Mensagem aos jovens

Papa em mensagem para JMJ: abrir-se para a realidade além do virtual

JMJ 2020 será celebrada em nível diocesano no Domingo de Ramos, 5 de abril; Papa enfatiza para os jovens o verbo “levantar-se”

Da redação, com Boletim da Santa Sé

Papa fala aos jovens em preparação à Jornada Mundial da Juventude, celebrada em nível diocesano em 202o e 2021 e em âmbito internacional em 2022, em Portugal / Foto: Daniel Ibanez – CNA

O Vaticano divulgou nesta quinta-feira, 5, a mensagem do Papa Francisco para a Jornada Mundial da Juventude 2020, que será realizada em nível diocesano no Domingo de Ramos, 5 de abril. A mensagem tem como tema uma passagem do Evangelho de Lucas: “Jovem, Eu te digo, levanta-te!” (Lc 7, 14).

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.: Íntegra da mensagem do Papa

O verbo “levantar-se” é a palavra-chave que liga as três etapas do itinerário da Igreja junto aos jovens no caminho de preparação para a edição internacional do evento em 2022, que terá como tema “Maria levantou-Se e partiu apressadamente” (Lc 1, 39). Trata-se de um termo presente nos três temas escolhidos pelo Santo Padre para esse caminho, explica um comunicado do órgão vaticano para os Leigos, a Família e a Vida divulgado hoje. Em 2021, o tema será “Levanta-te! Eu te constituo testemunha do que viste!” (At 26, 16).

Em sua mensagem, Francisco recorda aos jovens que este verbo assume também o significado de ressuscitar, despertar-se para a vida. Ele menciona ainda que o convite a levantar-se aparece diversas vezes na exortação apostólica pós-sinodal “Christus vivit”, destacando a ligação entre o processo sinodal dedicado aos jovens e o caminho das JMJs. “Acontecimentos como estes – Sínodo e JMJ – manifestam uma dimensão essencial da Igreja: o ‘caminhar juntos'”, escreve o Papa.

Da passagem que inspira o tema deste ano, Francisco destaca Jesus que, tocado pelo sofrimento da mulher que chora a morte do filho, faz o milagre de ressuscitá-lo, após uma série de atitudes e gestos: Jesus olha atentamente para aquela cena, tem compaixão, aproxima-se. A partir desses gestos, Francisco questiona aos jovens como é a atitude eles hoje em dia:

“Como é o meu olhar? Vejo com olhos atentos ou como faço ao repassar rapidamente as milhares de fotografias no meu telemóvel ou os perfis sociais? Quantas vezes nos acontece, hoje, ser testemunhas oculares de inúmeros acontecimentos, sem nunca os vivermos ao vivo! Às vezes, a nossa primeira reação é filmar a cena com o telemóvel, talvez esquecendo-nos de fixar nos olhos as pessoas envolvidas”.

O Santo Padre menciona no texto tantas situações negativas vividas pelos jovens atualmente: a perda da esperança, a depressão, a tentativa de destruir a própria vida. Ele também fala de um “generalizado narcisismo digital”, que influencia tantos jovens e adultos. 

“Os comportamentos negativos podem ser provocados também por fracassos pessoais, quando algo que tínhamos a peito e por que nos tínhamos esforçado deixa de progredir ou não produz os resultados esperados. Pode acontecer no campo escolar, ou com pretensões desportivas e artísticas, etc. O fim dum ‘sonho’ pode levar a sentir-se morto. Mas os fracassos fazem parte da vida de todo o ser humano, podendo às vezes revelar-se até uma graça”.

Compaixão e aproximação

Da passagem bíblica, Francisco destacou que a comoção de Jesus fez Dele participante da realidade do outro, no caso, a dor daquela mãe pela perda do filho tornou-se a dor de Jesus; a morte daquele filho tornou-se a sua morte.

Trazendo para os dias de hoje, o Papa fala que também os jovens sabem como se padecer da dor do outro, o que pode ser visto em situações de desastres, terremotos, inundações, em que sempre há grupos de jovens voluntários para prestar socorro. “Queridos jovens, não deixeis que vos roubem esta sensibilidade. Oxalá ouçais sempre o gemido de quem sofre; oxalá vos deixeis comover por aqueles que choram e morrem no mundo atual”.

Jesus também se aproximou do cortejo fúnebre e tocou o caixão. A proximidade impele a ir mais além disse o Papa; seu toque é gesto profético, penetra a realidade de desespero. “A eficácia deste gesto de Jesus é incalculável: lembra-nos que um sinal de proximidade, mesmo simples mas concreto, pode suscitar forças de ressurreição”.

Levantar-se

Francisco ressalta ainda para os jovens que os cristãos caem e sempre devem se levantar: “só quem não caminha é que não cai”. O primeiro passo é aceitar levantar-se, é preciso acolher a intervenção de Cristo e fazer um ato de fé em Deus. 

“Provavelmente, nos momentos de dificuldade, muitos de vós ouviram repetir-lhe certas frases “mágicas” que estão de moda hoje e deveriam resolver tudo: ‘deves acreditar em ti próprio’, ‘deves encontrar os recursos dentro de ti’, ‘deves tomar consciência da tua energia positiva’, etc. Mas todas elas não passam de meras palavras e, para quem estiver verdadeiramente morto dentro, não funcionam. A palavra de Cristo tem outra espessura: é infinitamente superior; é uma palavra divina e criadora, a única que pode restabelecer a vida onde esta se apagou”.

Francisco aponta que a primeira reação de uma pessoa que foi tocada e restituída à vida por Cristo é expressar-se. Falar, segundo o Papa, é também entrar em relação com os outros. Nesse ponto, o Pontífice ressaltou que hoje muitas vezes há “conexão”, mas não “comunicação”. 

“Se o uso dos aparelhos eletrônicos não for equilibrado, pode levar-nos a ficar sempre colados a um visor. Com esta mensagem, queridos jovens, gostaria também de lançar juntamente convosco o desafio duma viragem cultural, a partir deste ‘levanta-te’ de Jesus. Numa cultura que quer os jovens isolados e debruçados sobre mundos virtuais, façamos circular esta palavra de Jesus: ‘Levanta-te’. É um convite a abrir-se para uma realidade que vai muito além do virtual. Isto não significa desprezar a tecnologia, mas usá-la como um meio e não como fim”.

O Santo Padre conclui sua mensagem convidando os jovens a pensarem em suas paixões, em seus sonhos e, através deles, propor ao mundo, à Igreja e a outros jovens algo de belo no campo espiritual, artístico e social. E tudo isso confiados a Maria. 

“Nela podemos reconhecer também a Igreja, que quer acolher com ternura os jovens todos, sem excluir nenhum. Assim rezemos a Maria pela Igreja, para que seja sempre mãe dos seus filhos que se encontram na morte, chorando e pedindo o seu renascimento. Por cada filho seu que morre, morre também a Igreja; e por cada filho que ressuscita, também ela ressuscita”, finaliza.

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