Audiência no Vaticano

Amazônia, abusos, diaconato feminino: o encontro do Papa com as superioras

“Ninguém pode roubar nossa paixão pela evangelização. Não há Páscoa sem missão”, são palavras do Papa no seu discurso preparado às Superioras Gerais

Da redação, com VaticanNews

Francisco recebeu mais de 800 religiosas que concluem, hoje, 10, em Roma a Assembleia da União Internacional das Superioras Gerais / Foto: VaticanMedia

Um encontro repleto de alegria e exortações: assim foi a audiência que o Papa Francisco concedeu às mais de 800 religiosas que concluem essa sexta-feira, 10, em Roma, a Assembleia da União Internacional das Superioras Gerais (UISG).

Francisco entregou o discurso oficial e preferiu manter um diálogo com as superioras, falando de vários temas: abusos, serviço, diaconato feminino e a teologia da mulher.

Sobre os abusos, o Pontífice comentou o encontro de fevereiro e as expectativas depositadas. “Se tivéssemos enforcado publicamente 100 padres na Praça São Pedro, estariam todos felizes, mas não teríamos resolvido o problema. Trata-se de um processo”.

Quanto ao serviço, Francisco afirmou que isso é aceitável, mas a servidão não é tolerada. “Serviço sim, servidão não. Ninguém é ordenado para se tornar doméstica de um padre.”

O diaconato feminino foi outro tema. O Papa recordou que instituiu uma comissão a pedido das próprias superioras, o trabalho avançou, mas com poucos resultados. “Não posso fazer um decreto sacramental sem um fundamento histórico e teológico. O resultado não é dos melhores, mas foi feito um passo avante”.

Sobre o trabalho das mulheres na Igreja, o Pontífice afirmou que erra quem pensa que se trata somente de um trabalho funcional. “A Igreja é feminina, é mulher. Não é uma imagem, é a realidade, é a esposa de Jesus, devemos ir avante com a teologia da mulher”.

Amazônia

O Papa abriu espaço, então, para que as superioras fizessem perguntas. Uma delas foi a a da brasileira Ir. Marlise Hendges, das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, que falou a Francisco do período crítico que muitos países latino-americanos estão vivendo e o engajamento das religiosas, principalmente contra o tráfico de seres humanos na Rede “Um Grito pela Vida”. A superiora comentou, também, a expectativa para a realização do Sínodo para a Amazônia.

Ao tomar a palavra, Francisco brincou: “Eu gostaria de perguntar quem foi melhor, Pelé ou Maradona? Depois, retomou o tom sério para ressaltar a importância da mulher na Amazônia, devido à sensibilidade que tem com os povos indígenas. Para o Papa, a mulher compreende melhor o problema tribal, justamente porque se trata de uma questão vital e saberá encontrar caminhos para uma nova inculturação.

Discurso do Papa

No seu discurso preparado, o Papa desejou a todos uma santa Páscoa plena de paz, alegria e paixão, ao levar o Evangelho a todos os cantos da terra. Ninguém pode roubar nossa paixão pela evangelização. Não há Páscoa sem missão: “Ide e pregai o Evangelho a todos os homens”.

E, dirigindo-se de modo particular às Superioras, Francisco as exortou a ir e anunciar Cristo ressuscitado como fonte de alegria, que ninguém e nada podem nos tirar; a renovar seu encontro com Jesus e ser suas testemunhas; a levar aos homens e mulheres, amados pelo Senhor, sobretudo aos que são vítimas da cultura da exclusão, a doce e confortadora alegria do Evangelho.

Diante da diminuição do número de vocações à vida consagrada, sobretudo a feminina, disse Francisco, a tentação é de desanimar e se resignar. Neste contexto, difícil para a Vida Religiosa, encorajou-as a não ter medo de serem poucas, mas medo de não serem sal, que dá sabor à vida dos homens e mulheres da nossa sociedade.

Mas recordou-lhes: “Há muita gente que precisa e espera por vocês; precisa do seu sorriso amigo, que dá confiança; das suas mãos, que os sustentam em sua caminhada; da sua palavra, que semeia esperança em seus corações; do seu amor, como o de Jesus, que cura as profundas feridas causadas pela solidão, rejeição e exclusão”.

Papa preparou um discurso em espanhol, mas não o leu e o entregou para ser distribuído aos presentes, preferindo falar espontaneamente / Foto: VaticanMedia

Abrir novos caminhos

Depois, Francisco exortou as Religiosas a jamais cederem à tentação da autossuficiência, mas a desenvolver sua fantasia na promoção da caridade e da fidelidade aos seus carismas; a abrirem novos caminhos para levar o Evangelho às diferentes culturas, aos que vivem e trabalham nas várias esferas da sociedade e a prestarem seu serviço de modo discreto e humilde, sempre animadas pela oração pessoal e comunitária, e pela Palavra do Senhor.

O Santo Padre afirmou ainda que “entre os valores essenciais da vida religiosa se destacam a vida fraterna comunitária, a comunicação, a correção fraterna, vida sinodal, acolhida e respeito na diversidade”.

Vida fraterna em comunidade

Aqui, o Santo Padre expressou sua preocupação com a vida fraterna em comunidade, onde as diversas raças e costumes são vistos como ameaça e conflito de gerações, ao invés de um enriquecimento.

Por fim, o Papa expressou seu reconhecimento pelo precioso serviço que as Religiosas prestam em âmbito eclesial, mas, sobretudo, nas periferias do mundo: “A periferia da educação, onde educar é sempre um ganho para Deus; a periferia da saúde, na qual são servas e mensageiras de uma vida digna; a periferia do trabalho pastoral, onde vocês testemunham o Evangelho com suas vidas e manifestam o rosto materno da Igreja”.

Francisco concluiu seu discurso encorajando as Religiosas a cultivar a paixão por Cristo e pela humanidade, sem a qual a vida religiosa e consagrada não tem sentido; a zelar pela boa formação e o discernimento da sua vocação; e a viver, com alegria, a sua consagração.

 

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