OUTUBRO ROSA

Prevenir ainda é a melhor estratégia contra o câncer de mama

Neste ano, são esperados mais de 66 mil casos novos de câncer de mama no Brasil 

Thiago Coutinho
Da redação

Quando descoberto no início, as chances de cura do câncer de mama são grandes / Foto: marijana1 por Pixabay

Assim como quaisquer outros tipos de câncer, o câncer de mama também é preocupante. Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam que, somente em 2020, são esperados mais de 66 mil casos no país — quadro agravado por conta da pandemia causada pelo novo coronavírus. Esta é a má notícia. A boa é que ele tem cura, especialmente quando descoberto em seus estágios iniciais.

No Brasil, o câncer de mama corresponde a 29% dos casos de câncer nas mulheres, ao lado dos cânceres de pele não melanoma. “O câncer de mama, quando tratado e diagnosticado precocemente, na maioria das vezes é curável. O diagnóstico e o tratamento tardio são fatores que contribuem para o aumento das taxas de mortalidade por essa doença”, explica o oncologista clínico Alexandre Boukai, oncologista do Grupo Oncoclínicas.

Cuidados constantes

A atenção à saúde das mamas deve ser constante. Mas é a partir dos 40 anos que a atenção deve ser redobrada — especialmente para aquelas que já possuem algum caso da doença na família. “É importante consultar o ginecologista e discutir sobre o exame de rastreio do câncer de mama (a mamografia)”, detalha Boukai.

Os fatores de risco que podem causar a doença são muitos: obesidade, tabagismo, etilismo e outros fatores como história familiar de câncer de mama, nuliparidade (não ter filhos), uso de terapia de reposição hormonal por tempo prolongado. “Mas é importante também mencionar os fatores comportamentais que podem reduzir o risco de câncer de mama, como, por exemplo, a amamentação e a atividade física regular”, reitera o oncologista.

Tratamento

Atualmente, a medicina oferece dois tipos de tratamento cirúrgicos para quem é diagnosticado com câncer de mama: a mastetcomia, que é a retirada cirúrgica de todo o tecido mamário, e a cirurgia conservadora da mama, por meio da qual não é necessário retirar todo o tecido mamário, apenas a região da mama que está acometida pela doença.

O tratamento vai variar para cada paciente. “Algumas pacientes são preferencialmente tratadas com mastectomia seguida de reconstrução de mama e outras por meio da cirurgia conservadora de mama, mas ambos são tratamentos cirúrgicos eficazes para as pacientes com doença localizada apenas na mama ou linfonodos axilares. De modo geral, o primeiro tratamento após o diagnóstico do câncer de mama é o tratamento cirúrgico, seja a mastectomia ou a cirurgia conservadora da mama. A mastectomia é um tratamento que deve ser realizado após avaliação da equipe médica, junto à paciente, principalmente nos casos em que a cirurgia conservadora não é possível”, detalha o oncologista.

Maria Cristina de Souza Trevizan, 62, descobriu a doença enquanto fazia exames de rotina. “Descobri o câncer por uma mamografia e ultrassom”, lembra. “Mas o meu caso foi hereditário, pois o meu pai faleceu de câncer de mama. Superei a doença fazendo 26 sessões de quimioterapia, mas graças a Deus e Nossa Senhora, hoje estou bem, e sigo com meus exames de rotina”.

Embora tenha passado por um processo de mastectomia, quatro anos depois da cirurgia, em agosto de 2015, Maria fez a reconstrução da mama atingida pelo câncer.

Vida saudável

É consenso entre a comunidade médica que as atividades físicas e um estilo de vida saudável são imprescindíveis para dificultar o surgimento do câncer de mama. “São itens extremamente importantes e devem ser considerados como parte integrante do tratamento”, reforça Boukai. “Alguns estudos mostram que a obesidade ao diagnóstico do câncer de mama e o ganho de peso após o diagnóstico ou tratamento são fatores que podem aumentar o risco de recidiva da doença”.

Além do mais, levar uma vida saudável implica, inclusive, que outras doenças possam não acometer a saúde da mulher. “A atividade física e uma alimentação balanceada, além de serem fatores importantes para o controle do peso corporal, contribuem para a saúde das mulheres de maneira global (redução do risco de diabetes e eventos cardiovasculares, por exemplo)”, ressalta o médico oncologista.

Segundo estimativas divulgadas pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), mulheres que adotam comportamentos protetores (como seguir alimentação saudável, praticar atividades físicas regularmente, manter o peso e evitar bebidas alcoólicas) são capazes de evitar em 28% todos os casos da doença.

O câncer de mama e a pandemia

A chegada da pandemia causada pelo novo coronavírus trouxe várias dificuldades e isso se refletiu também na área da saúde. Segundo a Fundação do Câncer, houve uma queda de 84% no número de mamografias feitas no país durante a pandemia quando comparado com o mesmo período do ano passado.

“A drástica redução do número de mamografias durante este período de pandemia do coronavírus deve acarretar, infelizmente, um atraso no diagnóstico do câncer de mama em boa parte de nossa população e sabemos que o diagnóstico tardio é um dos principais fatores que contribuem para menor chance de cura e maior mortalidade do câncer de mama”, lamenta o oncologista.

É bom lembrar, porém, que seguindo todos os protocolos de higiene, os exames para detectar o câncer de mama são seguros. “Nós, profissionais de saúde, governo e sociedade civil, temos o dever de manter e estimular o acesso ao diagnóstico precoce do câncer de mama, mesmo neste momento de pandemia, com informação às mulheres e viabilizando o acesso ao diagnóstico e tratamento de forma segura. No que diz respeito ao contágio pelo novo coronavírus, [o exame] é seguro, desde que sejam seguidas as normas básicas de higiene e segurança”, finaliza.

Fé e superação

Rita de Cássia Pereira, aos 33 anos, com um filho recém-nascido, descobriu um câncer nos seios. “Que caroço esquisito, deve ser resquício de leite”, lembra Rita enquanto apalpava sua mama. Foi à ginecologista, que a princípio acreditou não ser nada demais. Por precaução, porém, pediu um ultrassom e os demais exames. “E já no ultrassom, o médico me disse que era um câncer”.

Após sete meses, descoberto o câncer, ela teve que passar por uma mastectomia radical e retirou a mama esquerda. “Tinha um casamento jovem, um bebê e passei por isso. Fiz quimioterapia, passei por todo este processo desgastante e sobrevivi. Bola para frente, vida que segue”, lembra-se.

Meses depois, para surpresa de Rita e sua família, outro câncer foi descoberto, desta vez na mama direita. “Aí a coisa foi pior do que a primeira, pois era algo quase impossível de se acontecer. Eu havia tomado uma carga pesada de drogas para que meu organismo fosse protegido”. O médico de Rita, então, pediu para que fosse a São Paulo procurar um médico que fosse também pesquisador. Após a retirada das duas mamas, o médico descobriu que o câncer que atingira novamente Rita era raro, sem quaisquer precedentes na medicina contemporânea.

Rita voltou à quimioterapia. “Outra jornada”, recorda. “Com muito medo, porque desta vez ninguém sabia o que aconteceria. Não havia medicamentos disponíveis, era o que eu tinha para aquele momento. Além de todos os efeitos que a quimioterapia causa, eu ainda tive que lidar com arritmia cardíaca e o fato de o seguro se recusar a pagar pelo novo tratamento”. A cabeça de Rita estava a mil por hora: havia despesas, o medo da morte, o filho pequeno. “Nada veio em doses homeopáticas”, relembra.

O câncer na família de Rita é uma constante: a avó teve, o pai teve e, enfim, ela. Com muita fé e força, Rita sobreviveu ao câncer. “Eu tinha um filho bebê que sequer podia pegar no colo quando fiz a cirurgia. Mas minha família, meu marido, minha mãe, todos me ajudaram. Eu não me permitia muito ter dó de mim mesma. O segredo é ter coragem, fé e enfrentar o problema de frente”, aconselha.

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