Encontro na Catedral

Papa encoraja a Igreja no Cazaquistão: abertura, alegria e partilha

Francisco se reuniu com a Igreja no Cazaquistão – clero, religiosos e leigos – encorajando sua missão, para que sejam uma Igreja sem medos e moralismos

Jéssica Marçal
Da Redação, com Boletim da Santa Sé

Papa Francisco no encontro com o clero, religiosos e leigos na Catedral Mãe de Deus do Perpétuo Socorro em Nursultan / Foto: Reprodução Vatican News

O Papa Francisco encorajou a missão da Igreja no Cazaquistão, propondo a abertura, a alegria e a partilha. O Pontífice se reuniu com bispos, padres, diáconos, consagrados, seminaristas e agentes pastorais nesta quinta-feira, 15, em seu último dia de viagem ao Cazaquistão.

O encontro aconteceu na Catedral Mãe de Deus do Perpétuo Socorro na capital Nursultan. Olhando para a Igreja local feita de tantos rostos, histórias e tradições, mas unida por uma única fé em Cristo, o Papa destacou que a beleza da Igreja está justamente em ser uma única família, na qual ninguém é estrangeiro. “Repito: ninguém é estrangeiro na Igreja, somos um único Povo santo de Deus, rico de tantos povos!”.

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O valor da memória

O discurso de Francisco partiu de duas palavras-chave: herança e promessa. “A herança do passado é a nossa memória, a promessa do Evangelho é o futuro de Deus que vem ao nosso encontro”.

Refletindo sobre o primeiro elemento, o Papa lembrou a rica história que precedeu a Igreja no Cazaquistão. Ele mencionou, por exemplo, a difusão do cristianismo na Ásia central, com tantos evangelizadores e missionários que se dedicaram a difundir a luz do Evangelho.

“No caminho espiritual e eclesial, não devemos perder a lembrança de quantos nos anunciaram a fé, porque fazer memória ajuda-nos a desenvolver o espírito de contemplação das maravilhas que Deus operou na história, mesmo no meio das fadigas da vida e das fragilidades pessoais e comunitárias”.

Uma ressalva importante, no entanto, é que não se deve olhar para trás com nostalgia. Francisco falou aos presentes que bloquear-se no passado, paralisando-se no imobilismo, é a tentação de retroceder. “Um coração agradecido, que transborda de louvor, não cultiva lamentos, mas acolhe como uma graça o hoje que vive.”

Testemunhar o coração da salvação

O Pontífice acrescentou que sem memória não há estupefação e as atividades pastorais correm o risco de esmorecer. A fé não é transmitida de geração em geração como um conjunto de coisas, mas passou com a vida, com o testemunho, um caminho que ele exortou a Igreja a seguir.

“Não nos cansemos de testemunhar o coração da salvação, a novidade de Jesus, a novidade que é Jesus! A fé não é uma bela exposição de coisas do passado – isto seria um museu –, mas um evento sempre atual, o encontro com Cristo que acontece aqui e agora na vida. Por isso não se comunica apenas com a repetição das coisas de sempre, mas transmitindo a novidade do Evangelho”.

O futuro: abertura à esperança

A segunda palavra destacada no discurso do Papa foi “futuro”. Segundo o Santo Padre, a memória do passado não fecha as pessoas em si mesmas, mas abre à promessa do Evangelho. Jesus garantiu que estaria conosco e não se cansa de fazer isso, apesar das nossas fraquezas, pontuou.

No Cazaquistão, apenas 0,01% da população é católica. Frente à vastidão do país e à possibilidade de se sentir “pequenos e inadequados”, Francisco convidou a ter o olhar esperançoso de Jesus. Aliás, já diz o Evangelho que ser pequeno, pobre em espírito, é uma bem-aventurança, porque a pequenez entrega-se, humildemente, ao poder de Deus.

“Há uma graça escondida no fato de se constituir uma pequena Igreja, um pequeno rebanho; em vez de exibir as nossas forças, os nossos números, as nossas estruturas e todas as outras formas de relevância humana, deixamo-nos guiar pelo Senhor e colocamo-nos, com humildade, ao lado das pessoas. Ricos de nada, pobres de tudo, caminhamos com simplicidade, próximo das irmãs e irmãos do nosso povo, levando às situações da vida a alegria do Evangelho”.

Igreja sinodal – abertura, alegria e partilha

Francisco recordou ainda aos presentes que não só os bispos, padres e consagrados, mas todos os batizados são chamados a receber a herança e acolher a promessa do Evangelho. Por isso deve-se dar espaço aos leigos, observou. “Uma Igreja sinodal, em caminho para o futuro do Espírito, é uma Igreja participativa, corresponsável. É uma Igreja capaz de sair ao encontro do mundo, porque treinada na comunhão”.

Abertura, alegria e partilha são sinais não só da Igreja primitiva, mas também da Igreja do futuro, disse o Papa. Assim, Francisco encorajou a Igreja no Cazaquistão: “Sonhemos e, com a graça de Deus, construamos uma Igreja mais habitada pela alegria do Ressuscitado, que rejeite medos e lamentos, que não se deixe endurecer por dogmatismos e moralismos”.

O Santo Padre deixou ainda uma palavra em especial aos bispos, padres e seminaristas: “a nossa missão não é ser administradores do sagrado ou polícias preocupados em fazer respeitar as normas religiosas, mas pastores próximos do povo, ícones vivos do coração compassivo de Cristo”.

Francisco encerrou o discurso assegurando sua unidade à Igreja no Cazaquistão. Ele exortou os presentes a viverem com alegria a herança da fé e testemunhá-la com generosidade, sob a proteção da Virgem Maria.

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