10 anos do Papa

Papa e a Igreja em saída: bispos frisam impulso à missão nas dioceses

Dom Tarcísio Scaramussa e Dom Lauro Sérgio comentam como a expressão “Igreja em saída”, uma das marcas do pontificado do Papa Francisco, gerou uma renovação missionária

Julia Beck
Da redação

Papa Francisco durante visita à prisão de Rebibbia para o rito do lava-pés em Roma, na Itália, em 2 de abril de 2015 /Foto: ABACA via Reuters

“Ide por todo o mundo, anunciai o evangelho e fazei discípulos todos os povos” (Mt 28,19). Esta é a missão que Jesus confiou aos seus discípulos e que o Papa Francisco retoma ao insistir, desde o início de seu pontificado, em uma “Igreja em saída”.

Dom Tarcísio Scaramussa Foto: Arquivo pessoal

“Jesus não disse ‘ficai no lugar em que estão’. Portanto, o mandato missionário de Jesus é o fundamento da ‘Igreja em saída’”, comenta o bispo da diocese de Santos (SP), Dom Tarcísio Scaramussa. 

O bispo da diocese de Colatina (ES), Dom Lauro Sérgio Versiani, reforça que o desejo do Papa não é de uma Igreja que sai sem rumo, mas sim de uma Igreja que sai em missão.

“Francisco não quer uma Igreja que seja um clube para pessoas perfeitas, mais sim uma Igreja aberta ao mundo, às periferias existenciais, várias culturas e contextos sociais”, comenta.

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“Francisco não quer uma Igreja que seja um clube para pessoas perfeitas, mais sim uma Igreja aberta ao mundo, às periferias existenciais, várias culturas e contextos sociais.” (Dom Lauro Sérgio Versiani)

Concílio Vaticano II

O bispo de Santos recorda que São João XXIII, talvez sentindo uma Igreja muito fechada, ao convocar o Concílio Vaticano II afirmou: “Vou abrir a janela da Igreja para que possamos ver o que acontece do lado de fora e para que o mundo possa ver o que acontece na nossa casa”.

Hoje, no espírito do Concílio que renovou a consciência missionária da Igreja, Dom Scaramussa sublinha que o Papa Francisco insiste que é preciso abrir as portas e sair para a missão.

“ ‘Igreja em saída’ é, portanto, uma expressão feliz do Papa Francisco para essa dimensão essencial da Igreja, pois ela existe para a missão. Na Evangelii Gaudium ele alerta: ‘Não nos deixemos roubar o entusiasmo missionário’ (EG 80); ‘não deixemos que nos roubem a alegria da evangelização’ (EG 83); ‘não deixemos que nos roubem a força missionária’(EG 109)!”, reforça.

Igreja descentralizada

Na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, o Papa Francisco também destaca: “ (…) prefiro uma Igreja acidentada, ferida, enlameada por ter saí­do pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa em um emaranhado de obsessões e procedimentos”.

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Sobre este trecho, Dom Versiani frisa que a Igreja deve estar sempre voltada para o Reino de Deus. Segundo o bispo, sair em missão para construir o Reino de Deus significa abandonar a própria segurança e não viver a pastoral da “conservação”. Através do dinamismo, acolher, acompanhar e discernir são indicações do Santo Padre.

Dom Scaramussa destaca que prudência e discernimento se complementam, mas se a prudência levar à imobilidade por medo de errar, ela pode impedir a realização da missão. “Os Evangelhos relatam que Jesus formou seus discípulos na prática, enviando-os em missão, sem receio que pudessem cometer algum erro. Depois conversava com eles e orientava-os sobre como proceder”, recorda.

Segundo o bispo de Santos, o Pontífice deseja uma Igreja que não esteja preocupada em ser o centro, pois no centro deve estar sempre Cristo.

Barreiras a serem transpassadas

A deficitária iniciação à vida cristã, que não consegue formar verdadeiros discípulos missionários, é uma das barreiras enfrentadas pela Igreja, de acordo com Dom Scaramussa. Uma consequência disso, segundo o bispo, é a falta de consciência, nos batizados, sobre sua missão evangelizadora no mundo.

Na Evangelii Gaudium, o bispo relata que entre as principais dificuldades mencionadas pelo Papa Francisco está a crise do compromisso comunitário numa sociedade individualista, o processo de secularização, vivência intimista da fé, o desânimo egoísta, o pessimismo estéril, o comodismo, o mundanismo espiritual e uma vida em guerra e conflito dentro da própria Igreja.

Dom Versiani ressalta que muitas vezes as pessoas não aceitam “o novo”, a dificuldade de ter que lidar com uma outra cultura, uma outra geração. O bispo de Colatina também alertou para o apego ao poder, o apego ao que é seguro, conhecido.

Impulso missionário em Santos (SP)

Na diocese de Santos (SP), Dom Scaramussa conta que a expressão “Igreja em saída” tem realmente uma força mobilizadora e já se tornou familiar na comunicação eclesial. “Tem sido uma referência para a renovação missionária, e tem inspirado pessoas e comunidades”, revela.

A implantação de estruturas como o Conselho Missionário Paroquial (COMIPA), o fortalecimento das missões populares, as visitas missionárias, os padrinhos ou madrinhas de rua, ações voltadas para o protagonismo juvenil e de formação para o uso dos meios de comunicação social na evangelização são algumas das atividades missionárias em Santos.

“A expressão ‘Igreja em saída’ tem realmente uma força mobilizadora e já se tornou familiar na comunicação eclesial. Tem sido uma referência para a renovação missionária, e tem inspirado pessoas e comunidades” – Dom Tarcísio Scaramussa

O projeto mais promissor da diocese, segundo o bispo, é o projeto “Igreja nas Casas”. O objetivo dele é despertar o sentido de comunidade com a experiência de pequenas comunidades eclesiais missionárias, consideradas como ambiente propício para escutar a Palavra de Deus, viver a fraternidade, animar a oração, aprofundar a fé e fortalecer o compromisso do apostolado (DGAE, n. 82).

Seminaristas da Diocese de Santos juntamente com o Cardeal Leonardo Ulrich Steiner durante missão na Amazônia/ Foto: Diocese de Santos

Ações missionárias em Colatina (ES)

Na diocese de Colatina (ES), Dom Versiani destaca que os seminaristas realizaram experiências missionárias em Manaus e na Amazônia (AM) durante as férias. Outro projeto que a diocese participa, este é mais antigo, é o “Igrejas Irmãs”.

O projeto “Igrejas Irmãs” consiste em uma diocese ou arquidiocese ajudar financeiramente outra diocese, além de enviar missionários e missionárias. É um projeto que se faz entre duas igrejas e de cooperação missionária. Dioceses com realidades sociais e culturais distintas se tornam “Igrejas Irmãs”.

A Diocese de Colatina é “igreja irmã” da Diocese de Marabá (PA). Segundo o bispo, foram enviados para Marabá um padre, dois diáconos e dois seminaristas para fazer uma experiência missionária no local. O objetivo, conta Dom Versiani é, no futuro, envolver os leigos neste projeto missionário.

“Os leigos não devem ir à Igreja só para receber os sacramentos ou para celebrações, mas devem se comprometer à luz da Palavra de Deus”, disse. 

Em dezembro de 2022, envio dos seminaristas da Diocese de Colatina para missão na Diocese de Marabá /Foto: Diocese de Colatina

 

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