Catequese

"Recebemos a graça de nos tornarmos filhos de Deus", diz Papa

Na Catequese desta quarta-feira, 18, Francisco falou sobre o valor propedêutico da Lei, segundo o ensinamento do Apóstolo São Paulo

Da redação, com Vatican News

Papa durante a Catequese desta quarta-feira, 18/ Foto: Vatican Media via Reuters

“Quando se chega à fé, a Lei esgota o seu valor propedêutico e deve dar lugar a outra autoridade”. Foi o que disse o Papa na audiência geral desta quarta-feira, 18. A Catequese aconteceu na Sala Paulo VI, no Vaticano.

Ao falar sobre o valor propedêutico da Lei, o Pontífice deu prosseguimento à sua série de catequeses sobre a Carta aos Gálatas.

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São Paulo ensinou que os “filhos da promessa” (Gl 4, 28), através da fé em Jesus Cristo, não estão sob o vínculo da Lei. Eles são chamados ao estilo de vida exigente na liberdade do Evangelho. No entanto, a Lei existe, observou o Santo Padre

O papel da Lei, segundo São Paulo

Francisco perguntou qual é, segundo a Carta aos Gálatas, o papel da Lei.  Na proposta antes de sua catequese (Gl 3, 23-25) – Paulo diz que a Lei foi como um pedagogo. É uma bonita imagem, destacou o Papa, que merece ser compreendida no seu justo significado.

Parece que o Apóstolo sugere que os cristãos dividem a história da salvação, e também a própria história pessoal, em dois momentos: antes de se tornarem crentes e depois de terem recebido a fé.

No centro, explicou o Santo Padre, está o acontecimento da morte e ressurreição de Jesus. Paulo pregou a fim de suscitar a fé no Filho de Deus, fonte da salvação, prosseguiu.

Partindo da fé em Cristo, o Pontífice afirmou que há um “antes” e um “depois” em relação à própria Lei. A história anterior é determinada pelo fato de estar “sob a Lei”; a história subsequente deve ser vivida seguindo o Espírito Santo (cf. Gl 5, 25).

É a primeira vez que Paulo usa esta expressão: estar “sob a Lei”. O significado subjacente implica a ideia de uma servidão negativa, típica dos escravos.

O Apóstolo torna-o explícito dizendo que quando se está “sob a Lei” é como estar “vigiado” e “preso”, uma espécie de custódia preventiva. Este tempo, diz São Paulo, durou muito e perpetua-se enquanto se vive em pecado.

Lei e pecado

Prosseguindo em sua catequese, Francisco chamou a atenção para o fato de que a relação entre a Lei e o pecado será explicada de uma forma mais sistemática pelo Apóstolo na sua Carta aos Romanos, escrita alguns anos após a Carta aos Gálatas.

Em síntese, a Lei leva a definir a transgressão e a tornar as pessoas conscientes do próprio pecado. Aliás, como ensina a experiência comum, o preceito acaba por estimular a transgressão.

Na Carta aos Romanos, escreve: “Quando estávamos na carne, as paixões pecaminosas, fortalecidas pela lei, operavam em nossos membros e produziam frutos para a morte. Agora, porém, livres da lei, estamos mortos para o que nos sujeitara, de modo que servimos num espírito novo e não segundo uma lei antiquada” (7, 5-6).

De modo lapidário, enfatizou o Santo Padre, Paulo expõe a sua visão da Lei: “O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a Lei” (1 Cor 15, 56). Neste contexto, a referência ao papel pedagógico desempenhado pela Lei assume o seu pleno sentido.

A função da Lei na história de Israel

No sistema escolar da antiguidade, explicou Francisco, o pedagogo não tinha a função que lhe atribuímos hoje: dar educação. Naquela época, ele era um escravo. Sua tarefa consistia em acompanhar o filho do dono ao mestre e depois trazê-lo para casa.

Desta forma, o Papa recorda que o educador tinha que proteger o jovem do perigo e vigiar para que não se comportasse mal. A sua função era bastante disciplinar. Quando o rapaz se tornava adulto, o pedagogo cessava as suas funções.

Dito isso, o Pontífice frisou ainda que a referência à Lei nestes termos permite que são Paulo esclareça a sua função na história de Israel.

“A Torá tinha sido um ato de magnanimidade por parte de Deus para com o seu povo. Certamente teve funções restritivas, mas ao mesmo tempo protegeu o povo, educou-o, disciplinou-o e sustentou-o na sua fraqueza.”

É por esta razão que o Apóstolo reflete sucessivamente ao descrever a fase da menoridade:

“Enquanto o herdeiro é menino, em nada difere do servo, ainda que seja senhor de tudo, pois está sob o domínio de tutores e administradores, até ao dia determinado pelo pai. Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos subjugados pelos elementos do mundo” (Gl 4, 1-3).

Amadurecimento da fé e superação da Lei

Em suma, a convicção do Apóstolo é que a Lei tem certamente uma função positiva, mas limitada no tempo.

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A sua duração não pode ser prolongada para além disso, pois está ligada à maturação dos indivíduos e à sua escolha de liberdade. Quando se chega à fé, a Lei esgota o seu valor propedêutico e deve dar lugar a outra autoridade.

Francisco concluiu afirmando que “este ensinamento sobre o valor da lei é muito importante e merece ser considerado cuidadosamente para não cair em equívocos nem dar passos falsos”.

“Far-nos-á bem perguntarmo-nos se ainda vivemos no período em que precisamos da Lei, ou se estamos bem conscientes de que recebemos a graça de nos tornarmos filhos de Deus para viver no amor.”

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