Realidades do mundo

Papa discursa a embaixadores: apelo de paz em meio a divisões e guerras

No tradicional encontro com o corpo diplomático, Papa se referiu a várias realidades preocupantes no mundo, citando também os últimos acontecimentos no Brasil

Da Redação, com  Vatican News

Encontro do Papa Francisco com diplomatas de diversos países/ Foto: Vatican Media via REUTERS

Nesta segunda-feira, 9, o Papa Francisco recebeu, em audiência, no Vaticano, os embaixadores acreditados junto à Santa Sé, para o tradicional encontro de felicitação de Ano Novo. Esta é uma ocasião em que o Pontífice faz um articulado discurso analisando os temas mais emergentes para a comunidade global. Temas como guerra, vida e liberdade foram tratados pelo Papa.

Antes de iniciar, Francisco agradeceu pelas mensagens de condolências que recebeu por ocasião da morte de Bento XVI, Papa emérito, e pela solidariedade manifestada durante as exéquias.

O Santo Padre informou ainda os presentes sobre a decisão da Santa Sé e da República Popular Chinesa de prorrogar por mais dois anos o Acordo Provisório sobre a nomeação dos bispos. “Espero que esta relação de colaboração se possa desenvolver em prol da vida da Igreja Católica e do bem do povo chinês.”

A imoralidade das armas atômicas

Tendo como base a Encíclica Pacem in terris, de São João XXIII, que neste ano completará sessenta anos de publicação, Francisco partilhou sua preocupação com a ameaça nuclear, que ainda se repete nos dias atuais. O Pontífice reiterou que a posse de armas atômicas é imoral. “Sob a ameaça de armas nucleares, todos somos sempre perdedores!”, completou.

Francisco pontuou ainda que hoje está em curso a terceira guerra mundial de um mundo globalizado. Em especial, destacou a situação da Ucrânia, renovando seu apelo para que cesse imediatamente “esse conflito insensato”.

Também citou a Síria, Israel, Palestina, Líbano, Cáucaso, Iêmen, Mianmar e a Península Coreana. Ao recordar-se da África, o Papa também mencionou as nações da costa ocidental, trazendo para o discurso a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul, dois países que visitará no final do mês, de 31 de janeiro a 5 de fevereiro.

As viagens de 2022 também foram recordadas. No Bahrein e no Cazaquistão, o tema foi o diálogo inter-religoso. No Canadá, a colonização ideológica. Em Malta, o naufrágio da civilização ao lidar com o tema da migração.

Verdade, justiça, solidariedade e liberdade

Em meio ao cenário de tantos conflitos no mundo, o Papa questionou, então, como é possível reatar os fios de paz. Respondendo a partir de São João XXIII, lembrou que a paz é possível à luz de quatro bens fundamentais: a verdade, a justiça, a solidariedade e a liberdade.

Francisco afirmou que esses bens vêm à tona respeitando os direitos humanos e as liberdades fundamentais de cada pessoa. No entanto, ressaltou que não é isso que acontece com as mulheres que, em muitos países, são consideradas cidadãs de segunda classe. Também não é o que acontece com os nascituros, que encontram a morte no ventre materno. “Ninguém pode reivindicar direitos sobre a vida de outro ser humano, especialmente se inerme e desprovido de qualquer possibilidade de defesa”, recordou o Papa.

Continuando o discurso, o Pontífice realçou que o direito à vida é ameaçado também onde se continua a praticar a pena de morte, como acontece no Irã, na sequência das recentes manifestações que pedem maior respeito pela dignidade das mulheres. Até o último momento, disse o Papa, a pessoa pode mudar e se converter. Assim, o Pontífice fez seu enésimo apelo para que a pena de morte seja abolida nas legislações de todos os países da terra.

O Cristianismo incita a paz

A paz exige também educação, antídoto contra a ignorância e o preconceito, e a liberdade religiosa. “Em cada sete cristãos, um é perseguido”, recordou Francisco. “O cristianismo incita a paz, porque estimula à conversão e ao exercício da virtude.”

Retomando o tema de sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2023, o Papa reafirmou que os cristãos juntos podem fazer muito bem. “Basta pensar nas louváveis iniciativas destinadas a reduzir a pobreza, ajudar os migrantes, contrastar as alterações climáticas, favorecer o desarmamento nuclear e prestar ajuda humanitária.”

Ao tocar no assunto do cuidado da “casa comum”, o Pontífice citou a adesão da Santa Sé à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, com a intenção de dar o seu apoio moral aos esforços de todos os Estados para cooperar numa resposta eficaz e adequada aos desafios colocados pela alteração climática. 

Enfraquecimento da democracia

Antes de concluir, Francisco manifestou sua preocupação com o enfraquecimento da democracia, cujo sinal são as crescentes polarizações políticas e sociais, que não ajudam a resolver os problemas urgentes dos cidadãos.

“Penso nas várias crises políticas em diversos países do continente americano, com a sua carga de tensões e formas de violência que exacerbam os conflitos sociais.” 

Na ocasião, o Santo Padre citou três países: Peru, Haiti e, nas últimas horas, o Brasil. “Sempre é preciso superar as lógicas parciais e trabalhar pela construção do bem comum.”

O Papa também disse que segue com atenção a situação no Líbano, que ainda está à espera da eleição do novo presidente da República. “Desejo que todos os atores políticos se empenhem para permitir ao país recuperar-se da dramática situação econômica e social em que se encontra”.

“Senhoras e Senhores, seria maravilhoso que, ao menos uma vez, pudéssemos encontrar-nos apenas para agradecer ao Senhor Todo-Poderoso pelos benefícios que sempre nos concede, sem nos vermos constrangidos a enumerar as situações dramáticas que afligem a humanidade”, disse o Papa, renovando seus votos para o ano novo a todos os embaixadores e países que representam. 

A Santa Sé mantém relações diplomáticas com 183 países. A estes, acrescentam-se a União Europeia e a Soberana Militar Ordem de Malta.

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