II Domingo da Páscoa

Tornemo-nos misericordiosos, pede Papa Francisco no Domingo da Misericórdia

Na missa no Domingo da Divina Misericórdia, Papa Francisco pediu para que a fé não seja vivida pela metade

Da redação, com Vatican News

misericordioso

Papa celebrou a missa no Domingo da Misericórdia, em Sassia, Itália./ Foto: Reprodução Vatican Media

O Papa Francisco presidiu a celebração eucarística neste II Domingo de Páscoa, 11, Domingo da Divina Misericórdia, na Igreja de Santo Espírito, em Sassia, Santuário da Divina Misericórdia, localizado nas proximidades do Vaticano, seguindo as normas contra a covid-19.

“Jesus ressuscitado aparece aos discípulos várias vezes; com paciência, conforta os seus corações desanimados. E assim, depois da sua ressurreição, realiza a ressurreição dos discípulos; e, solevados por Jesus, mudam de vida. Antes, inúmeras palavras e tantos exemplos do Senhor não conseguiram transformá-los; mas agora, na Páscoa, algo de novo verifica-se; e verifica-se sob o signo da misericórdia: Jesus os levanta com a misericórdia; eles, obtendo misericórdia, tornam-se misericordiosos”, disse Francisco em sua homilia.

Segundo o Papa, os discípulos obtêm a misericórdia mediante três dons: Jesus oferece-lhes a paz, depois o Espírito e, por fim, as chagas.

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A paz do coração

Em primeiro lugar, dá-lhes a paz. “Os discípulos estavam angustiados. Fecharam-se em casa assustados, com medo de serem presos e acabarem como o Mestre. Mas não estavam fechados só em casa; estavam fechados também nos seus remorsos: tinham abandonado e renegado Jesus; sentiam-se uns incapazes, inúteis, falhos. Chega Jesus e repete duas vezes: «A paz esteja com vocês!»”, disse o Papa, acrescentando:

Não traz uma paz que, de fora, elimina os problemas, mas uma paz que infunde confiança dentro. Não uma paz exterior, mas a paz do coração. Aqueles discípulos desanimados recuperam a paz consigo mesmos. A paz de Jesus suscita a missão. Não é tranquilidade, nem comodidade; é sair de si mesmo. A paz de Jesus liberta dos fechamentos que paralisam, quebra as correntes que mantêm o coração prisioneiro. E os discípulos sentem-se cumulados de misericórdia: sentem que Deus não os condena, nem humilha, mas acredita neles.

O perdão no Espírito Santo

Em segundo lugar, Jesus usa de misericórdia com os discípulos oferecendo-lhes o Espírito Santo. Dá a eles a remissão dos pecados. “Temos sempre diante de nós o nosso pecado. Sozinhos, não podemos cancelá-lo. Só Deus o elimina; só Ele, com a sua misericórdia, faz-nos sair das nossas misérias mais profundas. Como aqueles discípulos, precisamos de nos deixar perdoar. O perdão no Espírito Santo é o dom pascal para ressuscitar interiormente”, disse ainda o Papa.

Peçamos a graça de o acolher, de abraçar o Sacramento do perdão, e de compreender que, no centro da Confissão, não estamos nós com os nossos pecados, mas Deus com a sua misericórdia. Não nos confessamos para nos deprimir, mas para fazer-nos levantar. Todos precisamos disso. Caímos com frequência e a mão do Pai está pronta a pôr-nos de pé e fazer-nos caminhar. Esta mão segura e confiável é a Confissão. É o Sacramento que nos levanta, não nos deixando caídos, chorando no chão de nossas quedas. É o Sacramento da ressurreição, é pura misericórdia. E quem recebe as Confissões deve fazer sentir a doçura da misericórdia.

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As chagas derramam misericórdia sobre as nossas misérias

Depois da paz que reabilita e do perdão que levanta, eis o terceiro dom com que Jesus usa de misericórdia com os discípulos: apresenta-lhes as chagas.

As chagas são canais abertos entre Ele e nós, que derramam misericórdia sobre as nossas misérias. São os caminhos que Deus nos patenteou para entrarmos na sua ternura e tocar com a mão quem é Ele. E deixamos de duvidar da sua misericórdia. Adorando, beijando as suas chagas, descobrimos que cada uma das nossas fraquezas é acolhida na sua ternura. Tudo nasce da graça de obter misericórdia. Se, pelo contrário, nos apoiamos nas nossas capacidades, na eficiência das nossas estruturas e dos nossos projetos, não iremos longe. Só se acolhermos o amor de Deus é que poderemos dar algo de novo ao mundo.

Tornemo-nos misericordiosos

Tendo obtido misericórdia, os discípulos se tornaram misericordiosos. Como conseguiram mudar assim? “Viram no outro a mesma misericórdia que transformou a sua vida. Descobriram que tinham em comum a missão, o perdão e o Corpo de Jesus: a partilha dos bens terrenos aparecia-lhes como uma consequência natural. Os seus medos dissolveram-se ao tocar as chagas do Senhor, agora não têm medo de curar as chagas dos necessitados, porque ali veem Jesus, porque ali está Jesus”, disse o Papa.

“Não vivamos uma fé pela metade, que recebe, mas não doa; que acolhe o dom, mas não se faz dom. Obtivemos misericórdia, tornemo-nos misericordiosos. Com efeito, se o amor acaba em nós mesmos, a fé evapora-se num intimismo estéril. Sem os outros, torna-se desencarnada. Sem as obras de misericórdia, morre. Deixemo-nos ressuscitar pela paz, o perdão e as chagas de Jesus misericordioso. E peçamos a graça de nos tornar testemunhas de misericórdia. Só assim será viva a fé; e a vida unificada. Só assim anunciaremos o Evangelho de Deus, que é Evangelho de misericórdia”, concluiu Francisco.

Sentir-se misericordiado para ser misericordioso

Ao final da missa, o Papa Francisco rezou a oração do Regina Coeli e agradeceu “a todos aqueles que colaboraram para prepará-la e transmiti-la ao vivo”. Saudou também todos aqueles que participaram da celebração através dos meios de comunicação. A seguir, acrescentou:

Saúdo de modo especial a todos vocês que estão presentes aqui na Igreja de Santo Espírito em Sassia, Santuário da Divina Misericórdia: fiéis habituais, enfermeiros, detentos, pessoas com deficiência, refugiados e migrantes, Irmãs Hospitaleiras da Divina Misericórdia, e voluntários da Defesa Civil. Vocês representam algumas realidades nas quais a misericórdia se torna concreta, torna-se proximidade, serviço, atenção às pessoas em dificuldade. Desejo que vocês se sintam sempre misericordiados para, por sua vez, serem misericordiosos.

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