Discurso de Bento XVI à Comunidade Muçulmana na Alemanha

Discurso de Bento XVI à Comunidade Muçulmana
Viagem Apostólica à Alemanha (22-25 de setembro de 2011)
Nunciatura Apostólica, Berlim-Alemanha
23 de setembro de 2011

Queridos amigos muçulmanos,

tenho o prazer de transmitir aqui, hoje, uma saudação a Vós, Representantes de diversas comunidades muçulmanas presentes na Alemanha. Agradeço de coração ao professor Mouhanad Khorchide pelas corteses palavras de saudação. Essas mostram-me como cresceu uma atmosfera de respeito e de confiança entre a Igreja Católica e as comunidades muçulmanas na Alemanha.

Berlim é um lugar oportuno para um tal encontro, não somente porque aqui se encontra a mesquita mais antiga do solo alemão, mas também porque, em Berlim, vive o maior número de muçulmanos com relação a todas as outras cidades da Alemanha.

A partir dos anos 70, a presença de numerosas famílias muçulmanas tornou-se sempre mais um traço distintivo deste País. Será, todavia, necessário comprometer-se constantemente para um melhor recíproco conhecimento e compreensão. Isso é essencial não somente para uma convivência pacífica, mas também para a contribuição que cada um é capaz de dar para a construção do bem comum no interior da mesma sociedade.

Muitos muçulmanos atribuem grande importância à dimensão religiosa. Isso, muitas vezes, é interpretado como uma provocação em uma sociedade que tende a marginalizar esse aspecto ou a admiti-lo somente na esfera das escolhas individuais de cada um.

A Igreja Católica compromete-se firmemente para que seja dado o justo reconhecimento à dimensão pública do pertencimento religioso. Trata-se de uma exigência que não se torna irrelevante no contexto de uma sociedade grandemente pluralista. É preciso, contudo, atentar para que o respeito pelo outro seja sempre mantido. O respeito recíproco cresce somente sobre a base de entendimento sobre alguns valores inalienáveis, próprios da natureza humana, sobretudo a inviolável dignidade de cada pessoa. Tal entendimento não limita a expressão das religiões em particular; ao contrário, permite a cada um testemunhar de modo propositivo aquilo em que crê, não se subtraindo do contato com o outro.

Na Alemanha – como em muitos outros países, não somente os ocidentais –, tal quadro de referência comum é representado pela Constituição, cujo conteúdo jurídico é vinculante para todo o cidadão, seja pertencente ou não a uma confissão religiosa.

Naturalmente, o debate sobre a melhor formulação de princípios como a liberdade do culto público é vasto e sempre aberto. Todavia, é significativo o fato de que a Lei Fundamental lhe expresse de um modo ainda válido, à distância de mais de 60 anos (cf. art. 4, 2). Nessa, encontramos expresso, antes de tudo, aquele ethos comum que está na base da convivência civil que, de algum modo, assinala também as regras aparentemente apenas formais de funcionamento dos organismos institucionais e da vida democrática.

Poderíamos perguntar-nos como pode tal texto, elaborado em uma época histórica radicalmente diferente, em uma situação cultural quase uniformemente cristã, ser adaptado à Alemanha de hoje, que vive no contexto de um mundo globalizado e é assinalada por um notável pluralismo em matéria de convicções religiosas.

A razão disso, parece-me, encontra-se no fato de que os pais da Lei Fundamental tinham a plena consciência, naquele momento importante, de dever procurar um sólido terreno, no qual todos os cidadãos pudessem se reconhecer. Ao fazer isso, não prescindiam do próprio pertencimento religioso; para muitos deles, antes, a visão cristã do homem era a verdadeira força inspiradora. Todavia, sabiam dever se confrontar com homens com uma base confessional diversa ou até mesmo não religiosa: o terreno comum foi encontrado no reconhecimento de alguns direitos inalienáveis, que são próprios da natureza humana e que precedem cada formulação positiva.

Deste modo, uma sociedade substancialmente homogênea apresenta o fundamento que hoje reconhecemos válido para um mundo assinalado pelo pluralismo. Fundamento que, na realidade, indica também os evidentes limites para tal pluralismo: não é pensável, de fato, que uma sociedade possa sustentar-se a longo prazo sem um consenso sobre valores éticos fundamentais.

Queridos amigos, com base em tudo quanto acenei, penso que seja possível uma colaboração fecunda entre cristãos e muçulmanos. E, desse modo, contribuamos para a construção de uma sociedade que, sob muitos aspectos, será diferente daquele que trazemos conosco do passado. Enquanto homens religiosos, a partir das respectivas convicções, possamos dar um testemunho importantes em muitos setores cruciais da vida social. Penso, por exemplo, na proteção da família fundada sobre o matrimônio, no respeito à vida em todas as fases do seu natural decurso ou na promoção de uma mais ampla justiça social.

Também por isso considero importante celebrar uma Jornada de reflexão, diálogo e oração pela paz e justiça do mundo; e desejamos fazer isso no próximo 27 de outubro, a 25 anos do histórico encontro de Assis, guiado pelo meu Predecessor, o Beato João Paulo II. Com tal encontro, desejamos mostrar, com simplicidade, que, enquanto homens religiosos, nós oferecemos a nossa particular contribuição para a construção de um mundo melhor, reconhecendo, ao mesmo tempo, a necessidade, para a eficácia da nossa ação, de crescer no diálogo e estima recíproca.

Com esses sentimos, renovo a minha cordial saudação e vos agradeço por esse encontro, que enriquece a minha estadia na minha pátria. Obrigado pela vossa atenção!

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