Entrevista

Cardeal Parolin comenta prisão e libertação do Cardeal Zen na China

Em evento, Secretário de Estado do Vaticano reafirmou sua proximidade ao cardeal Joseph Zen Ze-kiun e comentou sobre outros temas da Igreja e do mundo

Da redação, com Vatican News

Cardeal Parolin/ Foto: Daniel Ibanez – CNA

A recente prisão e libertação do cardeal Joseph Zen Ze-kiun, em Hong Kong, China, a questão do envio de armas à Ucrânia, as tentativas de paz da Santa Sé, a evacuação de civis em Mariupol e as relações com o Patriarcado de Moscou foram temas comentados pelo Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin.

O purpurado se manifestou após um encontro na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, sobre a figura do Beato Papa Albino Luciani, promovido pela Fundação Vaticana João Paulo I. Dom Parolin conversou com os jornalistas a respeito da atualidade da Igreja e do mundo.

Prisão e libertação do Cardeal Zen, em Hong Kong

O cardeal manifestou a sua indignação pela prisão, na última quarta-feira, 11, em Hong Kong, do arcebispo emérito, Dom Joseph Zen Ze-kiun: “Gostaria de expressar minha solidariedade ao Cardeal Zen, que foi libertado e bem tratado”.

Para o Secretário de Estado, este caso não deve ser interpretado como “rejeição” do Acordo entre a Santa Sé e a República Popular da China, sobre a nomeação de bispos, estabelecido em 2018 e prorrogado por dois anos. “Claro, disse Parolin, nosso desejo é que iniciativas como esta não compliquem o tão complicado e nada simples caminho do diálogo entre a Santa Sé e a Igreja na China”.

Missão de Gallagher em Kiev

Dom Parolin voltou, mais uma vez, a falar da guerra na Ucrânia, no âmbito da viagem a Kiev do Secretário para as Relações com os Estados, Paul Richard Gallagher. “A sua missão – explicou – serve para reforçar os objetivos pelos quais da Secretaria de Estado “trabalha e continua a trabalhar, na medida do possível, porque os espaços são muito limitados: o cessar-fogo, como ponto de partida fundamental, e pôr um ponto final nas operações do conflito”.

A esperança, diz ainda o cardeal, é que “se inicie um diálogo sério, sem pré-condições, para tentar encontrar um modo de resolver a questão”.

Envio de armas à Ucrânia

O Secretário de Estado conversou com os jornalistas também a respeito do delicado problema do envio de armas à Ucrânia. De fato, reafirmou a posição, já expressa nestes quase 80 dias de guerra, sobre “o direito de defesa armada em caso de agressão”, segundo o Catecismo da Igreja Católica, mas “sob certas condições”: a primeira refere-se à “proporcionalidade e que a resposta não produza um prejuízo maior que o da agressão. Neste contexto, fala-se de “guerra justa”. 

Dom Parolin acrescentou: “Sei que, na prática, é mais difícil determinar isso, mas precisamos de alguns parâmetros claros para abordar a questão das armas, da maneira mais justa e moderada possível”.

Primeiro, encontrar soluções

Referindo-se a um comentário, que ouviu sobre o conflito Rússia-Ucrânia, o Cardeal Parolin concordou, dizendo:

“No final, terão que encontrar uma solução, porque a geografia os obriga a viver não juntos, mas próximos, pois compartilham milhares de quilômetros de fronteira. É uma pena ainda não termos compreendido a lição de que, ao invés de causar tantas chacinas e escombros, poderiam ser encontradas soluções mais cedo. É o que a Santa Sé sempre espera”.

O problema, segundo o purpurado, é que “nas últimas décadas a questão do multilateralismo vem se corroendo”. Logo, “é lógico que quando cada um se concentra em seus próprios interesses e pontos de vista, sem saber compartilhar e encontrar respostas comuns, no final, é esta a única saída”.

Proposta de paz do governo italiano

Quanto à proposta de paz do governo italiano, o Dom Parolin disse que a iniciativa, proposta pelo Primeiro-ministro Mario Draghi, “deve ser apoiada” e reitera que “para a Santa Sé toda e qualquer tentativa que possa acabar com a guerra é bem vinda”. Mas, esclarece: “Não queremos assumir protagonismos. Se alguém conseguir fazer o que a Santa Sé não pode fazer, porque sua oferta de mediação ou intervenção não foi aceita, ótimo”.

Tentativas em prol de Mariupol

Respondendo depois aos jornalistas sobre o recente encontro do Papa com as esposas de dois combatentes do Batalhão Azov, barricados na siderúrgica de Azovstal, o cardeal explicou:

“Colocamo-nos à disposição para ser garantes da evacuação dos civis restantes, mas, depois, não foi feito mais nada. Pelo menos, notei que não houve mais interesse. Foram muitas as tentativas, nas últimas semanas, e esta foi a última. Antes, tínhamos demonstrado grande disponibilidade: a ideia era que o próprio Núncio fosse ter com o Metropolita de Zaporizhzhia, mas não deu certo, porque não havia garantias de segurança para a missão”.

Relações com o Patriarcado de Moscou

Por fim, o Secretário de Estado tratou da questão das relações da Santa Sé com o Patriarcado de Moscou, sobre a qual o Papa Francisco explicou em entrevista ao jornal “Corriere della Sera”:

“Vocês conhecem a posição do Papa sobre a decisão de não encontrar o Patriarca Kirill. Reconhecemos que estamos em um momento difícil. Mas, isso não significa que estamos no marco zero ou que há gelo entre a Igreja Ortodoxa Russa e a Católica. Há canais e tentativas de diálogo. Claro, tudo ficou mais complicado, devido aos últimos acontecimentos.”

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