Série especial

Pai afirma que é possível criar filhos com pouco dinheiro

Contra a tendência atual, pai de família afirma que é possível criar os filhos com pouco dinheiro, mas com dignidade

André Cunha
Da redação

Nos últimos dez anos, o número de filhos por família no Brasil caiu 10,7%, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, divulgados em março deste ano.

A informação é preocupante, pois além de refletir algo que acontece em todo mundo, expressa um fechamento à vida por parte de algumas famílias.

A questão econômica pode ser um dos fatores que influenciaram na queda no número de filhos. Diante disso cabe um questionamento: será que o dinheiro ultrapassou a importância dos filhos, da vida, das relações? O dom da vida na família é inferior às questões econômicas?

Este é o assunto da terceira reportagem da série especial sobre a família, no contexto do Encontro Mundial das Famílias que começa no próximo dia 22, nos Estados Unidos.

Acesse as outras matérias da série:
.: Saiba como equilibrar a família, financeira e emocionalmente
.: Entenda o papel social da família no oriente e no ocidente

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Paulo Jacobina / Foto: Arquivo pessoal

O pai de família e membro da Comissão de Bioética na Arquidiocese de Brasília (DF), Paulo Jacobina, afirma que os problemas financeiros não devem impedir a geração de filhos na família, considerando que a questão econômica não é de natureza essencial, mas acidental, ou seja, passageira.

Segundo ele, é preciso que todo pai de família tenha prudência no que faz, mas  sobretudo deve pensar na vocação familiar, que não se determina pela questão econômica, mas por um chamado, por uma vocação de Deus.

Providência Divina na família

Paulo explica que Deus sempre dá o necessário, mas não o supérfluo. A questão é que essa notícias pode incomodar algumas pessoas, que estão acostumadas com o luxo e as sobras.

“A gente vive uma cultura que não sabe mais diferenciar o supérfluo do necessário. Isso tem sido um grande obstáculo para que as famílias aceitem com amor os filhos que Deus manda. A gente quer, faz planos ou exige da vida, para os nossos filhos, muito mais do que é o necessário.”

“Nós estamos sempre buscando o supérfluo, o conforto, ou que nosso filho seja educado numa escola caríssima, que tenha acesso aos melhores brinquedos ou videogames. De fato, para esse tipo de ambição a providência não chega, mas para as necessidades, para aquilo que é o necessário ao bom cristão, com certeza a providência não deixa faltar. Mas, é claro, dentro de uma vida de oração, de prudência e de obediência à vontade de Deus”, completou.

Paulo Jacobina, que é casado e pai de três filhos adolescentes, destaca a estrutura familiar como o fator mais importante para garantir a dignidade aos filhos, superando inclusive a questão financeira. “É um pai que ama uma mãe, uma mãe que ama um pai, e que mesmo diante da maior dificuldade, os filhos podem olhar e dizer: meu pai e minha mãe são o esteio desse lar”.

“Eu seria capaz de dizer, que se alguém tivesse coragem de fazer uma pesquisa hoje sobre qual o fator que mais atrapalha a estrutura de uma criança, com certeza, o resultado seria a desestruturação de uma família”, afirmou.

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Paulo, a esposa e os três filhos / Foto: Arquivo pessoal

Prudência com a providência

Para Jacobina, a prudência é a característica essencial para um casal que quer se abrir ao dom dos filhos e construir uma família sólida, equilibrada, inclusive nos momentos de crise financeira. Ele acredita que é possível ter uma “santa ambição”, ou seja, sonhar, querer coisas boas, bens materiais, mas não fazer disso o “fim da vida”.

“Às vezes, e eu digo isso da minha experiência familiar, aquelas férias em que faltou o dinheirinho pra gente viajar, e que tivemos que ficar em casa porque a matrícula do menino ficou um pouco mais cara, porque houve uma despesa extraordinária, enfim, acabaram sendo muito ricas pra gente. Convivemos com a família, acabamos atuando mais na paróquia, consolidando amizades que a gente nunca tinha tempo para consolidar.”

E concluiu: “Às vezes, aquele sonho é muito importante, mas ele acaba tirando da gente a possibilidade de viver uma realidade muito mais rica do que pensamos”.

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