DIREITOS HUMANOS

Bispo venezuelano: 'Imigrantes sonham com liberdade e justiça'

De sua história pessoal de conversão ao sofrimento de seu povo e migração para os Estados Unidos, o bispo auxiliar de Caracas, Carlos Márquez, reflete sobre a importância do amor que “encontra sua plena realização nas relações”

Da redação, com Vatican News

O Carlos Márquez lamenta o atual cenário econômico e social da Venezuela, que potencializa o fluxo migratório / Foto: Freepik.com

“Trinta e um anos atrás, sofri um acidente de carro em que tive 43% do meu corpo queimado. Meu rosto estava desfigurado e precisei de mais de um ano para me recuperar e mais de 45 cirurgias para me recuperar”. Carlos Márquez, bispo auxiliar de Caracas, Venezuela, iniciou desta maneira seu discurso aos alunos do St. Francis College, Brooklyn, contando sua história pessoal de conversão.

Antes do acidente, ele “não era crente. Não uma pessoa má, mas não acreditava em nada. Deus não estava nos meus planos, eu o deixei fora da minha vida”, afirmou, lembrando-se de ter sido levado às pressas para o hospital sentindo-se capaz de apenas pensar “Deus, não me deixe morrer”. E, eventualmente, ele sobreviveu.

O bispo auxiliar de Caracas, Carlos Márquez / Foto: Reprodução Youtube

Conversão

No entanto, ainda não foi assim que ele encontrou Deus. Após sua primeira recuperação, ele começou a assistir uma paróquia católica em Caracas. Ele conheceu “pessoas que não tinham a obrigação de me amar, e amaram. Eles não precisavam me ajudar e o fizeram. Conheci a presença de um Deus amoroso por meio das pessoas que acreditam n’Ele e querem viver de acordo com Seus ensinamentos”.

“Se eles não tivessem se aberto comigo, um estranho, desfigurado e sem nada a oferecer e precisando de muita ajuda, eu não estaria aqui dando esta entrevista para você.”

O sofrimento dos venezuelanos

Hoje, a atenção do bispo Márquez está voltada para o sofrimento de sua população e sua necessidade cada vez mais premente de deixar seu país. “O salário mínimo equivale a doze dólares por mês, enquanto o custo da cesta básica média para uma família de cinco pessoas sobreviver custa cerca de 400 dólares por mês. As pessoas não conseguem pagar as contas.”

A disparidade é outro ponto crítico sublinhado pelo Bispo venezuelano, afirmando que, segundo as últimas pesquisas, 95% da renda do país está nas mãos de menos de 10% da população. A maioria dos venezuelanos come apenas duas vezes por dia. Hospitais não funcionam direito. A educação pública entrou em colapso”.

“Todos esses números mostram um país que está desmoronando. Agora, você pode ter uma ideia de por que os venezuelanos fugiram do país.”

Especificamente, devido às condições de pobreza, repressão e violência, mais de 7,1 milhões de venezuelanos foram forçados a deixar o país, tornando-se o maior fluxo migratório da história da América Latina”, afirmou Dom Márquez.

Uma oportunidade para os EUA

No entanto, as trágicas condições que obrigam as pessoas a deixarem seus países podem, eventualmente, se tornar uma oportunidade para encontrar aquele amor verdadeiro que “encontra sua plena realização nos relacionamentos. Ninguém pode encontrar a plenitude do amor se não se arriscar a relacionar-se com os outros. E por ‘outro’ entendo aquele que é diferente de si mesmo”, explicou o bispo venezuelano.

“Precisamos correr o risco de nos relacionarmos com quem pensa diferente de nós, tem cultura e origem diferentes. Dessa forma, podemos enriquecer nossa vida, ampliar nossos relacionamentos e nos abrir para novas formas de nos expressar por meio de um amor real e significativo.”

Os Estados Unidos representam um dos exemplos mais claros de como pessoas vindas de diferentes partes do mundo uniram forças para, literalmente, ajudar a construir o país. A maioria dos ancestrais do povo americano de hoje eram imigrantes”, afirmou o bispo Márquez. “Muitos deles vieram para cá fugindo da opressão, da perseguição política, da escassez de alimentos, da extrema pobreza ou da guerra. Eles encontraram uma comunidade que os acolheu e lhes deu oportunidades, como aquela comunidade católica de Caracas fez comigo”.

“Você consegue imaginar Nova Iroque sem Little Italy [famoso bairro de Manhattan]? Os filmes sem Robert De Niro? Se eles tivessem sido impedidos de entrar nesta terra, teríamos perdido toda a riqueza que a cultura italiana deu aos EUA. Você pode dizer o mesmo sobre cubanos, irlandeses, porto-riquenhos, alemães, mexicanos, poloneses, ucranianos, japoneses e muitos asiáticos que contribuíram para a construção de uma rica sociedade multicultural.”

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