À espera de Francisco

Visita do Papa ao Iraque traz coragem e esperança, diz bispo do país

Arcebispo iraquiano fala dos preparativos para acolhida do Papa, que chega ao país como peregrino de paz e esperança

Julia Beck
Da redação, com colaboração de Christian Media Center e Lizia Costa*

Iraque vive últimos preparativos para a chegada do Papa Francisco nesta sexta-feira, 5/ Foto: Khalid al-Mousily – Reuters

Após anos de guerra, o Papa abençoará o Iraque. Esta é a expectativa do arcebispo da diocese siro-católica de Hadiab, no Curdistão iraquiano, Dom Nathanael Nizar Samaan. O presbítero ajuda na organização da Missa no estádio de Erbil. De acordo com a programação, a celebração será neste domingo, 7, às 16h (10h no horário de Brasília) e contará com a presença de cerca de oito mil fiéis.

Esta terceira e última reportagem sobre a visita do Papa ao país traz um pouco da expectativa pela chegada de Francisco. Dom Samaan comentou o privilégio do país ser o primeiro a receber o Santo Padre após o início da pandemia da Covid-19. A visita é também a primeira de um Pontífice ao país.  

Ao olhar para a história do Iraque, marcada pela guerra há mais de 30 anos, o bispo sublinha: “Merecemos isso, porque sofremos tanto. (…) Estamos cansados da guerra. Os cristãos que sofreram estão esperando o Santo Padre“.

Chegada do Papa está próxima

O início da viagem apostólica está próximo: Francisco chega ao Iraque nesta sexta-feira, 5. Dom Samaan revela que a expectativa acompanha os iraquianos há tempos, desde o anúncio da visita.

O povo do Iraque acolheu com grande alegria e gratidão a novidade, recorda o bispo. “Estamos honrados que o Santo Padre tenha pensado em nós. (…) Estamos aguardando-o com grande alegria”.

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A expectativa se faz ainda maior entre os católicos e cristãos do país. “Sabemos bem que os cristãos no Iraque sofreram muito nesses últimos anos”, pontua. Para o bispo, Francisco é um homem de paz e trará consigo uma mensagem de paz.

“A Igreja iraquiana está honrada em receber, em hospedar o Santo Padre. Das crianças aos idosos, todos levam o Papa Francisco no coração. Ele permanecerá em nossos corações”.

Dom Samaan comenta ainda que Francisco sempre se mostrou próximo ao Iraque. “Sabemos o quanto rezou por nós durante todo o tempo de crise e, portanto, acolhemos a sua vinda com os braços abertos”.

País de grande significado religioso 

O Patriarca dos Caldeus da Babilônia, Cardeal Louis Raphaël I Sako, destaca que o Iraque também faz parte da Terra Santa.

O cardeal cita profetas e figuras bíblicas que ali viveram ou passaram, como Abraão, Ezequiel (seu túmulo está ali), Jonas e Naum, na cidade de Al-Qosh. “Uma parte da Bíblia foi escrita durante o exílio nesta terra”, contextualizou o purpurado.

Patriarca Louis Raphael I Sako /Foto: Stefano Rellandini – Reuters

Primeira Missa em rito oriental

No segundo dia de viagem, Francisco celebrará a Missa em rito caldeu. “É a primeira vez que o Papa celebra em rito oriental, abraçando assim toda a Igreja”, explica o cardeal.

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No dia seguinte, ele irá a Erbil para se encontrar com as autoridades civis e depois a Mosul, a cidade símbolo da ruína trazida pelo Estado Islâmico.

Preparativos para Missa em Erbil

Para a missa em Erbil, Dom Samaan afirma que, além dos leigos e leigas, são esperados religiosos e religiosas, padres e também jornalistas. O bispo destacou os cerca de 200 jovens voluntários e os esforços das autoridades civis na organização da acolhida do Papa.

Iraque: capaz de acolher o Papa

A viagem, para Dom Samaan, também será uma oportunidade de mostrar a capacidade dos iraquianos de acolher o Santo Padre.

“Com a visita do Papa as pessoas nos olharão de um jeito diferente agora, como um povo que acolhe os seus visitantes, sabe tratar este importante momento de alegria. Estamos todos trabalhando, com nossos preparativos, e esperamos que a visita correrá bem”.

Encontro inter-religioso em Nassíria

Sobre o encontro inter-religioso em Nassíria, na Planíce de Ur, que acontece no sábado, 6, Dom Samaan falou sobre o significado. “O Papa vem para nos dizer que todos têm o direito de viver nesta terra com paz, dignidade, tranquilidade e com respeito uns pelos outros”.

 A reflexão do bispo faz alusão ao êxodo cristão ocorrido nos últimos anos devido à perseguição religiosa por parte dos radicais islâmicos.

“Nós, como cristãos, fazemos tudo o que é possível para realizar essa convivência pacífica civil com todos os nossos irmãos. Não temos problema com ninguém. O que aconteceu no passado agora é passado”, frisa.

Testemunho de uma Igreja em Saída

Padre Marcus Barbosa /Foto: Arquivo Pessoal

O assessor da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Marcus Barbosa Guimarães, comenta que o Papa não somente pede uma Igreja em saída como dá testemunho. “Ele (Francisco) não espera, mas toma iniciativa”, frisa.

Para o sacerdote, não só o encontro inter-religioso, como toda viagem, abrirá mais caminhos de diálogo e de paz no Iraque. “Com essa visita, muros são desconstruídos e novas pontes de diálogo são abertas!”.

A proximidade e presença do Papa confirmará os cristãos do Iraque a prosseguirem dando testemunho da fé. É o que sublinha padre Marcus.

Encorajando os cristãos

No domingo, 7, o Papa vai a Mossul e depois a Qaraqosh. Neste último, recitará a oração do Angelus para encorajar os cristãos da planície de Nínive.

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“Irá encorajá-los a permanecer, perseverar, ter esperança. Mas creio eu, acima de tudo, encorajá-los a reconstruir a confiança uns nos outros para um futuro melhor”, destaca Dom Sako.

Intolerância

“Há muita intolerância no Oriente Médio, mas também no Ocidente. Aqui, as relações entre cristãos e muçulmanos agora são boas, não há dificuldades. Mas a ideologia fundamentalista ameaça todos aqueles que não a aceitam”, releva o cardeal.

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O Patriarca dos Caldeus classifica a vinda do Papa também como um grande desafio. “É um desafio vir e dizer não mais guerras, não mais mal, não mais corrupção”.

Abertos ao futuro

Dom Samaan afirma que os cristãos estão abertos ao futuro. “A visita do Santo Padre nos encoraja e nos dá esperança a um bom futuro”.

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Depois da visita, o arcebispo espera que todas as religiões presentes no Iraque trabalhem em unidade para construir o futuro.

*Colaborou com tradução Jéssica Marçal

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