EMERGÊNCIA HUMANITÁRIA

Arcebispo de Alepo: crise de saúde na Síria é dramática

Georges Masri, arcebispo de Alepo, descreve dramático impacto da guerra na Síria e a subsequente crise econômica e aumento do custo de vida

Da redação, com Vatican News

Uma mulher e seus filhos aguardam transporte em Alepo, na Síria / Foto: ONU – OCHA – L. Tom

Enquanto os olhos da mídia e do mundo continuam focados na guerra da Ucrânia e a subsequente crises energética e alimentícia, durante a Audiência Geral desta quarta-feira, 9, o Papa Francisco chamou a atenção para as muitas guerras esquecidas que ainda causam morte e destruição em muitas outras partes do globo. Entre essas guerras, o Santo Padre mencionou o conflito de onze anos na Síria.

Muitos sírios privados de suas necessidades básicas

Embora atualmente em segundo plano, os combates ainda estão em andamento em algumas áreas entre os insurgentes residuais e as forças de Bashar al Assad apoiadas pela Rússia, e o país continua passando por uma grave crise econômica com inflação disparada como resultado de sanções, isolamento internacional, destruição de infra-estrutura, falta de fundos governamentais, bem como o colapso financeiro no Líbano.

A crise está tendo um impacto profundo nos sírios, que são privados de suas necessidades básicas, incluindo saúde, enquanto aqueles que podem continuam a fugir do país.

Covid-19 e o recente surto de cólera

Durante uma recente visita à sede da fundação internacional Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), na Alemanha, o arcebispo melquita Georges Masri, de Aleppo, descreveu a situação da saúde como dramática, com o país sofrendo com a pandemia de Covid-19, apenas recentemente atingida por surtos de cólera em 13 de suas 14 províncias.

O surto é uma consequência direta do conflito que danificou a infraestrutura de água e saneamento, enquanto cerca de 2 milhões de pessoas deslocadas internamente vivem em locais e acampamentos superlotados, com acesso muito limitado a serviços básicos de água e saneamento.

A ONU informou recentemente que mais de dois terços das estações de tratamento de água, metade de todas as estações de bombeamento e um terço das torres de água na Síria foram danificadas.

Sírios estão muito pobres para pagar por remédios ou cirurgias

Segundo Dom Masri, porém, o problema é maior do que as epidemias, já que a saúde geral da população é muito precária. As questões médicas são agora uma das principais preocupações das famílias cristãs que permaneceram na Síria, disse ele.

Um número crescente de pessoas morre por falta de medicamentos, o custo proibitivo da cirurgia e a destruição geral de hospitais e clínicas.

Os idosos são especialmente afetados por causa do aumento do preço dos medicamentos, explicou o arcebispo sírio.

Médicos deixando o país

Outra questão grave, acrescentou, é o fato de muitos médicos qualificados terem optado por sair do país, enquanto muitas empresas farmacêuticas estatais tiveram de encerrar. “Precisamos que os jovens que estudam medicina fiquem”, avaliou Dom Masri.

Muitas famílias chegaram a um ponto em que optam por não comprar remédios, ou fazer qualquer cirurgia, porque não acreditam que conseguirão pagar seus empréstimos. Perante esta situação, a Igreja local, embora incapaz de compensar a falta de médicos, aumentou a sua pastoral dos doentes.

A Fundação Pontifícia ACN apoiou este esforço por meio da construção de uma farmácia em Aleppo para ajudar na distribuição de medicamentos à população. Embora de propriedade e operada pela Igreja Católica, a farmácia está aberta ao público geral.

Outro dos projetos do Arcebispo Masri que a ACN está financiando é a organização de atividades sociais e recreativas para idosos com menos recursos financeiros. Isso os ajuda a melhorar sua saúde física e espiritual. “Eles voltam para casa cheios de energia”, disse o arcebispo. “Um deles disse ao padre que estava com eles que era a primeira vez em sua vida que ele e sua esposa saíam juntos de Aleppo”.

O responsável pela Arquidiocese Melquita disse estar profundamente grato aos benfeitores da ACN, cuja contribuição financeira ajudou a apoiar a população apesar da crise.

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