Recomeço de vida

Um mês após tragédia de Brumadinho, desejo é de mudança

Brumadinho trabalha na assistência às vítimas e reestruração econômica da cidade, que ainda sofre as consequências do rompimento da barragem da Vale

Kelen Galvan
Da redação, com colaboração de Pedro Teixeira

Depósito de equipamentos da mineradora Vale foi um dos pontos atingidos pela lama de rejeitos / Foto: Ederaldo Paulini – Canção Nova

“Minas Gerais não pode ser a mesma”. Essa é a inspiração do arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, um mês depois da tragédia que assolou Brumadinho (MG).

Há exato um mês a cidade foi surpreendida com o rompimento da barragem da Vale na Mina Córrego do Feijão, que despejou cerca de 11,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério, matando 179 pessoas, até o momento. Ainda há 131 desaparecidos.

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Para recordar a data, a arquidiocese promoveu neste fim de semana uma Vigília de Solidariedade, com orações pelas vítimas, e nesta segunda-feira, 25, o Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giovanni D’Aniello, celebrará uma Missa em memória das vítimas, na Igreja Matriz de São Sebastião, em Brumadinho.

“A Arquidiocese de Belo Horizonte também vai criar um memorial dedicado a todas as pessoas que perderam a vida nessa tragédia-crime. O que aconteceu não pode cair no esquecimento. A fé tem força transformadora capaz de iluminar o exercício da cidadania. Permite construir um tempo novo – para as pessoas que sofrem, para o Estado de Minas Gerais”, destaca Dom Walmor.

O telejornal Canção Nova Notícias exibe, a partir de hoje, às  18h45, uma série especial do primeiro mês da tragédia. Trazendo um histórico do ocorrido, também irá mostrar o depoimento de sobreviventes, bombeiros e a presença da Igreja junto ao seu povo.  As reportagens poderão ser revistas no site.

Impacto ambiental

A tragédia é considerada o maior acidente de trabalho da história do país. Além disso, causou um enorme impacto ambiental, contaminando a água e o solo da região e matando milhares de animais.

Segundo o secretário do meio ambiente de Brumadinho, Daniel Hilário Lima Freitas, os principais danos ambientais foram com relação a uma grande área de vegetação de mata atlântica, alguns córregos que existiam abaixo da barragem e o rio Paraopeba.

O rio Paraopeba, que abastecia várias cidades da região, chegou a ser declarado morto por especialistas, mas segundo o secretário as análises mostram melhorias. “A princípio, mais perto do local da tragédia o Rio foi considerado como morto, mas hoje as análises já não mostram mais isso, e já está tendo um número de oxigenação”, explica.

Após análise, neste domingo, 24, o Governo de Minas Gerais proibiu o uso da água do rio Paraopeba, para qualquer finalidade e por tempo indeterminado.

Daniel Hilário destaca que a mineradora Vale apresentou na semana passada, à secretaria, uma proposta para a recuperação do Rio, com a retirada da lama, e de fazer um trabalho nas cidades afetadas, abaixo de Brumadinho.

Veja na entrevista abaixo opinião de biólogo sobre situação ambiental em Brumadinho:

Assistência às famílias

O prefeito de Brumadinho, Antônio Brandão, afirma que a preocupação tem sido com as famílias da vítimas – dando assistência com uma equipe de psicólogos, psiquiatras e assistente social que visitam os moradores -, e também com os que estão desaparecidos. “Estamos lutando para o Corpo de Bombeiros resgatar o maior número de corpos possível”.

Brumadinho faz parte da região metropolitana de Belo Horizonte, e a arquidiocese se mobilizou desde o primeiro dia da tragédia para dar assistência às famílias. E, segundo Dom Walmor, a Igreja sempre estará ao lado destas pessoas que sofrem com a tragédia ocorrida ali.

Além do amparo espiritual e material que continua ainda hoje, a Arquidiocese criou, em parceria com Defensoria Pública da União, o Espaço “Juntos por Brumadinho” para os que necessitam de atendimento jurídico, apoio psicológico e material.

Contudo, Dom Walmor destaca que a arquidiocese tem buscado o diálogo com o poder público e mobilizado a sociedade civil. “Minas Gerais não pode ser a mesma. São necessárias melhorias na legislação ambiental, para que não ocorram mais tragédias”, defende o arcebispo.

Reconstrução

Para o prefeito, um desafio atual tem sido a questão econômica. Ele explica que 80% da economia do município vinha praticamente da Vale, e através dela giravam os impostos e os empregos, porque as outras mineradoras vendem para a Vale. Segundo ele, por precaução, a Justiça mandou fechar outras três mineradoras, gerando um grande índice de desemprego.

Brandão destaca a necessidade de diversificar a economia local de Brumadinho, atualmente dependente da mineração / Foto: Reprodução TVCN

“Estamos com a cidade toda praticamente desempregada, devemos ter subido para 60% de desemprego na cidade. (…) Pelas contas que eu fiz, arrecadávamos 13 milhões, e se continuar do jeito que está vamos arrecadar 7. Vão faltar os serviços essenciais para a população. (…) A nossa economia foi embora”, destaca Brandão.

O secretário Daniel Hilário enfatiza que atualmente o município é “movido” pela mineração, nesse sentido será que repensar suas fontes de renda, como também ressalta o prefeito.

Brandão destaca a necessidade de diversificar a economia local. “A gente tem que investir muito no turismo aqui, montar um distrito industrial no município, e outras alternativas”.

Em nota divulgada hoje, a Vale informa que criou um Comitê de Ajuda Humanitária, com assistentes sociais e psicólogos, para prestar assistência aos atingidos. Na semana passada, a mineradora afirmou ter fechado acordo para antecipar os pagamentos de indenizações emergenciais para todas as pessoas, com registro na cidade de Brumadinho até a data do rompimento da Barragem. E anunciou o pagamento de 2/3 dos salários de empregados falecidos até acordo definitivo de indenização.

Recuperação

Segundo o secretário do meio ambiente, o primeiro posicionamento do estado e do município são as buscas pelas vítimas, pois há 131 desaparecidos. “O empenho dos bombeiros nas buscas continua e não há previsão de término. É um trabalho muito cauteloso, difícil. A cada dia que passa, a lama seca e dificulta mais, com isso já foi preciso entrar com máquinas na área. Mas o Corpo de Bombeiros não estipulou prazo e pretende ficar mais um tempo à procura das vítimas”.

Contudo, o secretário comenta que o município e o estado já estão pensando também em recuperação.

“O Estado está fazendo um estudo, junto com a secretaria do meio ambiente de Brumadinho. É um estudo muito técnico, complexo, a área atingida é muito grande, e, assim que estiver concluído, iremos apresentar para a Vale, para ela fazer”.

Fé do povo mineiro

O arcebispo destaca que a fé está nas raízes da cultura mineira e brilha ainda mais forte nestes momentos de escuridão. “Muitas pessoas de nossas comunidades, que perderam amigos e familiares, ainda encontraram forças para amparar quem estava mais fragilizado. Um autêntico e verdadeiro testemunho de fé”.

Para Dom Walmor, a Igreja tem sido um pilar para as famílias se reerguerem. “A Igreja, à luz do Evangelho, mostra que o sofrimento extremo, a exemplo do está sendo vivido por todos que perderam parentes e amigos, é muito difícil de ser superado, mas não pode significar o fim.  Jesus, que é filho de Deus, foi caluniado, humilhado, torturado e morto na Cruz. Mas não desistiu ou perdeu a fé.Ressuscitou, indicando-nos o caminho da perseverança”.

Ele afirma que a Igreja tem alimentado no coração dos que sofrem, a esperança dos que creem em Jesus, para que continuem a caminhar e, se reerguendo, possam também ajudar a “construir uma Minas Gerais diferente”.

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