Anotações informais

O testamento deixado por João Paulo II

Documento foi escrito em trechos ao longo de 22 anos e está disponível no site oficial do Vaticano

Liliane Borges
Da Redação

O testamento deixado por João Paulo II

Anotações informais começaram em março de 1979 / Foto: Arquivo

Escrito em trechos, durante 22 anos, com anotações informais, o Testamento de João Paulo II revela a simplicidade e coerência do polonês que marcou a história não só da Igreja, mas do mundo. Poucas linhas para um Papa com quase 27 anos de pontificado e uma história de vida surpreendente.

O Testamento começou a ser escrito em 6 de março de 1979, durante o tradicional retiro da Quaresma. “Durante os exercícios espirituais, voltei a ler o testamento do Santo Padre Paulo VI. Esta leitura estimulou-me a escrever este testamento”, revela João Paulo II.As últimas anotações são de 17 de março de 2000, em pleno ano jubilar.

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A frase característica do Pontífice, que revela sua devoção Mariana, “Totus Tuus” (Todo teu) é escrita 6 vezes no Documento, sempre pedindo à Virgem Maria o auxílio para realizar a vontade de Deus.

A devoção à Nossa Senhora, que permeou o seu pontificado, aparece principalmente no trecho, escrito em 1982, em que fala do atentado sofrido na Praça São Pedro em maio de 1981. “Quanto mais profundamente sinto que estou totalmente nas Mãos de Deus e permaneço continuamente à disposição do meu Senhor, confiando-me a Ele na Sua Imaculada Mãe”.

O atentando é comentado uma segundo vez, agora no ano 2000. João Paulo II parece ter comprrendido melhor o desígnio de Deus. “Ele mesmo me prolongou esta vida, de certo modo concedeu-ma de novo. A partir desse momento ela pertence-lhe ainda mais. Espero que Ele me ajudará a reconhecer até quando devo continuar este serviço, para o qual me chamou no dia 16 de Outubro de 1978”.

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Karol Wojtyla fala da perseguição à Igreja e dos tempos difíceis pelos quais estava passando. Com data de 1980 o Papa escreve: “Nalguns Países (como por exemplo naquele sobre o qual li durante os exercícios espirituais), a Igreja encontra-se num período de tal perseguição, que não é inferior à dos primeiros séculos, até os supera pelo grau de crueldade e de ódio. Sanguis martyrum semen christianorum. E além disso tantas pessoas desaparecem inocentemente, também neste País em que vivemos…”

A publicação da obra

O texto é claramente montado em “fragmentos”, nem sempre os pensamentos seguem ordem do assunto tratado no anterior. A impressão é que o Beato não esperava que a obra fosse publicada, mas apenas lido por seu secretário particular, atualmente arcebispo de Cracóvia, Cardeal Stanislaw Dziwisz.

O então secretário é citado nos primeiros escritos, em 1979. “Não deixo propriedade alguma da qual seja necessário dispor. Quanto aos objectos de uso quotidiano que me serviam, peço que sejam distribuídos como for oportuno. Os apontamentos pessoais sejam queimados. Peço que disto se ocupe o Pe. Stanislaw, ao qual agradeço a colaboração, a ajuda tão prolongada nos anos e a compreensão(…).

Parte dos pedidos de João Paulo II foi atendido por Stanislaw, porém o religioso polonês não queimou os apontamentos pessoais como lhe foi pedido. Sobre isso, ele mesmo contou o motivo no dia 22 janeiro deste ano , durante a apresentação do livro “Estou nas mãos de Deus. Anotações pessoais 1962 – 2003”, que reúne os escritos espirituais de Karol Wojtyla.

“(…) não fui o suficientemente corajoso para queimar estas folhas de papel e cadernos com as suas notas pessoais, que tinha deixado, porque têm informação importante sobre a sua vida. As vi na mesa do Santo Padre, mas nunca as tinha lido. Quando vi o testamento, fui tocado pelo fato de que João Paulo II, – a quem tinha acompanhado durante quase 40 anos – me confiara também seus assuntos pessoais”, revela o Cardeal.

Por duas vezes, o Beato diz como quer ser enterrado, porém, submete-se ao Colégio Cardinalício e aos “Concidadãos”, que ele mesmo explica, serem o metropolita de Cracóvia ou o Conselho Geral do Episcopado da Polônia. João Paulo II pede que seu “sepulcro seja na terra, não num sarcófago”.

O desejo foi atendido pelo colégio Cardinalício, sendo o local da sepultura a Cripta Vaticana, em um simples túmulo. Atualmente, os restos mortais do Papa encontram-se na Basílica Vaticana em lugar de destaque, devido ao grande número de visitas de peregrinos.

Igreja no Terceiro Milênio

Por fim, Wojtyla fala sobre a missão de introduzir a Igreja no Terceiro Milênio,e narra que as celebrações ficaram impressas em sua memória. No ano 2000, ainda durante as festividades, ele se questiona sobre quanto tempo ainda viverá.

“À medida que o Ano Jubilar avança, de dia para dia se fecha atrás de nós o século XX e se abre o século XXI. Segundo os desígnios da Providencia foi-me concedido viver no difícil século que começa a fazer parte do passado, e agora no ano em que a minha vida chega aos anos oitenta (“octogesima adveniens”), é preciso perguntar-se se não tenha chegado o tempo de repetir com o bíblico Simeão Nunc dimittis” (Agora tu, Senhor, despedes em paz o teu servo)

O testamento, com data de 17 de março de 2000, termina com diversos agradecimentos, entre eles, aos familiares, à Paróquia de Wadowice, onde foi batizado e às pessoas que, segundo o Papa, lhe foram confiadas pelo Senhor. “A todos desejo dizer uma só coisa: Deus vos recompense”

 

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