Serva de Deus

Arquidiocese de Salvador celebra os 305 anos da morte de Madre Vitória

Missa em memória aos 305 anos da morte da Serva de Deus acontecerá no dia 19 de julho e será transmitida através do Instagram e do Facebook: @madrevitoria

Da redação, com Arquidiocese de Salvador 

Túmulo da Madre Vitória no Convento do Desterro / Foto: Sara Gomes

Em memória aos 305 anos da morte da Serva de Deus, Madre Vitória da Encarnação, o Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Cardeal Dom Sérgio da Rocha, presidirá uma Missa, no dia 19 de julho, às 9h, no Convento Santa Clara do Desterro, localizado no bairro de Nazaré. A Celebração Eucarística será transmitida, ao vivo, através do Instagram e do Facebook @madrevitoria. Entre os dias 10 e 18 de julho, será realizado o novenário, este ano na modalidade virtual. Nestes nove dias, serão publicados, nas redes sociais, vídeos com orações para que os fiéis possam rezar.

A vida de Madre Vitória

Madre Vitória da Encarnação nasceu na cidade do Salvador, então capital do Brasil colonial, em 6 de março de 1661, sendo batizada, no mesmo ano, na antiga Sé da Bahia. Foram seus pais Bartolomeu Nabo Correia e Luísa Bixarxe. Teve um irmão e três irmãs. Em 1675, quando estava com 14 anos, seu pai desejou enviá-la, juntamente com sua irmã mais velha, Maria da Conceição, para um convento nos Açores, em Portugal, porém a menina se recusou.

Em 1677, quando foi fundado o primeiro convento feminino no Brasil, o Convento de Santa Clara do Desterro da Bahia, a menina, então com 16 anos de idade, havia se tornado avessa à religião. Vivia em Salvador, naquela época, um jesuíta de muita piedade a quem o povo venerava como santo já em vida, e tinha fama de ser um profeta, o padre João de Paiva. Foi a ele que o pai da menina Vitória recorreu aflito ao perceber que sua filha havia tomado aversão às coisas sagradas, pedindo ao padre que rezasse por ela. O padre João o acalmou, dizendo que a menina seria, no futuro, uma grande religiosa.

Vitória tinha frequentes sonhos com Maria e Jesus. Neles, a Virgem lhe apresentava o Menino e chamava-a para a vida consagrada. Em outros momentos, via o Divino Menino a colher flores no caminho para o convento e a chamava para lá. Em 1686, Vitória estava com 25 anos de idade, e sonhou que estava em um porão sujo e cheio de lodo de uma grande embarcação que navegava em alto mar. Viu neste sonho que estava acompanhada de pessoas impiedosas que caminhavam para a perdição. Enquanto que na parte de cima da embarcação haviam muitos religiosos contentes, pois caminhavam para a salvação. Seu Anjo da Guarda então lhe explicou que os navegantes da parte superior eram os que faziam a vontade de Deus e estavam salvos, enquanto que os que estavam nos porões, assim como ela, eram os que caminhavam para a perdição.

Ao acordar deste sonho, a menina tomou a firme decisão de consagrar-se totalmente a Deus e passar a vida fazendo Sua santa vontade. E naquele mesmo ano, em 29 de setembro, dia de São Miguel Arcanjo, Vitória foi acolhida no noviciado das monjas clarissas do Convento do Desterro da Bahia e, juntamente com ela, foi acolhida também a sua irmã, Maria da Conceição. Recebeu, neste dia, o nome religioso de Vitória da Encarnação. Conforme seu desejo, fez profissão Solene em 21 de outubro de 1687, dia em que se celebrava na cidade de Salvador a festa das Onze Mil Virgens.

Dotada de imensa caridade para com os mais desvalidos, desejou viver como uma escrava e adotou para si o estilo de vida das servas que viviam no mosteiro. Fazia suas refeições sentada no chão, como era costume entre os escravos da época, corria para fazer os trabalhos que ninguém queria. Cuidava daquelas que adoeciam, levando-as para sua própria cela e de lá só saiam quando completamente curadas. Suportou diversas humilhações.

Viveu inteiramente dedicada aos pobres, doentes e desamparados que procuravam o mosteiro em busca de socorro. Pela sua grande caridade recebeu dos pobres o apelido de “madre esmoler”. Quando exercia o cargo de porteira, grande quantidade de pessoas dirigia-se à portaria para pedir-lhe algum auxílio. Doou em vida tudo o que possuía aos pobres, inclusive a cama na qual dormia, passando então a dormir no chão sobre uma esteira de palha. Por esse motivo, não morreu em sua própria cela. Quando estava prestes a falecer foi levada para a cela de outra monja, pois suas coirmãs não quiseram deixá-la morrer no chão.

Dotada de dons místicos, transfigurava-se quando fazia a via-sacra todas as sextas-feiras do ano. Tinha tanto desejo de imitar ao Divino Esposo em seus sofrimentos, que se castigava com cilícios e disciplinas duríssimas, chegando a converter os pecadores que passavam pela via próxima ao convento e que ouviam o barulho daquelas chibatadas. Fazia rigorosos jejuns e quando comia algo que lhe agradava o paladar, misturava cinzas à comida para estragar o sabor.

Em uma noite, viu o Senhor a andar pelo corredor com sua pesada cruz às costas. Ao encontrá-lo, Ele disse-lhe: “Esposa minha, vem e segue meus passos”. Desde então, começou a carregar uma grande cruz às costas durante as madrugadas das sextas-feiras. Foi a Madre Vitória a responsável pela difusão da devoção ao Senhor Bom Jesus dos Passos na cidade de Salvador e mandou construir dentro da clausura do mosteiro uma capela a Ele dedicada.

Amou tanto as almas do purgatório, que as sufragava, diariamente, com orações e oferecia-lhes todas as missas em seu favor. Conforme narrou seu biógrafo, muitas almas se mostraram a ela em seus sofrimentos no purgatório e também voltavam para agradecer-lhe pelas orações em seu favor, quando de lá saíam para o Céu, resplandecentes de luz.

Tinha o dom da revelação e da profecia. Era capaz de saber o local exato em que uma pessoa, tida por desaparecida, se encontrava, assim como de prever acontecimentos futuros. Chegou a descrever eventos que aconteceriam por ocasião e após sua morte. Tinha também a capacidade de encontrar objetos e animais desaparecidos. Passava a maior parte da noite em vigília diante do Santíssimo Sacramento e foi chamada, pelo seu biógrafo, Dom Sebastião, de “tocha acesa diante do sacrário”.

Teve por companheiras mais próximas em seus exercícios penitenciais duas outras monjas, também biografadas por fama de santidade, a saber, Madre Maria da Soledade e Madre Margarida da Coluna. Era frequentemente tentada pelo demônio por meio de visões aterrorizantes, e desses terríveis combates espirituais sempre saía vitoriosa. Alguns deles ocorreram quando estava junto à estas companheiras. Em um deles, a Madre Maria da Soledade foi lançada de cima do coro para baixo sem sofrer muitos danos físicos.

Morte da Serva de Deus

Sentindo que se aproximava o dia de sua morte, fez diversas recomendações às suas Irmãs. Uma delas foi o pedido de ser levada à sepultura pelas mãos das servas a quem ela tanto amava. Outro pedido feito foi o de não ser enterrada com o hábito que usava em vida, pois não queria levar para o túmulo nada que tivesse lhe pertencido neste mundo e pediu que cada uma das Irmãs doasse a ela uma peça do hábito religioso com o qual ela seria enterrada.

Após 29 anos de clausura e de total consagração de sua vida à Cristo e ao próximo, faleceu numa sexta-feira, às 15 horas, 19 de julho de 1715, acompanhada do padre e das Irmãs que a assistiam. No momento de sua morte, as religiosas disseram ter sentido uma maravilhosa fragrância de rosas a inundar as dependências do mosteiro. 

“Santa da Bahia”

Ao se espalhar a notícia de sua morte, uma grande multidão se aglomerou diante do convento. Logo, toda a cidade ficou a saber, pois diziam ter morrido a “santa da Bahia”. Muitos levavam lenços, medalhas, terços e outros objetos e pediam que as religiosas os tocassem no corpo da “santa”. Esses objetos eram guardados por essas pessoas e eram tidos como verdadeiras relíquias. Como a quantidade de pessoas às portas do convento crescia cada vez mais durante aquela noite, e não paravam de chamar pelas religiosas para que tocassem seus objetos ao corpo da madre, e as Irmãs se viram obrigadas a não mais saírem à portaria e não puderam atender mais a nenhum deles.

Seu corpo foi velado durante toda a noite na capela que a mesma havia mandado construir em honra ao Senhor dos Passos, e foi enterrado no dia seguinte no cemitério do convento. Ao tentar levar o corpo para a sepultura, o esquife tornou-se tão pesado que não se movia do lugar e as Irmãs não o puderam carregar. Ao se lembrarem do pedido da madre de que fosse levada à sepultura pelas escravas, chamaram-nas para que levassem o corpo. Quando estas levantaram o esquife, parecia não haver nele corpo algum, pois o mesmo estava leve como que quase sem peso.

Inúmeros foram os milagres narrados pelos seus devotos logo após sua morte. Sendo crescente o número desses supostos milagres, o então Arcebispo da Bahia tratou de interrogar as religiosas do Desterro sobre a vida que teve a Madre Vitória. Em 1720, apenas cinco anos após a sua morte, Dom Sebastião Monteiro da Vide publicou, em Roma, a biografia da “santa da Bahia” com o título “História da Vida e Morte da Madre Soror Victória da Encarnação”.

O zeloso Arcebispo jesuíta pretendia solicitar a abertura da sua causa de beatificação e chegou a compará-la à Santa Rosa de Lima. Porém, ele faleceu em 1722. Anos mais tarde, com a perseguição do Marquês de Pombal aos Jesuítas e a proibição de muitos dos seus escritos no Brasil, diversos livros se perderam. Isso dificultou a difusão da sua história. Mas a memória da Madre Vitória não se apagou dentro do convento em que viveu, nem nas mentes daqueles que pela tradição oral ou pelos poucos escritos que restaram, conseguiram saber da sua vida. E muitos ainda esperam vê-la elevada à honra dos altares.

Seus restos mortais encontram-se na Igreja do Convento de Santa Clara do Desterro, e estão depositados acima de uma das portas que ligam o coro de baixo à nave da Igreja.

Entre as virtudes apontadas, em relatos, sobre a Madre Vitória da Encarnação, algumas se destacam. Uma delas era o dom que ela tinha de sonhar com as pessoas necessitadas e, em seguida, enviar ajuda. A Madre também era procurada quando as Irmãs do convento – enclausuradas – recorriam para encontrar objetos perdidos.

Na Missa celebrada por Dom Murilo pelos 300 anos da morte da Madre Vitória da Encarnação – em 19 de julho de 2015 -, o Arcebispo abordou, na homilia, o “destacado amor aos pobres: ora os atendia diretamente, especialmente no tempo em que era porteira deste Convento, ora motivava suas coirmãs a ajudá-los; ou, então, diante de casos concretos, pedia que seus familiares fossem em socorro de famílias necessitadas que haviam pedido a sua ajuda. Sentia, no seu coração, aquilo que ouvimos no Evangelho, referente a Jesus: “Viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor”.

Beatificação

A causa da beatificação possui um postulador que atua como uma espécie de advogado e tem a missão de investigar a vida do candidato à beatificação para verificar seu testemunho de vida e de santidade. No caso da Madre Vitória, o postulador da causa da beatificação será o frei Jociel Gomes, OFMCap. Ao ser iniciado o processo, começam oficialmente os estudos históricos sobre a época em que a Madre Vitória viveu e a busca por documentos relativos a ela como, por exemplo, o diário do Convento, possíveis cartas ou testemunhos.

A partir deste momento, é necessária a comprovação de um milagre atribuída a intercessão do Venerável. No Mosteiro, podem ser encontrados relatos de graças alcançadas por pessoas que recorreram à Madre Vitória da Encarnação.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

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