Encontro em Bari

Papa frisa paz e fraternidade em encontro com bispos do Mediterrâneo

Santo Padre reforçou necessidade de acolher quem foi obrigado a deixar sua terra; levantar muros impede o acesso à riqueza de que o outro é portador, disse

Da Redação, com Vatican News

Papa Francisco fala aos bispos do Mediterrâneo que participaram de encontro com o tema “Mediterrâneo, fronteira de paz” / Foto: Vatican Media via Reuters

O Papa Francisco visitou Bari, ao sul da Itália, neste domingo, 23, para o encerramento do encontro de reflexão e espiritualidade “Mediterrâneo, fronteira de paz”, promovido pela Conferência Episcopal italiana (CEI) e que se concentrou na crise migratória. O Pontífice destacou que o objetivo de toda a sociedade humana continua sendo a paz, por isso reafirmou: “não há alternativa possível à paz”.

O evento acontece desde o dia 19 de fevereiro e teve hoje a participação do Papa Francisco, que destacou, em seu discurso, a importância deste encontro na cidade de Bari, tão importante pelos laços que tem com o Oriente Médio e com o continente africano. O Santo Padre já esteve em Bari há um ano, em um encontro com os responsáveis das comunidades cristãs do Oriente Médio.

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“O anúncio do Evangelho não pode dissociar-se do empenho pelo bem comum e impele-nos a agir como incansáveis pacificadores”, disse Francisco, lembrando que a área do Mediterrâneo está ameaçada por focos de instabilidade e guerra, seja no Oriente Médio seja em estados do Norte da África, bem como entre diferentes etnias ou grupos religiosos e confessionais. “E não podemos esquecer também o conflito ainda não resolvido entre israelenses e palestinos, correndo o perigo de soluções não equitativas e, consequentemente, pressagiadoras de novas crises”.

Francisco destacou que todo projeto de exploração e supremacia brutaliza seja quem fere seja quem é ferido, de forma que não há qualquer alternativa sensata à paz. “A guerra aparece como o falimento de todo o projeto humano e divino”, ressaltou.

Justiça, pressuposto indispensável para a paz

“A construção da paz, que a Igreja e toda a instituição civil sempre devem sentir como uma prioridade, tem como pressuposto indispensável a justiça. Esta acaba espezinhada quando são ignoradas as exigências das pessoas e onde os interesses econômicos duma parte prevalecem sobre os direitos dos indivíduos e da comunidade”, afirmou o Papa.

Francisco questionou para que serve uma sociedade que alcança sempre novos resultados tecnológicos enquanto se torna cada vez menos solidária com os necessitados. “Ao invés, com o anúncio do Evangelho, transmitimos a lógica segundo a qual não existem últimos e esforçamo-nos para que a Igreja, através de um empenho cada vez mais ativo, seja sinal de atenção privilegiada pelos humildes e os pobres”.

Irmãos forçados a abandonar a pátria

Entre as pessoas mais atribuladas na área do Mediterrâneo, contam-se as que fogem da guerra ou deixam a sua terra em busca de uma vida digna do homem. O Santo Padre observou que o número destes irmãos tem aumentado em virtude de conflitos e trágicas condições climáticas e ambientais.

Nesse ponto, lembrou que se difundiu um sentido de indiferença e até de rejeição. “Cresce um sentimento de medo, que leva a erguer as próprias defesas perante aquilo que, instrumentalmente, é descrito como uma invasão. A retórica do choque de civilizações serve apenas para justificar a violência e alimentar o ódio”.

“Por nossa vez, irmãos, levantamos a voz para pedir aos governos a tutela das minorias e da liberdade religiosa. A perseguição de que são vítimas sobretudo, mas não só, as comunidades cristãs é uma ferida que dilacera o nosso coração e não nos pode deixar indiferentes”, disse Francisco, afirmando com veemência: “Jamais aceitaremos que pessoas que procuram por mar a esperança morram sem receber socorro, nem que alguém que chega de longe acabe vítima de exploração sexual, seja mal pago ou contratado pelas máfias”.

Não levantar muros

Francisco considerou que não é um processo fácil a hospitalidade e a integração digna, mas é impensável poder enfrentá-lo levantando muros. Isso acaba impedindo o acesso à riqueza de que o outro é portador e que sempre constitui uma oportunidade de crescimento.

O Papa afirmou ainda que o Mediterrâneo tem uma vocação peculiar: é o mar da mestiçagem, “culturalmente sempre aberto ao encontro, ao diálogo e à mútua inculturação”. “Só o diálogo permite encontrar-se, superar preconceitos e estereótipos, contar e conhecer-se melhor a si mesmo” frisou.

E concluiu: “Eis a obra que o Senhor vos confia para esta amada área do Mediterrâneo: reconstruir os laços que foram interrompidos, levantar as cidades destruídas pela violência, fazer florescer um jardim lá onde hoje há terrenos secos, infundir esperança para quem a perdeu e exortar quem está fechado em si mesmo a não temer o irmão. E olhar este, que já se tornou cemitério, como um lugar de futura ressurreição de toda a área”.

Papa venera as relíquias de São Nicolau na cripta da Basílica / Foto; Vatican Media via Reuters

Ao término do encontro com os Bispos do Mediterrâneo, o Papa desceu à Cripta da Basílica para venerar as relíquias de São Nicolau e saudou os Padres Dominicanos. Depois, presidiu a Missa e rezou o Angelus com os fiéis. 

 

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