Na íntegra

Homilia do Papa na abertura da Assembleia Geral da Caritas

brasão do Papa Francisco
HOMILIA

Abertura da 20ª Assembleia Geral da Caritas
Basílica de São Pedro
Terça-feira, 12 de maio de 2014

Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal

A Leitura dos Atos dos Apóstolos que ouvimos (16, 22-34) apresenta um personagem um pouco especial. É o carcereiro do cárcere dos filipenses, onde Paulo e Silas foram detidos na sequência de um tumulto da multidão contra eles. Os magistrados primeiro batem neles depois os mandam para a prisão, ordenando que os guardasse bem. Eis porque aquele homem, na noite, sentindo o terremoto e vendo as portas do cárcere abertas, se desespera e pensa em se matar. Mas Paulo o tranquiliza e ele, tremendo e cheio de estupor, suplica de joelhos a salvação.

A narração nos diz que aquele homem realizou subitamente os passos essenciais do caminho de fé e de salvação: escuta a palavra do Senhor, junto aos seus familiares; lava as chagas de Paulo e Silas; recebe o Batismo com todos os seus; e enfim acolhe Paulo e Silas na sua casa, prepara a mesa e oferece a eles o que comer, cheio de alegria. Todo o percurso da fé.

O Evangelho, anunciado e acreditado, leva a lavar os pés e as chagas dos sofredores e a preparar a mesa para eles. Simplicidade dos gestos, onde a acolhida à Palavra e ao sacramento do Batismo se acompanha à acolhida ao irmão, quase como se se tratasse de um único gesto: acolher Deus e acolher o outro; acolher o outro com a graça de Deus; acolher Deus e manifestá-Lo no serviço ao irmão. Palavra, Sacramentos e serviço referem-se uns aos outros e se alimentam de modo próximo, como se vê já nestes testemunhos da Igrejas das origens.

Podemos ver neste gesto todo o chamado da Caritas. Caritas é agora uma grande confederação, reconhecida amplamente também no mundo pelas suas realizações. Caritas é uma realidade da Igreja em muitas partes do muito e deve encontrar ainda mais difusão também nas diversas paróquias e comunidades, para renovar o que aconteceu nos primeiros tempos da Igreja. De fato, a raiz de todo o vosso serviço está justamente na acolhida, simples e obediente, a Deus e ao próximo. Esta é a raiz, se se tira esta raiz, Caritas morre. E esta acolhida se realiza em vocês pessoalmente, porque depois vão ao mundo, e ali servem em nome de Cristo que vocês encontraram e que encontram em cada irmão e irmã a quem vocês se fazem próximos; e justamente por isso se evita reduzir-se a uma simples organização humanitária. E Caritas de cada Igreja particular, mesmo a menor, é a mesma: não há Caritas grandes e Caritas pequenas, todas são iguais. Peçamos ao Senhor a graça de entender a verdadeira dimensão da Caritas, a graça de não cair no engano de acreditar que um centralismo bem organizado seja o caminho, a graça de entender que Caritas está sempre nas periferias em cada Igreja particular e a graça de acreditar que o centro da Caritas é somente ajuda, serviço e experiência de comunhão, mas não é a cabeça de todos

Quem vive a missão da Caritas não é um simples operador, mas precisamente uma testemunha de Cristo. Uma pessoa que procura Cristo e se deixa procurar por Cristo; uma pessoa que ama com o espírito de Cristo, o espírito da gratuidade, o espírito da doação. Todas as nossas estratégias e planejamentos ficam vazios se não levamos em nós esse amor. Não o nosso amor, mas o seu. Ou melhor ainda, o nosso purificado e reforçado pelo seu.

E assim se pode servir todos e preparar a mesa para todos. Também esta é uma bela imagem que a Palavra de Deus nos oferece hoje: preparar a mesa. Deus nos prepara a mesa da Eucaristia, mesmo agora. Caritas prepara tantas vezes mesas para quem tem fome. Nestes meses, vocês desenvolveram a grande campanha “Uma família humana, alimento para todos”. Tanta gente espera também hoje comer o suficiente. O planeta tem alimento para todos, mas parece que falta a vontade de partilhar com todos. Preparar a mesa para todos e pedir que haja uma mesa para todos. Fazer aquilo que podemos para que todos tenham o que comer, mas também recordar aos poderosos da terra que Deus os chamará a julgamento um dia e se manifestará se realmente procuraram prover o alimento para Ele em cada pessoa (cfr Mt 25, 35) e se trabalharam para que o ambiente não seja destruído, mas possa produzir esse alimento.

E pensando na mesa da Eucaristia, não podemos esquecer aqueles nossos irmãos cristãos que foram privados com violência seja do alimento para o corpo seja daquele para a alma: foram expulsos de suas casas e de suas igrejas, às vezes destruídas. Renovo o apelo a não esquecer estas pessoas e estas intoleráveis injustiças.

Junto a tantos outros organismos de caridade da Igreja, Caritas revela a força do amor cristão e o desejo da Igreja de ir ao encontro de Jesus em cada pessoa, sobretudo quando é pobre e sofre. Este é o caminho que temos diante de nós e com este horizonte desejo que vocês possam desenvolver os trabalhos destes dias. Confio-lhes à Virgem Maria, que fez da acolhida a Deus e ao próximo o critério fundamental da sua vida. Justamente amanhã celebraremos Nossa Senhora de Fátima, que apareceu para anunciar a vitória sobre o mal. Com um apoio assim tão grande não temos medo de continuar a nossa missão. Assim seja.

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