para apontar as proposições e inspirações para a transformação deste cenário, destacou.

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Quaresma e a CF 2022

Na sua essência mais profunda a Quaresma é um tempo de penitência e preparação, tendo em vista a celebração do batismo na vigília pascal. A liturgia da Igreja, inspirada na Palavra de Deus, ensina a rezar e a viver a penitência como um meio de purificação do coração e da mente, tal como é pedido no tempo quaresmal.

“Na exortação apostólica Gaudete et Exultate sobre o chamado à santidade no mundo contemporâneo, o Papa Francisco afirma que a santidade ‘irá crescendo com pequenos gestos’”, ressalta. No centro deste itinerário, o presbítero reforça que está a caridade.

Pensar a relação entre fraternidade e Quaresma, aponta o sacerdote, é redescobrir a Palavra de Deus como fonte primeira de toda e qualquer ação em favor da vida e da dignidade humana.

“Um belo exemplo encontramos na própria liturgia que, inspirada na Palavra de Deus, ensina a rezar e viver a penitência como um meio para purificar a mente e o coração. (…) Deus pede aos seus fiéis um estilo de vida mais coerente com a fé que professam.  ‘Lavai-vos, limpai-vos, tirai da minha vista as injustiças que praticais. Parai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem, buscai o que é correto, defendei o direito do oprimido…’ (Is 1,16-17)”, frisa.

Ilustração divulgada pela CNBB para a Campanha da Fraternidade 2022 / Foto: Divulgação CNBB

Pacto Educativo Global

Padre Patricky conta que o texto base da CF  2022 teve como uma de suas referências o Instrumento de Trabalho do Pacto Educativo Global. Este último foi instrumento de reflexões convocadas pelo Papa Francisco desde 2019.

O Pacto Educativo Global tem como objetivo redescobrir e fomentar o compromisso da sociedade com a educação, explica o presbítero. Na carta de convocação deste novo pacto, bem como no Instrumentum Laboris, o Papa Francisco apresentou alguns elementos constitutivos de uma educação humanizada.

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Pela ótica do Santo Padre, uma educação humanizada deve contribuir na formação de pessoas abertas, integradas e interligadas, que também sejam capazes de cuidar da casa comum.

“A educação será ineficaz e os seus esforços estéreis se não se preocupar também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza”, escreveu o Pontífice na encíclica Laudato Si.

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Educação no Brasil

O secretário executivo de Campanhas da CNBB afirma que com a pandemia da Covid-19 ficou ainda mais acentuada a mudança de época que estamos vivendo. Para que uma nova realidade aconteça, ele pontua que é preciso iniciar um caminho educativo onde cada envolvido tem sua missão particular.

“Se para educar uma criança é preciso uma aldeia inteira, esta aldeia é formada por diversos atores que, seja pelo saber adquirido, seja pela experiência de vida, tem algo a contribuir. Não há dúvidas de que é preciso fraternidade na educação brasileira”, opina o sacerdote.

A educação no Brasil, reforça o presbítero, deve abraçar a gama de experiências de vida e processos de aprendizagem com o objetivo de atender os jovens e cada pessoa em sua singularidade.

O sacerdote lembra que a educação não se esgota na sala de aula. Ela é garantida principalmente respeitando e reforçando o direito primário da família de educar, e também a missão da Igreja de educar e transmitir a fé.

“Aqui, recordo com alegria as palavras de São João Paulo II que, em sua mensagem para a Campanha da Fraternidade de 1998 afirmava que precisamos de ‘uma educação que promova, de um lado, o crescimento e o amadurecimento da pessoa humana em todas as suas dimensões: material, intelectual, moral, espiritual e religiosa; e por outro, a formação integral para a solidariedade e a cidadania, que combata a chaga do analfabetismo e seja promotora da paz e do bem-estar social’”.

Olhar e cuidar da educação, aponta padre Patriky, é, segundo São João Paulo II, sem dúvida uma forma de exercer a caridade, servindo, ao mesmo tempo, de instrumento para que o indivíduo seja agente da sua própria formação.

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