Dia Mundial dos Pobres

Pobreza é consequência do egoísmo, destaca Papa em mensagem

Mensagem do Papa para o Dia Mundial dos Pobres foi divulgada hoje; Papa reflete sobre pobreza e postura com relação ao pobre

Jéssica Marlal, com Boletim da Santa Sé
Da Redação

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Papa defende uma abordagem diferente da pobreza, com verdadeira atenção ao pobre / Foto: Stas V by Getty Images

A pobreza não é fruto do destino, mas uma consequência do egoísmo, ressalta o Papa Francisco na mensagem para o Dia Mundial dos Pobres 2021. O texto foi apresentado nesta segunda-feira, 14.

“Sempre tereis pobres entre vós” (Mc 14, 7) foi o tema escolhido por Francisco para a quinta edição da data, que será celebrada em 14 de novembro. Segundo o Papa, esse tema constitui um convite a nunca perder a oportunidade de fazer o bem.

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.: Íntegra da mensagem para o V Dia Mundial dos Pobres

Os pobres têm muito a ensinar, lembra o Papa, reiterando o chamado a descobrir neles o Cristo. Não basta emprestar a voz às suas causas, mas é preciso ser amigo deles, escutá-los, compreendê-los.

“O nosso compromisso não consiste exclusivamente em ações ou em programas de promoção e assistência; aquilo que o Espírito põe em movimento não é um excesso de ativismo, mas primariamente uma atenção prestada ao outro, considerando-o como um só consigo mesmo”.

Partilhar com os pobres

“Os pobres não são pessoas ‘externas’ à comunidade, mas irmãos e irmãs cujo sofrimento se partilha”
Papa Francisco

Francisco ressalta ainda que Jesus não só está do lado dos pobres, mas partilha com eles a mesma sorte. E essas palavras que o próprio Jesus disse poucos dias antes da Páscoa – “sempre tereis pobres entre vós” – querem indicar também isto. A presença dos pobres é constante, mas não deve induzir à indiferença, e sim no empenho de partilha de vida.

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“Os pobres não são pessoas «externas» à comunidade, mas irmãos e irmãs cujo sofrimento se partilha (…) A esmola é ocasional, ao passo que a partilha é duradoura. A primeira corre o risco de gratificar quem a dá e humilhar quem a recebe, enquanto a segunda reforça a solidariedade e cria as premissas necessárias para se alcançar a justiça”.

O Papa lembra que, com frequência, os pobres são considerados uma categoria que requer um serviço caritativo especial. Mas seguir Jesus comporta uma mudança de mentalidade quanto a isso, acolhendo o desafio da partilha e da comparticipação.

Pandemia e a pobreza

O Santo Padre também fala na mensagem sobre novas formas de pobreza, sobre as “armadilhas novas de miséria e da exclusão”.

Somado a isso, chegou no ano passado a pandemia, que multiplicou ainda mais o número dos pobres. Uma realidade que continua a bater à porta de milhões de pessoas, sendo portadora também de pobreza.

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Neste cenário, o Papa pede um olhar atento e respostas concretas a quem está desempregado, destacando também o dom da solidariedade. “A solidariedade social e a generosidade de que muitos, graças a Deus, são capazes, juntamente com projetos clarividentes de promoção humana, estão a dar e darão um contributo muito importante nesta conjuntura”.

Pobres não só recebem, devem poder dar

Ainda permanece, frisa o Papa, o questionamento sobre como dar uma resposta palpável aos milhões de pobres. Qual seria o caminho da justiça para superar as desigualdades sociais?

“Um estilo de vida individualista é cúmplice na geração da pobreza”
Papa Francisco

“Um estilo de vida individualista é cúmplice na geração da pobreza e, muitas vezes, descarrega sobre os pobres toda a responsabilidade da sua condição. Mas a pobreza não é fruto do destino; é consequência do egoísmo”.

Diante disso, Francisco defende processos de desenvolvimento onde se valorizem as capacidades de todos. Trata-se de proporcionar que a complementaridade das competências conduza a um recurso comum de participação. Os pobres não podem ser apenas aqueles que recebem, diz o Papa, mas devem ser colocados em condição de poder dar.

“Os pobres ensinam-nos frequentemente a solidariedade e a partilha. É verdade que são pessoas a quem falta algo e por vezes até muito, se não mesmo o necessário; mas não falta tudo, porque conservam a dignidade de filhos de Deus que nada e ninguém lhes pode tirar.”

Abordagem diferente da pobreza

Uma abordagem diferente da pobreza é um desafio para governos e instituições, destaca o Papa. Segundo ele, é preciso confessar, muitas vezes, a incompetência com relação aos pobres: fala-se deles em abstrato, fica-se apenas na estatística. Mas, ao contrário, a pobreza deveria incitar à criatividade.

“Servir eficazmente os pobres incita à ação e permite encontrar as formas mais adequadas para levantar e promover esta parte da humanidade, demasiadas vezes anónima e sem voz, mas que em si mesma traz impresso o rosto do Salvador que pede ajuda”.

O Papa pede, por fim, que o Dia Mundial dos Pobres seja cada vez mais radicado nas Igrejas locais. Dessa forma, seu desejo é uma evangelização que encontre os pobres lá onde eles estão.

“Não podemos ficar à espera que batam à nossa porta; é urgente ir ter com eles às suas casas, aos hospitais e casas de assistência, à estrada e aos cantos escuros onde, por vezes, se escondem, aos centros de refúgio e de acolhimento… É importante compreender como se sentem, o que estão a passar e quais os desejos que têm no coração”, conclui.

O Dia Mundial dos Pobres

O Dia Mundial dos Pobres foi instituído em toda a Igreja pelo Papa Francisco, em 2016, ao final do Jubileu da Misericórdia. A data é celebrada anualmente no penúltimo domingo do ano litúrgico, que em 2021 será 14 de novembro.

A animação da data em todo o mundo ficou sob responsabilidade da Cáritas, a pedido do Papa.  No Brasil, a celebração foi inserida nas atividades da Semana da Solidariedade, realizada pela Cáritas Brasileira.

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