Homilia

Deus nos defenda do mundanismo que corrompe a Igreja, pede Papa

Papa afirmou que: somente a fé em Cristo morto e ressuscitado vence o mundanismo espiritual

Da redação, com Vatican News

Papa Francisco, na missa deste sábado, 16, na Casa Santa Marta./ Foto: Reprodução Vatican Media

O Papa Francisco presidiu a Missa na Casa Santa Marta na manhã deste sábado, 16, da quinta semana da Páscoa. Na introdução dirigiu o pensamento aos que realizam o serviço de sepultura dos mortos:

“Rezemos, hoje, pelas pessoas que têm a tarefa de sepultar os mortos nesta pandemia. É uma das obras de misericórdia sepultar os mortos, e não é uma coisa agradável, naturalmente. Rezemos por essas pessoas que também arriscam a vida e ser contagiadas.”

Na homilia, o Papa comentou o Evangelho do dia (Jo 15,18-21) em que Jesus diz a seus discípulos: “Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo gostaria daquilo que lhe pertence. Mas, porque não sois do mundo, porque eu vos escolhi e apartei do mundo, o mundo por isso vos odeia”.

Jesus – disse Francisco – muitas vezes, fala do mundo, fala do ódio contra Ele e seus discípulos e reza ao Pai para que não tire os discípulos do mundo, mas os defenda do espírito do mundo.

O Papa se perguntou: “Qual é o espírito do mundo? O que é esse mundanismo, capaz de odiar, de destruir Jesus e seus discípulos, aliás, de corrompê-los e de corromper a Igreja?”. “O mundanismo é uma proposta de vida”, “é uma cultura, é uma cultura do efêmero, uma cultura do aparecer, da maquiagem, uma cultura ‘do hoje sim, amanhã não, amanhã sim e hoje não’. Há valores superficiais. Uma cultura que não sabe o que é fidelidade, porque muda segundo as circunstâncias, negocia tudo. Essa é a cultura mundana, a cultura dos mundanismos”. E Jesus reza “para que o Pai nos defenda dessa cultura do mundanismo. É uma cultura do descartável”, segundo a conveniência. “É uma cultura sem fidelidade” e é “um modo de viver também de muitos que se dizem cristãos. São cristãos, mas são mundanos”.

“Jesus, na Parábola da semente que cai na terra, diz que as preocupações do mundo”, isto é, o mundanismo, sufocam a Palavra de Deus, não a deixam crescer. Francisco citou um livro do padre Henri de Lubac no qual fala do mundanismo espiritual, dizendo “que é o pior dos males que pode acontecer à Igreja; e não exagera” descrevendo “alguns males que são terríveis”. O mundanismo espiritual “é uma hermenêutica de vida, é um modo de viver; também um modo de viver o cristianismo. E para sobreviver diante da pregação do Evangelho, odeia, mata”.

O Papa falou dos mártires, assassinados por ódio à fé, mas não são a maioria. A maioria é assassinada pelo mundanismo que odeia a fé.

O mundanismo – observou Francisco – não é superficial, tem “raízes profundas” e é “camaleônico, muda”, segundo as circunstâncias, mas a substância é a mesma: uma proposta de vida que entra em todos os lugares, inclusive na Igreja. O mundanismo, a hermenêutica mundana, a maquiagem, tudo se maquia para ser assim”.

Francisco recordou o discurso de Paulo no Areópago de Atenas, que chama a atenção quando fala do “deus desconhecido” e começa a pregar o Evangelho: “Mas quando chegou à cruz e à ressurreição se escandalizaram e foram embora. Tem uma coisa que o mundanismo não tolera: o escândalo da Cruz. Não tolera. E o único remédio contra o espírito do mundanismo é Cristo morto e ressuscitado por nós, escândalo e loucura”.

O Apóstolo João diz que “a vitória contra o mundo é a nossa fé”, a única vitória é “a fé em Jesus Cristo, morto e ressuscitado. E isso não significa ser fanáticos”, deixar de dialogar com todas as pessoas, mas saber que a vitória contra o espírito mundano é a nossa fé, o escândalo da Cruz.

“Peçamos ao Espírito Santo” – foi a oração conclusiva do Papa Francisco – nestes últimos dias do tempo pascal, “a graça de discernir o que é mundanismo e o que é Evangelho e que não nos deixemos enganar, porque o mundo nos odeia, o mundo odiou Jesus e Jesus rezou para que o Pai nos defendesse do espírito do mundo”.

Segue a íntegra da homilia:

Jesus fala, várias vezes e, sobretudo, ao se despedir dos Apóstolos, sobre o mundo (cf. Jo 15,18-21): Ele diz: “Se o mundo os odeia, saibam que, antes de vocês, odiavam a mim” (v. 18). Ele se refere, claramente, ao ódio que o mundo teve contra Jesus e terá contra nós. Na oração que ele fez à mesa com os discípulos, na última Ceia, pediu ao Pai que não os tirasse do mundo, mas os defendesse do espírito mundano (cf. Jo 17,15).

Acho que podemos nos perguntar: qual é este espírito do mundo? Que tipo de mundanismo é este, capaz de odiar, de destruir Jesus e seus discípulos, ou melhor, de corrompê-los e corromper a Igreja? Qual é este espírito do mundo? O que significa? Seria bom pensar nisso. Trata-se de uma proposta de vida: o mundanismo. Mas, alguém poderia pensar que mundanismo significa fazer festa, viver em festas… Não, não. O mundanismo poderia ser isso também, mas não é isso fundamentalmente.

O mundanismo é uma cultura; é uma cultura efêmera; uma cultura de querer se aparecer, de maquiagem; uma cultura “de hoje sim, de amanhã não; de amanhã sim, de hoje não”. São valores superficiais. Uma cultura que não conhece a fidelidade, porque muda segundo as circunstâncias, negocia tudo. Eis a cultura mundana, a cultura do mundanismo. Jesus insiste para que sejamos preservados disso e reza para que o Pai nos defenda desta cultura do mundanismo. Esta é uma cultura do descarte, segundo o que nos convém. Esta cultura não tem fidelidade, não tem raízes. Trata-se de um modo de viver, até para muitos que se dizem cristãos: são cristãos, mas mundanos.

Com a parábola da semente que cai na terra, Jesus fala das preocupações do mundo, – isto é, do mundanismo – que sufocam a Palavra de Deus e não a deixam crescer (cf. Lc 8,7). São Paulo diz aos Gálatas: “Vocês eram escravos do mundo, do mundanismo” (cf. Gálatas 4,3). Eu sempre fico impressionado quando leio as últimas páginas do livro do Padre Henri de Lubac: “Meditações sobre a Igreja” (cf. Lubac, Meditações sobre a Igreja, Milão, 1955). Nas suas três últimas páginas, ele trata de um mundanismo espiritual, dizendo que “é o pior dos males que pode existir na Igreja”. Ele não exagera, porque, depois, elenca alguns males terríveis. O pior deles é o mundanismo espiritual, porque é uma hermenêutica de vida, um modo de viver; um modo de viver também o cristianismo. E, para sobreviver diante da pregação do Evangelho, ele odeia e mata.

Fala-se dos mártires assassinados por ódio à fé … Sim, para alguns, o ódio era realmente um problema teológico, mas não eram para a maioria. A maioria era [perseguida] pelo mundanismo, que odeia a fé e a mata, como fez com Jesus.

O mundanismo é um fato curioso… Alguém poderia me dizer: “Padre, esta é uma superficialidade da vida, não nos engane hem!”. O mundanismo não é nada de superficial, hem! Ele tem raízes profundas… raízes profundas! É como um camaleão que muda, vai e vem, segundo as circunstâncias, mas a substância é a mesma: é uma proposta de vida que penetra por tudo, até na Igreja. O mundanismo, a hermenêutica mundana, a maquiagem trocam tudo para ser assim.

Quando o apóstolo Paulo foi a Atenas, ficou impressionado ao ver no Areópago tantas estátuas de deuses. Por este motivo, quis falar sobre isso: “Vocês são um povo religioso, percebi isso… mas o que mais me chamou a atenção foi aquele altar dedicado ao “deus desconhecido”. É sobre ele que eu venho lhes falar quem é”. Assim, começou a pregar o Evangelho. Porém, quando começou a falar da cruz e da ressurreição, ficaram escandalizados e foram embora (cf. At 17,22-33). Há uma coisa que o mundanismo não tolera: é o escândalo da Cruz. Ele não o tolera. E o melhor remédio contra o espírito mundano é Cristo, que morreu e ressuscitou por nós, escândalo e loucura (cf. 1 Cor 1,23).

Por isso, quando o apóstolo João trata do tema sobre o mundo, diz: “é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé” (1 João 5,4); é a única coisa: a fé em Jesus Cristo, morto e ressuscitado. Isto, porém, não significa ser fanático; não significa deixar de dialogar com todas as pessoas, não: pelo contrário, é a convicção da fé, o escândalo da Cruz, a loucura de Cristo, mas também da sua vitória. “Esta é a nossa vitória”, diz João, a nossa fé”!

Peçamos ao Espírito Santo, nestes últimos dias do tempo pascal, mas também na novena ao Espírito Santo, a graça de discernir o que é mundanismo e o que é Evangelho, sem nos deixar enganar, porque o mundo nos odeia, o mundo odiou Jesus; mas Jesus rezou ao Pai para nos defender do espírito do mundo (cf. Jo 17,15).

O Papa convidou a fazer a Comunhão espiritual com a seguinte oração:

Meu Jesus, eu creio que estais realmente presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!

Francisco terminou a celebração com adoração e a bênção eucarística. Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo, foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal:

Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia!

Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!

Ressuscitou como disse. Aleluia!

Rogai por nós a Deus. Aleluia!

D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!

C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!

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