Doutrina Social da Igreja

Padre comenta vida em sociedade à luz da doutrina social

A pessoa é um ser social. Na segunda reportagem da série sobre Doutrina Social da Igreja, o assunto em pauta é a sociabilidade da pessoa humana. A Igreja, através da doutrina, tem uma palavra a dizer sobre a vida em sociedade.
 
Doutor em Educação, Teologia e Espiritualidade, padre João Carlos Almeida, o padre Joãozinho, scj, desmistifica a visão de muitos de que as igrejas deveriam ficar na dimensão da prece, sem discorrer sobre questões sociais.  
 
“Quem entendeu a dimensão do céu procura transfigurar as coisas da terra (…) Não se pode simplesmente separar a alma para o cuidado das religiões e a sociedade que cuide do corpo. A religião se ocupa de saúde e de salvação, do cuidado desta unidade integral que é a pessoa humana”.

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.: Íntegra da entrevista com padre Joãozinho

Entendendo, então, a preocupação da Igreja com o ser humano, um dos princípios da Doutrina Social da Igreja é o da sociabilidade humana. Sobre esse princípio, padre Joãozinho reflete que a humanidade é constituída de relações solidárias. “A solidão nos asfixia e nos rouba a identidade original. A santidade é este ‘instinto de comunhão’ que nos provoca a ser-para-o-outro”.
 
Equilíbrio social
 
Buscando o estabelecimento de boas relações sociais e a contribuição ao respeito mútuo, a doutrina traz alguns princípios básicos. Para padre Joãozinho, a dignidade humana é o fundamento principal.
 
O sacerdote explica que a humanidade já cresceu tendo enraizado em si esse princípio, que é um direito inviolável, inalienável e sagrado. “Na base desta dignidade, está o direito à vida. A Doutrina Social da Igreja apresenta os fundamentos para que a Igreja defenda com todas as suas forças a vida da sua concepção ao seu fim natural. Desta raiz, brotam outros princípios básicos: o bem comum, a subsidiariedade e a solidariedade”.
 
O bem comum, segundo explica o padre, é uma responsabilidade de todos. E a partir dele, vem a questão da destinação universal dos bens, que entende que o acúmulo de riqueza privada só tem sentido se for utilizado em vista da função social do capital.
 
"Se for apenas para manter interesses mesquinhos, ela provoca empobrecimento e morte. Portanto, a doutrina reconhece o direito humano à propriedade privada, desde que submetida à destinação universal dos bens. Isto significa que a propriedade privada não é um fim em si, mas apenas um meio", explica.
 
Outra questão contemplada pela doutrina é a subsidiariedade. A lógica desse princípio é que, sendo a sociedade um corpo, cada um subsidia a fragilidade do outro. “Temos o dever de completar com nosso auxílio o que a fraqueza do irmão não permite que ele faça por si".
 
Convívio social e participação
 
Com todos esses princípios, a Doutrina Social da Igreja dá destaque para a vida em comunidade, considerando-a uma característica natural do homem. Porém, na lógica da vida moderna aparece o individualismo, o que acaba ferindo esse princípio solidário. Nesse contexto, padre Joãozinho cita um paradoxo da modernidade – a internet – que ao mesmo tempo em que une, separa.
 
“A Internet tornou possível as Redes Sociais. Apesar disso, vemos aquele casal sair para jantar e ficar o tempo todo digitando em seus celulares enquanto os filhos param de pedir atenção aos pais, bajulados não mais pelo bico, mas pelo tablet. Na contramão desta tendência, a doutrina mostra que é preciso favorecer núcleos de comunhão e partilha”.
 
Como um desses núcleos, o sacerdote cita a família, lugar onde se aprende a viver em sociedade. Além dela, ele elencou o mundo do trabalho e da educação, o universo da política e das organizações sociais.
 
Em todos esses âmbitos, cada ser está envolvido, uma vez que é parte da sociedade. Isso desperta o questionamento sobre a participação, que também está prevista na doutrina da igreja. Segundo padre Joãozinho, é legítimo que a pessoa reivindique seus direitos. Ele diz que a doutrina reconhece, por exemplo, o direito do trabalhador fazer greve quando esta é um recurso inevitável.
 
"Afirma-se a legitimidade da pressão exercida por meios pacíficos sobre empregadores, Estado e opinião pública. Porém, torna-se ‘moralmente inaceitável quando é acompanhada de violências ou ainda quando se lhe atribuem objetivos não diretamente ligados às condições de trabalho ou contrários ao bem comum'".

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