2020 - 2021

Ano Laudato Si termina e Igrejas locais apresentam frutos

Encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, inspirou ações e medidas da Igreja durante este último ano; entenda a relevância deste ano celebrativo 

Julia Beck
Da redação

Altar da Igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição em Cunha (SP), durante Semana Laudato Si compreendida no ano celebrativo da encíclica/ Foto: Arquivo Pessoal – Ailton Evangelista

O Ano especial dedicado à encíclica Laudato si’ termina nesta segunda-feira, 24. Uma coletiva será realizada no Vaticano amanhã sobre o assunto. 

Este ano celebrativo, iniciado em maio de 2020, colocou em evidência a encíclica do Papa Francisco, dedicada ao cuidado da casa comum. O documento foi publicado em 24 de maio de 2015.

O texto do Santo Padre destacou ao mundo o conceito de ecologia integral. Também difundiu o princípio da casa comum e da necessidade de sua defesa.

Ano Laudato si

Durante o Ano Laudato si, a Igreja teve diversos eventos e anunciou importantes medidas. Neste domingo, 23, véspera da conclusão do período celebrativo, o Papa anunciou a “Plataforma Laudato si”, após o Regina Coeli.

O recurso guiará as famílias, as comunidades paroquiais e diocesanas, as escolas e as universidades, os hospitais, as empresas, os grupos, os movimentos, as organizações, os institutos religiosos a assumir um estilo de vida sustentável.

A primeiro comemoração do Ano Laudato si, em maio de 2020, foi a celebração dos cinco anos de publicação do documento.

Em junho, o Vaticano apresentou um documento de aprofundamento da encíclica. O material é considerado um guia para ajudar homens e mulheres a viverem bem.

No mesmo mês, o Pontífice comentou em sua conta no twitter sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente. Em sua mensagem, o Santo Padre fez referência à Laudato si e destacou que o cuidado autêntico da vida e das relações com a natureza é inseparável da fraternidade, justiça e fidelidade aos outros.

Em encontro internacional sobre a Doutrina Social da Igreja, foi refletido o conteúdo da encíclica do Papa. Na ocasião, Francisco afirmou: “Que o desenvolvimento de uma ecologia integral, torne-se sempre mais uma prioridade a nível internacional, nacional e individual”.

Em julho, uma capela foi construída em Roma, inspirada na encíclica do Papa. A estrutura fica no porto botânico da cidade e foi feita com material reciclável.

Também durante este ano, o Vaticano manifestou a abolição completa do uso de plástico. A venda de plástico descartável foi proibida.

O Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) ratificou o compromisso com o cuidado da casa comum. Instituições religiosas anunciaram o desinvestimento em combustíveis fósseis.

No mundo, os cientistas voltaram a alertar sobre as mudanças climáticas e suas terríveis consequências.

Ações no Brasil

No Brasil, foram discutidos importantes temas da encíclica de Francisco por ocasião dos cinco anos de sua publicação.

O país passou a integrar o Protocolo de Nagoia, que regulamenta o acesso e a repartição de benefícios, monetários e não monetários, dos recursos genéticos da biodiversidade.

A Igreja também viveu em 2020, e neste ano, a Semana Laudato si. O bispo de Campos (RJ) e Referencial da Ecologia Integral do Conselho Episcopal Regional (Conser) do Regional Leste 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Roberto Francisco Ferreira Paz, afirma que a celebração é importante.

O tempo, segundo o bispo, é de estudo e análise socioambiental. “Todas as questões sociais precisam ter a perspectiva ambiental. Não podemos ser felizes sem dedicar estudo, reflexão e espiritualidade para esse tema”, aponta.

A Semana e o Ano Laudato si também chamaram atenção para os pobres, que estão intimamente ligados à questão ambiental.

O fato de ter sido levantada esta temática durante este ano, prossegue Dom Roberto, ajudou a Igreja no Brasil a enfrentar desafios da mineração, de contaminação da água e desmatamento.

Igrejas locais

Dom Roberto Francisco Ferreira Paz /Foto: Arquivo Pessoal – Dom Roberto

O bispo de Campos (RJ) comenta sobre o surgimento e valorização de pastorais socioambientais, também chamadas “ecológicas”, nas igrejas locais, dioceses e arquidioceses. “Toda paróquia precisa repensar profundamente o seu relacionamento com a casa comum”, destaca.

Esta pastoral, de acordo com Dom Roberto, deve também desenvolver atividades que promovam a ecologia integral. “A casa comum é uma extensão do nosso corpo. Francisco coloca que nós somos terra, nós somos casa comum. Refletir sobre ela é refletir sobre nós mesmos”.

O seminarista Ailton Evangelista auxilia nas atividades da Pastoral Ecológica da Paróquia de Nossa da Conceição, em Cunha, cidade do interior de São Paulo que pertence à diocese de Lorena. Segundo ele, o grupo fundado em 2019 vai ao encontro do desejo do Papa de que sua encíclica não caia no esquecimento.

Para Evangelista, conscientização leva tempo e somente frisando o assunto nas muitas realidades da Igreja será possível que católicos assimilem seu valor. 

Pandemia

Com a pandemia, muitas ações que poderiam ser realizadas durante esta semana e este ano comemorativo, pelas pastorais, foram prejudicadas. 

No entanto, o seminarista afirma que uma marca deste tempo é a necessidade de se reinventar. “Acabamos trabalhando os conteúdos nas redes sociais”.

“Embora não tenhamos conseguido realizar ações presenciais, um ponto importante deste Ano é toda a propagação deste material. Ele serve de apoio pedagógico e didático nesse processo de formação de consciência para o bem da casa comum”, comenta. 

Os temas ecológicos também passaram a ser trabalhados nas celebrações eucarísticas, revela Evangelista. Um espaço foi criado na Igreja matriz, durante a Semana Laudato si – que conclui o Ano Laudato Si na paróquia – com elementos característicos da cidade e que falam do tema da ecologia.

Detalhe da decoração da Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Cunha (SP), durante a Semana Laudato Si 2021/ Foto: Arquivo Pessoal – Ailton Evangelista

Momentos antes das missas em Cunha foi explicado sobre a Semana. Pontos da encíclica do Papa foram transformados em preces. “É uma maneira de aproximarmos a liturgia e esta temática da vida das pessoas”, sublinha Evangelista.

Os leigos e a Laudato Si

Assim como o seminarista Ailton, a assistente social Andreia Carvalho Estrella e o biólogo Ricardo de Almeida Zuppi são membros da Pastoral Ecológica em Cunha. Com aproximadamente dois anos de existência, o casal frisa que a pastoral já “apresenta frutos”.

“Percebemos que há um processo de sensibilização e engajamento crescente da comunidade. Ela vem aderindo à pastoral. Há também uma crescente preocupação com as temáticas socioambientais”, observa Andreia.

A partir da Ecologia, o casal destaca que a Igreja convida todos a experimentarem uma espiritualidade conectada com tudo o que Deus criou.

Ailton Evangelista (de camisa branca e máscara preta) com membros da Pastoral Ecológica de Cunha (SP) /Foto: Arquivo Pessoal – Ailton Evangelista

“Cuidado e amor para com todas as formas de vida que Deus se revela é um dos grandes chamados da Laudato si. Que possamos construir de forma concreta a urgente transformação que a humanidade necessita para que todos tenham vida plena e abundante”.

O turismólogo e gestor social Campos Alegria revela que, influenciada por esta iniciativa em Cunha, a Paróquia Nossa Senhora das Graças, localizada em Lorena (SP), fez adesão à Pastoral Ecológica. O leigo faz parte da recente iniciativa e manifesta o desejo de perseverar na disseminação e conscientização desta cultura da ecologia integral.

Para Campos, é preciso uma mudança de mentalidade, uma adesão pessoal ao tema. Como católico, o turismólogo afirma que seu papel é cooperar juntamente com a Igreja, na defesa, preservação, cuidado e conscientização das questões relativas ao meio ambiente.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo